O comentário que virou post

Ricardo Reis
Enviado em 20/08/2010 às 11:30

Caro Joaquim,

Primeiramente quero justificar o fato de usar o anonimato para me comunicar contigo. Faço isso por exercer função que impede de me manifestar em alguns casos e como não quero ser mal interpretado, subtraio a minha pessoa em favor do assunto que acredito ser da mais alta relevância.

Mesmo não sendo teu eleitor, sou teu leitor há muitos anos. Mesmo não sendo teu amigo, não conviva contigo constantemente, te admiro como pessoa, como cidadão e até como político, mesmo não concordando com tua posição partidária e ideológica.

Dentro de teu grupo político, tu te sobressais como sendo claramente o mais preparado, o mais confiável e talvez o único com quem uma pessoa como eu possa sentar a uma mesa de bar para conversar.

Conheço a tua trajetória, desde o começo, quando ainda muito jovem te elegeste a primeira vez deputado. Te elegeste não bem a conjugação mais verdadeira para esse verbo, a mais verdadeira seria, “teu pai te elegeu pela primeira vez deputado”. Diria até que em tua segunda eleição também foi teu pai quem te elegeu, mas não veja aqui nenhuma critica ferina ou mortal, faço isso só para te demonstrar que conheço tua historia, e quero que saibas que em minha opinião o fato de teres sido eleito com a decisiva ajuda de teu pai, em nada comprometeu teu desempenho ou tua postura. Lembro inclusive do episodio da eleição dos delegados ao colégio eleitoral que escolheria o último presidente da republica, eleito daquela forma, em que tu não te alinhaste com o teu grupo, ficando ao lado de teu pai que tinha compromisso com o então candidato Paulo Maluf. Digo isso e me pergunto, quem estava errado éramos nós que queríamos Tancredo Neves ou você, que mesmo querendo Tancredo, teve a coragem de sufocar a sua vontade e honrar o compromisso de seu pai, seu mentor político? Sei que tu já falaste muitas vezes sobre esse fato que acredito ser seu Genesis pessoal na política e sei também que seus amigos e correligionários nunca te perdoaram por agir daquela forma, pois eles sempre cobram obediência total e cega, subserviência da pior espécie.

Acredito que tu sejas o único e último remanescente de uma época em que os filhos sucediam aos pais na política por afinidade com os afazeres daquele. Não se pode dizer isso de Sarney Filho e muito menos de Roseana. O primeiro não aguentou a comparação e a segunda para fugir dela, hora renuncia ao sobrenome, hora tenta soterrar a imagem do pai, que mesmo comprometida, estará gravada para sempre em nossa historia como um paradigma da modernidade, que é um parâmetro mutável e cíclico, por um lado, e do status quo, que na mesma perspectiva deve ser analisado. Pode-se dizer tudo sobre Sarney, menos que ele não tenha sido importante e decisivo em nossa história, tanto a maranhense quanto a brasileira.

Outros como tu não sobreviveram, como é o caso de Alexandre Junior e Marco Antonio Vieira da Silva, cuja trajetória foi curta. Enquanto outros como Albérico Filho e Ricardo Murad, mesmo não sendo filhos de personagens expressivas da política, se filiaram a uma corrente que enquanto mãe, bem ou mal, os vem sustentando, mesmo que Ricardo tenha durante uns dez anos, se sentido preterido se rebelou contra a mãe, agora voltando ao seio materno, na mais profunda concepção da expressão.

Não se pode dizer que Edinho Lobão é ou será um dia sucessor de seu pai, enquanto a Gardênia não é de modo algum sucessora de Castelo. O mesmo se pode dizer dos filhos do Braide, do Lima, do Fufuca, dos genros da governadora Roseana e da desembargadora Nelma, e até mesmo dos já deputados Rubens Junior e Vitor Mendes, também filhos de políticos influentes.

A mesma lógica não se deve aplicar a Roberto Rocha e a Flavio Dino, pois mesmo sendo filhos de políticos importantes, fizeram suas trajetórias independentemente da de seus pais.

Conheço não só tua história política, mas também tua historia como escritor. Lembro que também, muito jovem, tu servia de ponto de intersecção e união de um grupo de poetas e escritores que criaram uma revista chamada “Guarnicê” e que durante muitos anos foi uma espécie de farol de nossa cultura, já tão enfraquecida.

Digo tudo isso para fazer-te uma pergunta que imagino que muitas outras pessoas já te fizeram, mas a que eu ainda não vi nenhuma resposta clara e convincente: Porque tu não te candidataste a deputado nessas eleições? O que pode ter acontecido para interromperes uma carreira política de sucesso eleitoral, de respaldo e respeito enquanto parlamentar atuante e competente?

Continuarei visitando o seu blog pra ler deliciosas peças literárias como essa e espero encontrar por aqui a resposta para minha indagação que acredito ser a de muitos.

RESPOSTA:

Caro Ricardo Reis,

Primeiramente gostaria de agradecer-lhe as boas referências à minha pessoa e ao meu trabalho, tanto na política quanto na literatura. Depois, quero dizer-lhe que em muitas coisas concordamos, noutras nem tanto. Mas o cerne da questão não é nossa posição política ou ideológica, e sim a pergunta que você faz ao final desse seu texto, onde deixa transparecer todo seu conhecimento, sua inteligência, sua cultura, sua formação e seu elevado grau de informação, coisas raras de se encontrar em uma só pessoa nos dias de hoje.

Quero lhe dizer que o anonimato não me incomoda, o que me incomoda é o anonimato desrespeitoso, alguém que se esconde para agredir, para atacar, o que me incomoda é a covardia. O anonimato elegante, mesmo que discordante, e ainda mais usando o mesmo nome adotado pelo grande poeta Fernando Pessoa, o que mostra o seu conhecimento até nesse âmbito, não me desagrada.

Não vou argumentar nem contra nem a favor de nenhuma de suas observações, vou me ater em tentar responder sua pergunta, tarefa que não é difícil, mas reconheço que é um tanto complicada e de certa forma um pouco delicada.

Você me pergunta o porquê de eu não me candidatar para uma das quarenta e duas vagas de deputado estadual de nossa Assembléia Legislativa.

Eu lhe respondo que não há um só por que. São vários os motivos que me levaram a tomar a decisão de não me candidatar a deputado nessas eleições, e ainda hoje, quando eu menos espero, aparecem outros destes motivos, saídos do nada, ou melhor, saídos do dia a dia da política mesmo.

Quero primeiramente deixar claro que quando resolvi que não me candidataria, contava com algo em torno de 40.000 votos o que seria suficiente para me eleger, logo o fato de não me candidatar nada tem haver com o fato de não me eleger como algumas pessoas já disseram por ai.

Poderia começar dizendo que depois de vinte e oito anos na atividade política, chega um momento em que a gente se cansa e que é preciso “descansar”, mudar de ritmo, de freqüência. A atividade política nisso é igual a todas as outras atividades humanas. Quando você exerce muito uma função, de tempos em tempos, tem que desintoxicar, relaxar, mudar para não desenvolver LER, lesão de esforço repetitivo.

Gosto muito de ser deputado, de exercer essa função. Acredito que em todos esses anos eu tenha aprendido a ser um bom parlamentar e também tenha conseguido aprender o oficio da política.

Ser político, ser deputado e ser parlamentar podem ser coisas bem diferentes. Político qualquer um pode ser, resta saber se é um bom ou um mau político. Deputado só pode ser quem se elege para o cargo. Para isso muita coisa tem que ser feita. É uma mão de obra imensa. Para ser um parlamentar tem que ser obrigatoriamente deputado, mas não só isso, tem que ser um tipo especifico de deputado, que exerça o mandato em sua plenitude, que saiba como proceder em cada situação que possa se apresentar, que conheça o funcionamento do parlamento, as normas de convivência, a lógica do exercício da função, que tenha uma postura adequada, que seja presente aos debates, que saiba se expressar corretamente não só no que concerne à língua mãe, mas também em relação à civilidade e à educação. Ser um parlamentar é bem mais que ser um deputado, que por sua vez é bem mais que ser simplesmente um político.

Por tudo isso, é uma temeridade se eleger um político despreparado para ser um deputado, que sendo desqualificado não poderá ser jamais um parlamentar.

Outro motivo pelo qual resolvi que não iria concorrer nessas eleições é para dar chance a outros aprenderem o que passei mais da metade de minha vida praticando.

Não quis me candidatar nessas eleições devido à forma como se desenvolveu a preparação para ela, reflexo direto da realização da eleição de quatro anos atrás, quando o estado foi completamente loteado, onde políticos, deputados, que foram durante toda a vida de um lado se bandearam para o outro por motivo vil. Preparação que teve como ponto culminante a cooptação de correligionários seduzidos por vantagens políticas irrecusáveis.

Não quis me candidatar porque em toda eleição se gasta dinheiro. Em qualquer uma delas há gastos com carros de som, combustível, motoristas, material gráfico, plotagem de veículos, panfletagem, bandeiraços, comitês, deslocamentos, viagens, reuniões, comícios… Esses gastos neste ano irão ultrapassar todas as estimativas e eu não estava disposto a depois de tanto tempo sendo um político operante, um deputado atuante e um parlamentar dedicado, voltar à bacia das almas e fazer coisas que não mais estão em minha agenda, coisas que até já fiz, mas que não admito jamais fazer novamente, como aceitar ser pressionado a um ponto extremo que me sentisse incomodado e constrangido.

Participar de uma eleição regida por uma lei eleitoral capenga e mal feita, feita apenas para parecer politicamente correta, causa a insegurança jurídica que está transformando essas eleições no paraíso dos advogados. Essas não são eleições de eleitores nem de votos. Essas eleições serão conhecidas como as eleições dos processos, dos recursos, das liminares, a eleição do sistema judiciário eleitoral, o verdadeiro samba do crioulo doido. Quando a lei de ficha limpa estiver realmente em vigor, talvez quem sabe eu volte a ser candidato novamente.

Veja bem, eu nunca desligo os meus telefones celulares, atendo todo aquele que me procura, seja ao telefone ou pessoalmente. Digo o número de meus telefones em cima dos palanques, nos comícios. Não registro o número de ninguém em minha agenda para que não seja possível saber quem está ligando, assim sendo atendo a todos e quando por algum motivo não posso atender, retorno em seguida a ligação. Procuro tratar a todos com respeito e consideração. Tento agir de forma correta, jamais mentir, mas existem pessoas que não admitem os que agem assim. Existem pessoas que querem que nós mintamos para elas. Estas pessoas insistem em alguns pleitos impossíveis de realizar e não aceitam ouvir a verdade como resposta. Eu não me candidatei porque não aguentaria mais ter que conviver com esse tipo de gente, não mais me submeteria a ter que distorcer a verdade para agradar alguém que tem a esperança de conseguir um emprego, um cargo de chefia, uma gratificação ou mesmo uma transferência ou uma disposição.

Meus ombros e meus antebraços não aceitariam mais serem cutucados por alguns meninos e muitos bêbados que invariavelmente se aproximam de nós pedindo um trocado ou para um lanche no caso dos primeiros ou para uma cervejinha no caso dos outros. Mas o fato de não ser candidato mudou pouco essa situação, acontece que agora não preciso mais ficar constrangido com isso, continuo dizendo não, mas só que aliviado, leve, sem um estranho sentimento de culpa e de vergonha, pois parecia que para votarem em mim precisava que lhes fornecesse um lanche ou uma talagada de cachaça.

Não mais quis me candidatar por que quero nos próximos anos estar do outro lado do balcão, engrossando as fileiras dos cidadãos, aqueles que são os verdadeiros responsáveis pela sociedade que os políticos dirigem. Fortalecer a cidadania, o empresariado, as entidades sociais, terá reflexo direto na melhoria de nossa classe política, que em primeira analise é reflexo de nossa sociedade.

Acredito que depois de todo esse tempo tendo exercido mandato parlamentar, possa aqui de fora ser uma voz atuante e crítica em defesa do bom parlamento.

Não quis me candidatar porque não aguentava mais ouvir que político é tudo igual, que todos são safados, mentirosos, ladrões. Essa fama não é falsa. Existem realmente muitos políticos que são tudo isso mesmo, mas existem aqueles que não o são.

Caramba, já enumerei muitos porquês não quis me candidatar e ainda me lembro de um novo a cada instante.

Já chega amigo Ricardo, espero que você tenha entendido os motivos que me fizeram não me candidatar esse ano a deputado, contudo quero dizer-lhe que não vou abandonar a política, essa é uma condição inerente à minha pessoa, tanto quanto à condição de escritor.

Participe sempre com seus comentários, é um prazer escrever para pessoas como você.

Abraço,

Joaquim Haickel

A vida imita a vida

“… O que não faz o amor, nem o ódio faz”. (Alexandre Dumas Filho – A Dama das Camélias)

Numa interessante conversa com alguns amigos queridos sobre as idiossincrasias com as quais convivemos diariamente e nem sequer nos damos conta, veio à baila ocaso de pessoas que foram muito ligadas, amigos inseparáveis, verdadeiros irmãos, e depois se distanciaram, romperam relações por motivos torpes e supérfluos.

A partir do próximo parágrafo vou contar o que sei sobre uma história assim. O que sei pode não ser toda a verdade, pois verdade é coisa que não cabe em uma só narrativa. Mas previno desde logo que às vezes, tanto as verdades quanto as mentiras são construídas com um pouco de arte, esculpidas com dotes literários que eu sempre quis ter, dotes que tenho perseguido desde que resolvi me dedicar ao ofício de escrever.

Havia em Boston, nos anos 50, um talentoso e bem afamado, jornalista e crítico de arte. Egresso das boas escolas católicas, como não poderia deixar de ser, tendo ele nascido em Massachusetts e pertencendo a uma família de origem irlandesa, tinha duas alternativas na vida, ingressar no seminário e ser padre ou servir na força pública, ser policial. Optou por uma terceira via. “Sempre fez isso na vida”, comentavam maldosamente, a boca miúda, alguns de seus desafetos. Mas ele era realmente competente no que fazia. Tido por todos como impiedoso e cruel e gostava dessa fama, chegava mesmo a cultivá-la com dedicação e esmero.

Ele há muito, resolvera ignorar completamente um determinado escritor, um antigo e bom amigo seu, daqueles a quem recorria sempre que precisasse, fosse para pedir-lhe emprestado algum dinheiro, (mesmo que sempre se esquecesse de pagar) fosse para um simples desabafo. Às vezes era apenas para uma conversa fiada, num daqueles dias entediantes de sua vida solitária, onde sua companheira constante era tão somente a boa e velha garrafa de scoth. O tal crítico, no entanto, ignorava seu amigo por achá-lo um escritor menor, um daqueles filhinhos de papai sem nenhuma relevância no cenário da efervescente sociedade literária bostoniana, no que antecedeu a New Camelot de John e Jack. Tanto isso era verdade que nem se dava ao trabalho de lê-lo.

Naqueles tempos mais valia no cenário cultural quem saísse em sua coluna, incrustada no mais importante jornal da cidade que logo ditaria a moda na literatura, nas artes plásticas, na música e principalmente na política americana e mundial.

Um dia, o escritor indignado por algumas atitudes deselegantes e descorteses do crítico para com outras pessoas, amigas comuns, escreve um pequeno texto, onde traça o perfil claramente Lombrosiano do cruel analista, sem sequer nomeá-lo. Mesmo assim, vestindo a carapuça, o crítico enlouquece de ódio quando se vê claramente retratado, de forma tão talentosa e eficaz, vendo expostas suas vísceras, reconhecendo e provando ali toda sua bile, que naquele momento amargava-lhe a consciência.

A partir daquele dia, a amizade entre os dois esfriou. Mas em compensação o tal crítico descobriu que aquele seu amigo, ao qual ele não dava o valor devido, não poderia ser ignorado, muito pelo contrário, ele passou a lê-lo com assiduidade e respeito, dando-lhe o devido valor. Dedicou a ele boa parte de seu tempo e de seu veneno, mesmo que, ainda assim, impedido por sua arrogância e por seu egocentrismo, jamais tenha reconhecido os méritos do escritor, publicamente. Certa vez, escreveu inclusive um texto onde ofendia covardemente o pai já falecido do escritor.

Anos depois, quando da morte do jornalista, isolado e abandonado por todos, já que jamais construiu verdadeiras amizades, poucos compareceram ao seu enterro, entre eles estava o tal escritor que um dia havia sido seu amigo e que havia se tornado um dos mais importantes romancistas de seu tempo.

Essa é parte que sei da tumultuada história da amizade entre Ruppert Karry e Gore Vidal, esse, amigo intimo dos Kennedy. Sua história foi exposta na tela no famoso filme, “Sweet smell of success”, cujo título no Brasil foi A Embriaguez do Sucesso, estrelado por Burt Lancaster e Toni Curtis.

Em suas memórias, Vidal conta que no dia do enterro de Karry, compareceu para ver se o ex-amigo estava realmente morto e aproveitou para devolver-lhe as promissórias jamais honradas. Enrolou-as nas hastes das flores de um buque de rosas brancas que surrupiara de um ataúde próximo e depositou-as candidamente sobre o caixão, como sinal derradeiro de perdão e paz.

PS: A citação de a Dama das Camélias de Alexandre Dumas Filho no início deste texto poderia ser a prova definitiva que a vida realmente imita a vida. No entanto a citação é falsa, forjada, mas você irá concordar que é bastante aceitável e plausível. É que a vida imita a vida!

Para confirmar ainda mais a tese do título, todo o resto da história, os fatos e os personagens, com exceção de Gore Vidal, o cenário e tudo mais, inclusive a alusão ao filme, que existe, mas não tem nenhuma ligação com a história, é tudo criação literária, ficção pura e cristalina. Metáfora de personagens reais, mas nem de longe semelhantes. A prova cabal de que vida realmente imita a vida! A arte só tenta imitar.

Chinoca!

Drumont…

Do monte

Arrebitado pelo lapidador.

Nariz.

Macia seda de tecelão.

Mãos.

Come goiaba

Melão

Mamão

e as três ultimas uvinhas…

Safada!

Bebe o oxigênio em volta de mim.

Tira-me o fôlego

O ar

A vida

Lê como se amasse

sofregamente

avidamente.

A vida mente.

Queria ser gota

orvalho

cair no rosto

escorrer rumo ao busto.

Lamber leite e mel.

Descer

Descer.

Um lago

seco.

Descer

descer.

Esbaldar-me no Oasis

quente

úmido.

Paraíso!

montanhas de coxas e braços

por eles quero ser preso.

Voz passiva

compassiva

ativa.

Fogueira que quero queimar e ser queimado.

Sobre cercas velhas

Sempre que posso, visito os blogs de alguns jornalistas amigos meus. Num deles, li a notícia de que o ex-governador Zé Reinaldo Tavares iria comparecer ao lançamento de seu site na internet, um dos mais importantes instrumentos eleitorais nessa campanha política, mas parece que ocorreu algum problema, o que fez com que o candidato a senador se atrasasse em algumas horas.

Depois que o problema foi remediado, a apresentação do site foi feita por um dos filhos de meu amigo, jornalista Luiz Cardoso, que está trabalhando na difícil missão de tentar melhorar a imagem de Tavares, e pela ex-secretária de Comunicação de seu governo, Flávia Regina, atual assessora de imprensa da OAB.

Soube também que o momento que mais chamou à atenção dos presentes, foi quando Zé Reinaldo, depois do enorme atraso, contou uma “estória” ocorrida em Coroatá durante passagem da “onda vermelha pelo município”, como disse numa alusão à coligação liderada pelo candidato comunista Flávio Dino.

Segundo ele, uma senhora teria dito ao socialista que “ninguém quer mais se encostar em parede velha”, se referindo aos velhos políticos e exigindo que o Maranhão agora tem que “renovar a sua classe política”, disse o candidato a senador. Essa conversa é claramente uma alegoria criada por um redator raso para ser usada por um político medíocre.

Achei de uma ironia indizível isso ter sido dito exatamente por Zé Reinaldo Tavares, que em minha opinião, não é nem uma parede velha, mas uma cerca velha, uma das mais velhas e carcomidas de nossa terra.

Veja bem, eu disse velha, não antiga, pois as paredes antigas do casario do centro histórico de São Luis podem até serem velhas, mas elas são importantes, são nossos tesouros, por serem antigas, não por serem mentirosas e hipócritas, se dizendo paredes novas, de alvenaria e concreto, quando são feitas de pedra e argamassa de barro misturada com óleo de peixe e betume.

Algumas vezes eu ouvi de meu pai um ditado apropriado a pessoas inconfiáveis, que dizia mais ou menos assim: “Fulano de tal é como cerca velha, tanto cai quanto derruba quem está encostado”.

Esse ditado, no entanto, não pode ser dito na tentativa de atingir o ex-presidente José Sarney, como tentou Zé Reinaldo, pois foi Sarney quem escorou durante quarenta anos o encostado Tavares, que foi primeiro diretor de obras, depois secretário de estado, depois foi superintendente, administrador de uma importante cidade que praticamente nascia, para em seguida ir administrar os recursos de investimentos de 10 estados brasileiros, saindo de lá para ser o empreendedor de todo o sistema de transporte do Brasil. Depois disso, desempregado, dirigiu as empresas do mentor, para então experimentar um mandato de deputado federal onde teve um desempenho sofrível, após isso veio ser duas vezes vice-governador do Maranhão e posteriormente governador de nosso estado.

Dito tudo isso, fica claro que a insinuada cerca não é velha, ela pode até ser antiga, mas é muito forte e consistente, pois ter que aguentar carregar esse peso todo durante todo esse tempo, só sendo uma parede, não uma cerca, mas uma parede, cujos baldrames são muito sólidos e resistentes.

Que me perdoe o doutor Sarney, mas nessa história toda, o errado é ele mesmo, pois escolheu mal quem carregar consigo, quem escorar, quem se deixar encostar. O errado é ele mesmo por ter dado asas para cobra, por ter alojado jabuti em pé de pau fora do tempo de enchente.

Em minha opinião Zé Reinaldo Tavares representa o que há de pior na política. É um traidor, um usurpador e um hipócrita, entre outras coisinhas mais.

Jackson Lago se dissesse o que disse Reinaldo, estaria menos errado, pois em que pese estar na política a tempo suficiente para ser chamado de antigo nela, não podemos esquecer que foram vinte anos dirigindo os destinos de nossa capital, ele nunca se encostou à parede Sarney, a não ser em sua última eleição para prefeito quando aceitou o apoio da governadora Roseana.

Flávio Dino até poderia ser o autor dessa ilação. Parede nova, robusta, mesmo que construída com alguns materiais de demolição, Flávio foi eleito em 2006 através da escora, do encosto em paredes, das quais se poderiam dizer muitas coisas, menos que elas sejam como cercas velhas, daquelas que caem e derrubam quem nelas se encostam.

Flávio poderia até usar esse discurso, mas Zé Reinaldo não, pois foi nessa cerca, nessa parede que hoje ele picha e apedreja que ele fundou e alicerçou toda sua vida.

Zé Reinaldo está tentando construir sua parede lançando mão de uma tecnologia que imagina ser de última geração, usando tijolos feitos com esterco e capim sobre uma base de areia.

A tentativa de Zé Reinaldo querer se apresentar como uma cerca nova, uma parede confiável, dessas que a gente pode se encostar com segurança, é fraude, é mentira, é enganação e é desse tipo de político que nós temos que nos livrar.

Geofagia

Planície no lugar de costa
costa no lugar de enseada
enseada no lugar de península
península no lugar de golfo
golfo no lugar de ilha
ilha em seu próprio lugar.

Seios no lugar
ombro no lugar
Venus no lugar.

Fechar os olhos
e dormir
e ver tua geografia
cosmologia
astronomia
astrologia.
Ver tua lógica.

Vale no lugar de costa
Venus em quadratura com Sagitário.
Centauro enclausurado
amarrado.
De corda
as correias de sua sandália grega.

Tirei-lhe-as
Tirei-lhe tudo.
Descalça
Desnuda…

Só braços
mãos
coxas
pernas
ventre…

Todos os montes
colinas
montanhas.

Língua
linguagem
loucura.
Fome de ti.

Como se eleger Deputado.

Semana passada, um amigo me pediu que lhe explicasse detalhadamente como é que acontece uma eleição para deputado, pois ele ficou sabendo da candidatura de uma determinada figura e achou que se o tal podia pensar em se eleger, ele também poderia. Achei a idéia boa e vou tentar falar sobre isso de maneira simples e direta, sendo didático sem querer ser professoral.

Eleger-se deputado não é coisa impossível para ninguém. Tarefa mais difícil é a de tentar explicar como fazer isso em 750 palavras.

Para que alguém se eleja deputado, seja federal ou estadual, basta que para tanto ele siga um conjunto de regras obrigatórias e indispensáveis. É uma equação simples, que se executada com auxílio da fórmula correta, a fórmula 3E, que junta efetividade, eficiência e eficácia, será difícil dá errado.

A primeira coisa que o candidato deve fazer é se filiar em um partido que, segundo as regras das eleições vigentes, possa lhe propiciar uma eleição, digamos, mais plausível e viável.

Para que um partido eleja um deputado, terá que atingir o coeficiente eleitoral, valor que é conseguido dividindo-se o número de votos válidos pela quantidade de vagas oferecidas, 18 no caso de deputado federal e 42 para deputado estadual. Quem entende desse assunto imagina que esses coeficientes em 2010 fiquem entre 70.000 e 75.000 para estadual e 170.000 e 175.000 para federal. Logo o partido ou coligação que não atingir esse patamar mínimo de votos não elegerá nenhum deputado.

O candidato tem que mensurar isso com antecedência de um ano. Tem que saber se seu partido vai se coligar com algum outro e se eles tem em seus quadros candidatos no mesmo nível que o seu, pois caso contrário, será engolido pelos colegas de chapa.

A eleição para deputado (e para vereador também) em última instância é uma festa onde só conseguirão entrar os primeiros da fila. A luta consiste em ser um dos primeiros dessa fila no caso das coligações ou partidos com muitos votos, que elegerão 10 ou 15 deputados ou ser o primeiríssimo no caso dos pequenos que só irão eleger 1 ou quem sabe 2.

Em 1998 me elegi pelo PRP, um pequeno partido que naquela eleição conseguiu eleger 2 parlamentares, um direto, eu, com pouco mais de 13.000 votos, e um na sobra, Maurinete Gralhada, com quase 11.000.

A sobra é a quantidade de votos que excede o coeficiente e que não sendo suficiente para eleger mais um, mesmo assim o faz, pois as sobras tem uma hierarquia. Quem tem mais, elege mais um primeiro, antes que os demais.

Para eleição subseqüente me transferi para o PTB e em seguida, por motivos “partidários”, fui para o PMDB, onde passei a concorrer numa faixa mais alta e onde consecutivamente me elegi em 2002 e 2006 com algo em torno de 23.000 e 33.000 votos respectivamente.

Existem ingredientes indispensáveis para uma eleição vitoriosa de deputado: A pessoa que se propõe a esse intento tem que ser do ramo, saber o que está fazendo e porque está fazendo. Não deve ser um curioso ou um pára-quedista, sob pena de se estatelar no chão.

É indispensável ter dois grupos que o apóie, um acima de si e um abaixo, seus líderes e seus liderados. Não se faz política sem grupo. Precisa-se ter um território, um reduto, uma área de atuação.

De talento pessoal, o candidato precisa no mínimo saber se expressar e se não for bom nisso tem que ter alguém que o faça por ele.

Possuir os pré-requisitos citados até aqui significa ter a metade de uma eleição, porém um todo não é feito de apenas uma metade, mas de duas.

O candidato precisa investir dinheiro nessa empreitada. O mais recomendável é que ele use o seu próprio dinheiro, mas pode também ser dinheiro de um grupo de amigos, de uma entidade ou de uma classe que queira ter um representante no parlamento. O fato é que sem dinheiro ninguém se elege, pois carro de som custa dinheiro, combustível custa dinheiro, cartazes, panfletos e santinhos custam dinheiro, plotagem de veículos custa dinheiro, deslocamentos emergenciais de avião custam dinheiro, comícios custam dinheiro. Nem adianta tentar que não se faz uma eleição sem dinheiro, tanto que para isso, muita gente bem se preparou para as próximas eleições.

E tem mais, quem quiser se eleger e manter o seu mandato, terá que seguir rigorosamente as regras eleitorais. Essa parece que será a missão mais difícil nessas eleições, pois os legisladores originários fizeram uma legislação cheia de furos, o que propicia aos tribunais eleitorais em suas duas instâncias “dirimir” as dúvidas que por acaso se apresentem.

Não está inclusa na formula 3E, mas o texto a seguir é aconselhável a todo aquele que deseja se eleger e a todo aquele que deseja ter sucesso na vida. “Oração de Jabez”: Abençoe-me Senhor! E alargue minhas fronteiras. Que tua mão esteja sobre mim. E me preserve do mal, de modo que não me sobrevenha aflição.

Decepcionado e triste.

Não deveria estar decepcionado, pois nunca me iludi sobre as virtudes de caráter de certas pessoas. Mas mesmo assim estou decepcionado, porque no fundo, bem lá no fundo, nutria uma tênue esperança de que eu estivesse equivocado em meu juízo de valor e pelo menos algumas dessas pessoas, as que tinham tudo para provar que eu estava errado, se salvassem do patíbulo comum da decapitação pública pelo crime de extorsão, pela venalidade.

Saudade de Walter Rodrigues. Todos sabem que ele não era uma figura fácil, mas nunca se soube que ele tenha usado a função de jornalista para extorquir quem quer que fosse. Nunca se soube que ele desfrutasse da intimidade de algum “poderoso” para em seguida cobrar-lhe a conta, verba, mídia para seu jornal, sua coluna ou seu blog. Isso não.

Mas por essas bandas, isso não é novidade que aconteça. Sempre aconteceu! Aqui e em muitos lugares, mas não pensei que pudesse acontecer com quem se diz tão honrado e sério, defensor dos mais altos e nobres sentimentos de justiça, paladino da moralidade e defensor de um jornalismo comprometido com as mais altas causas da sociedade.

Que desperdício de talento. Alguém que já quis ter a alma leve como a de Quintana, que quis trilhar os caminhos das pedras de Drummond. Alguém que amava Rimbaud, que lia Whitman na intenção de absorvê-lo, que tinha Pessoa como régua e compasso, mas que pelo que tudo indica, no final, vai acabar tendo do seu lado apenas um único de seus antigos ídolos: Bukowski e sua garrafa de gin.

Estou triste. Mas a minha maior tristeza é por ver comprovada a sina de algumas pessoas, por ver que não adianta tentar. De pedra não se tira água.

Mas mesmo assim me resta um último consolo, refletido num trecho de um belíssimo poema, muito antigo, mas bem atual e que vale tanto para o pau quanto para o machado.

Tudo tem seu tempo,
há um momento oportuno
para cada empreendimento
debaixo do céu.

Tempo de nascer,
e tempo de morrer;tempo de plantar,
e tempo de colher

Tempo de matar,
e tempo de sarar;
tempo de destruir,
e tempo de construir.

Tempo de chorar,
e tempo de rir;
tempo de gemer,
e tempo de dançar.

Tempo de atirar pedras,
e tempo de ajuntá-las;
tempo de abraçar,
e tempo de se separar.

Tempo de buscar,
e tempo de perder;
tempo de guardar,
e tempo de jogar fora.

Tempo de rasgar,
e tempo de costurar;
tempo de calar,
e tempo de falar.

Tempo de amar,
e tempo de odiar;
tempo de guerra,
e tempo de paz.

…Alargue minhas fronteiras…

Tenho andado assoberbado, como há muito tempo não acontecia.

Não tenho tido tempo nem para escrever, coisa que gosto muito de fazer e de que preciso, tanto quanto comer ou dormir.

Não tinha nada para postar aqui nesse domingo. Não queria falar de política, de candidaturas, de impugnações, nem de futebol, de Seleção Brasileira ou da Argentina. Se bem que não posso deixar de dizer que sinto mais orgulho dos vizinhos uruguaios que dos canarinhos sem graça de Dunga. Esporte de nível é o que apresentou a equipe uruguaia, força, garra, determinação, brio. Coisa bonita de se ver, mesmo perdendo. Comentar sobre Bruno, goleiro do Flamengo, isso nem cogito, da mesma forma que sobre Alessandro Martins.

Pois bem, sem saber o que postar, entrei em meu carro na intenção de ir para minha casa, em busca de algo que valesse a pena. Depois de enfiar a chave na ignição e ligar o motor, ato contínuo, liguei o rádio. O último a dirigi-lo havia deixado o rádio sintonizado na FM 92,3 , onde uma voz feminina disse uma frase que me Salvou: “Faça como Jabez!”. Essa frase resolveu o meu problema. Ela me deu o mote que eu precisava para escrever algo do qual eu pudesse me orgulhar e que não fosse apenas para cumprir tabela.

Meses atrás meu irmão Nagib Filho, que agora é evangélico, me mandou a “Oração de Jabez”. Uma oração simples, mas que resume tudo que se deve pedir a Deus.

O fato é que eu não tenho uma memória muito boa. Em verdade, não tenho uma memória normal, ela é seletiva, às vezes funciona, às vezes não. Não guardo nomes nem datas, mas o sentimento, isso eu não esqueço, isso eu apreendo.

Não conseguia me lembrar da oração e não queria nem podia recorrer ao Google, pois estava dentro do carro. Recorri a minha Jacira, que fez das palavras de Jabez sua oração mais freqüente. Liguei para ela e ela me mandou por SMS.

Abaixo você poderá ler a minha versão dessa que é, em minha opinião, a prece mais simples, bonita e eficaz que há.

“Oração de Jabez”

Abençoe-me Senhor!

E alargue minhas fronteiras.

Que tua mão esteja sobre mim.

E me preserve do mal, de modo que não me sobrevenha aflição.

Aprendizado nas manhãs de domingo

Desde que entrei para a Academia Maranhense de Letras, aos domingos, visito sempre que posso o confrade Jomar Moraes, em sua residência. Lá, costumam ir, entre outros acadêmicos, Lourival Serejo, Mont’Alverne Frota, José Carlos Sousa Silva, Ney Bello Filho, José Joaquim Ramos Filgueiras, Ceres Costa Fernandes, José Ewerton, (este último, apesar de morar quase em frente, sempre chega depois dos demais). Também comparecem com regularidade alguns professores como os dois Alan Kardec, o Pacheco e o Duailibe.

As conversas sempre variam da boa e velha arte, em todas as suas expressões, com prevalência para a literatura, secundada pelo cinema, passam pela política, seja ela municipal, estadual, nacional e internacional, e depois descambam para as amenidades, algumas vezes chegando até nas fofocas das diversas colunas sociais e políticas de nosso arraial.

O Jomingo, como ficou conhecido esse encontro, combina Jomar com domingo e para mim muito tem servido como fonte de aprendizado e prazer, rara oportunidade de conversarmos, lembrarmos fatos marcantes da nossa história, para comentarmos aspectos controversos de determinados acontecimentos e inclusive conhecermos algumas coisas novas.

Os encontros acontecem no paraíso do bibliófilo, sua biblioteca. Uma sala em L cujas paredes são forradas de estantes que comportam duas fileiras de livros. Um desses lugares em que qualquer pessoa que ame esses objetos mágicos, os livros, adora estar.

A impressão que me dá é que Jomar dorme lá. Um dia, discretamente, saí procurando para vê se havia escondido, por detrás de alguma daquelas estantes, um par de armadores de rede, pois não consigo imaginá-lo alojado em outro cômodo daquela casa.

Um domingo desses, depois de colocar os assuntos em dia, observei um dorso de um livro onde estava escrito, “Almanak 1866”, que logo comecei a folhear.

Nele descobri que na São Luis de 1866 havia coisas que hoje, 144 anos depois, não temos mais, coisa que eu e alguns amigos, conterrâneos e patrícios estamos querendo, em parte, resgatar.

Havia aqui naquela época seis representações consulares além de 19 vice-cônsules.

Hoje, que eu saiba, temos apenas uns três vice-consulados.

Quase 150 anos atrás, São Luis, o Maranhão, estava, vamos dizer assim, mais inserido no mapa-múndi que hoje, éramos mais vistos, procurados, importantes. É lógico que 150 anos depois, as necessidades e as exigências, devido aos modernos meios de transporte e comunicação propiciam isso, além da economia que isso possa acarretar, favorecem a não existência de consulados por aqui. Mas não deixa de ser um fato curioso, um século e meio atrás tantos países terem representações diplomáticas em nossa terra enquanto hoje, nós, descendentes de libaneses no Maranhão estarmos pleiteando, já há bastante tempo, um consulado libanês para nossa cidade. Para isso mostramos recentemente aos representantes do governo daquele país que nós somos, excetuando-se os africanos das várias procedências, e depois dos portugueses, a maior colônia de imigrantes estrangeiros no Maranhão. Mas isso é outra história, voltemos ao Jomingo e ao “Almanak 1866”.

Continuei folheando o livro, encadernado em capa dura, e me deparei com a lista das autoridades, entre eles, deputados, senadores e conselheiros. Entre os nomes, havia um que me soava conhecido: Lafayette Rodrigues Pereira, o conselheiro Lafayette, presidente da Província.

Elegi-me deputado pela primeira vez em 1982 e nunca soube que esse moço, nome de rua no Rio de Janeiro e de município em Minas Gerais havia governado o Maranhão. Naquele momento minha mente, como num velho e hoje quase obsoleto vídeo-cassete, rebobinou. Dava até para ouvir aquele ruído peculiar. Levou-me à Grécia antiga, onde vi o velho Sócrates, passeando com seus discípulos pelas alamedas de Atenas, dizendo “o que sei é que nada sei”. Realmente sabemos muito pouco e devemos aproveitar todas essas oportunidades para sabermos um pouco mais.

Depois daquele clic temporal, voltei ao Jomingo e já ouvi Jomar me chamando para ver uma foto do conselheiro Lafayette em um livro sobre dom Pedro II.

Isso é outra coisa incrível, quando quer mostrar alguma coisa em um de seus quase 20 mil livros, Jomar se levanta, vai até uma das estantes, pega um livro e abre na página onde está o assunto que deseja abordar.

Acabei de lembrar de um outro evento de domingo pela manhã que me foi muito engrandecedor. Trinta anos atrás, quando namorava Cristina Tavares, quando ia buscá-la em sua casa, antes de irmos à praia, eu passava por uma espécie de sabatina ou aula com seu pai, Haroldo Tavares, um dos homens mais cultos de nossa terra. Haroldo é responsável por hoje o nosso trânsito não ser ainda mais caótico, pois é dele a obra urbanística que possibilita andarmos de carro em São Luis.

Pois bem, Haroldo nos sentava ao seu lado para assistirmos Concertos para Juventude, um programa de música clássica com o maestro Isaac Karabitchevisky e depois dele, Globo Rural, quando esse programa era instrutivo e informativo e não um catálogo de compras e oportunidades de negócios como é hoje.

Os domingos, dias insípidos, inodoros e incolores, como água, foram e são, ontem e hoje, dias de aprendizado e amadurecimento onde tive e tenho o privilégio de ter mestres como Haroldo Tavares e Jomar Moraes.

Republicando a pedido

ILUSTRE DEPUTADO,

EM SUA RESPOSTA AO DESPREPARADO E MAL INFORMADO PSEUDO JOÃO DO RIO, UMA COISA ME ATRAIU NA LEITURA. NÃO A SUA RESPOSTA ATÉ POR QUE ENTENDO QUE NÃO PRECISARIA, OS DESINFORMADOS E RECALCADOS, SÃO CAPAZES DE QUALQUER COISA PARA SATISFAZEREM SEUS EGOS VAZIOS. POR OUTRO LADO ENTENDO SUA PREOCUPAÇÃO EM RESPONDÊ-LO, POIS É TIPICO DAQUELES QUE PRIMAM PELA VERDADE E PELA MANUTENÇÃO DA SUA HONRA NÃO PERMITIR POR OUTROS O FALSEASMENTO DOS SEUS ATOS E ATITUDES. É PERFEITAMENTE POSSIVEL , SEM BUSCAR AS DEVIDAS PROVAS, IMAGINAR QUE UM HOMEM COMO VOSSA EXCELENCIA COM TANTAS QUALIDADES PESSOAIS E PELOS CARGOS JÁ OCUPADOS, TER NÃO APENAS UM ARTUR DA TAVOLA COMO AMIGO, MAS UMA CENTENA DE OUTROS TÃO IMPORTANTES QUANTO O HORA CITADO. ENTRETANTO SENTIR-ME ATRAIDO QUANDO ARTUR NESTE CONTO CITOU O CONTO “ENGENHO CENTRAL, PINDARÉ”, OBRA ARQUITETONICA E HISTORICA, PELA QUAL SOU PROFUNDAMENTE APAIXONADO, FRUTO DAS MINHAS BATALHAS POLITICAS, NA PESPECTIVA DE VÊ-LO UM DIA TRANSFORMADO EM ESPAÇO CULTURAL E QUE CERTAMENTE VOSSA EXCELENCIA TAMBÉM GOSTARIA. MESMO SEM SER DEPUTADO NA PROXIMA LEGISLATURA, VOSSA EXCELENCIA CONTINUARÁ SENDO UM HOMEM IMPORTANTE. LHE FAÇO UM PEDIDO EM NOME DOS MUNICIPES PIMDAREENSES, FAÇA ALGO PELO ENGENHO NESSE NOVO GOVERNO DE ROSEANA. SOLICITO-LHE AINDA POSTAR EM SEU BLOG OU DIRETO NO MEU E-MAIL ESSE CONTO QUE TRATA DO ENGENHO.

GRATO.

PEDRO DE AMORIM AQUINO-NENEM DO PINDARÉ.

Resposta: O referido conto não trata do Engenho, o prédio, mas da cidade em torno dele, a velha Engenho Central, hoje, Pindaré-Mirim.
Esse conto já foi postado, mas vou recolocá-lo na próxima quarta-feira.
Grato,
JH.

Vou inaugurar uma nova fase de postagem nesse blog. Já que com a mudança editorial do Jornal  O Estado do Maranhão, passei a escrever naquele matutino apenas quinzenalmente, na semana que eu não publicar naquele veículo, publicarei aqui contos, crônicas e poemas publicados em meus livros ou de algum amigo.

Começo hoje com o prefácio que meu querido companheiro de Assembléia Nacional Constituinte, Artur da Távola, fez para meu livro “A Ponte”, editado pela Global Editora em 1991.

Em seguida lhes ofereço um pouco do “Engenho Central, Pindaré”, feito com a inestimável colaboração da maravilhosa memória e da imensa sensibilidade de minha tia Josefina.

FACÚNDIA

Joaquim Haickel é um facundo.  Na vida como na literatura.  Raros escritores são, na arte, o que na vida são.  E sua facúndia existencial estende-se para a literatura. É um célere, um devorador.  Afoito, prefere as pedras preciosas in natura.  Seu afã é descobri-Ias, jamais o paciente ato de as lapidar.  A mistura de velho árabe sábio com garoto levado que lhe marca a tipologia e o temperamento aparece nos contos.  Ora, a surpreendente inversão e economia dos contos “Agenda”, “Ambulante”,” Padre Nosso” e ” Geladeira”, ora o vezo regional de maranhense empedernido dos contos “As Moças do Curralzinho e os Rapazes do Pau Furado” ou o flagrante da Coluna Prestes pelo interior de seu estado, ou ainda o seu intenso e belo conto “Engenho Central, Pindaré”.

Não importa que o facundo Joaquim salte da cidade de Imperatriz, no Maranhão, para qualquer sartreana angústia existencial ou para o erotismo sadio que o atormenta tanto na vida pessoal quanto na literatura. Assim são os facundos: generosos, dispersivos, estróinas do talento. O mesmo Joaquim Haickel que pode ser visto jogando de cortador e saltando alto com seus 110 kg no voleibol ou viajando para aprofundar-se na cultura chinesa, por certo sentado ao lado da mais bonita morena presente no avião; o mesmo Joaquim Haickel que pode ser visto a trabalho sério como deputado federal ou ouvido na estrepitosa gargalhada de que são pródigos os felizes e saudáveis, pode ser encontrado, também, na ternura simples por personagens femininos que inventa e pressente como a comovente ” Clara Cor-de-Rosa’ ou a visão trágipatética de Francimar o menino que era menina por vontade da mãe.

Joaquim Haickel é, pois, um facundo.  Sua literatura imita-lhe a vida.  E sua vida (ah! que alívio) é venturosa.  Sim, enfim, senhores, eis que surgiu alguém naturalmente feliz e que do fundo da alegria de viver é capaz de encontrar a tragicidade, o espanto, a parada sensível.  E assim como atira-se a viver, sem tréguas, lamúrias ou timidez, vai criando e devorando vivências e personagens com apetite invejável.  Invejável, sim.  Nós outros, temerosos, prudentes, ora ficamos com raiva do desperdício à espera de que ele amadureça os temas e trabalhe os textos, o teor das histórias, a sua ideologia e rigor temático, ora ficamos é mesmo com inveja de tanta seiva, riqueza e talento, o que o leva, pródigo mas feliz, ao desperdício de quem nasceu forte, alegre, e concebe a vida como deliciosa aventura e, não, como penosa tarefa a enfrentar.

Artur da Távola

Engenho Central, Pindaré

Sei, por sua mãe, que você é curioso quanto às velhas histórias do Pindaré, berço de seu pai.  E agora que voltei, estou mandando para sua apreciação as reminiscências de um passado.

O que mais me admirou foi o aumento da população, o muito de desconhecidos que tomaram conta da terra, já que nós, os filhos do lugar, processamos em estranhas plagas arriar ferro.

E quedeí-me a pensar naquela manhã em que meu avô, imigrante libanês, chegou num velho gaiola que fazia a carreira do rio Pindaré.  Chegou, descarregou as malas, e ali mesmo, no pátio da fábrica de açúcar – que naquele tempo era a maior riqueza do Maranhão – foi abrindo as malas e vendendo à prestação para os operários, as roupas de carregação e as bugigangas de que se munira no comércio de São Luís.

Era o ano de 1909.  Por esse tempo, o Município de Engenho Central, hoje Pindaré, constava de três ruas, com casas bem distantes umas das outras.  As casas das três ruas foram se aconchegando mais.

Foi ali que nasci e cresci.  Bons tempos aqueles em que todos se conheciam, e a gente sabia tudo um da vida do outro.  Sabia-se, por exemplo, quanto vendera a loja do Dr. Mamede ou o que se almoçava em casa do Dr. Florindo; e, quando os pais surravam os filhos, se ouviam de longe os gritos e a taca comendo no lombo e pernas dos garotos que não obedeciam, respeitavam ou temiam os mais idosos. E os passantes ainda gritavam num apoio irrestrito aos pais que corrigiam os filhos: ‘-‘Bate, que perdida é a que bater no chão”” ‘ Uma execução em regra para crescerem disciplinados e educados.  Assim conversavam entre si os nossos pais.

As mulheres da vida eram poucas, pela manhã os interessados cochichavam com quem dormira a Elpidia e a Florentina.  Bons tempos!  Na venda do Dico Coelho era a reunião diária, à boca da noite, do pessoal de segunda, para um dedo de prosa e um ou outro gole de cachaça.  E quando estava lá o Alexandre, o riso era ouvido com mais freqüência. Ele gostava de contar anedotas e lembro-me ainda de sua mão grossa de vaqueiro espalmada mostrando-me nos dedos o passar dos anos e o murchar do sexo dos homens. Mostrando o polegar, ele dizia, olha vinte, no indicador, olha trinta, no médio, olha quarenta, no anular, olha cinqüenta e, com o mínimo, bem aberto, e apontando para baixo, olha sessenta.Todos ríamos, porque aquela era a verdade que todos esperavam com o passar dos anos.

Na farmácia de Tunico Melo se reunia o pessoal de primeira, e como a família morasse na mesma casa, as moças casadoiras iam até lá e ficavam na sala de visita, enquanto nós, os rapazes, ficávamos na calçada olhando de quando em vez pela janela aberta.

Quando havia alguma festa de aniversário, o chocolate com bolo de roda, broa ou manuê era uma verdadeira delícia!  E era também uma boa ocasião para brincadeira de prendas ou cantoras acompanhadas por violão.

Aos domingos, o terço rezado na capela por “Seu Mano” era um pretexto para os vestidos novos das moças e a pintura no rosto que só nos domingos podiam usar.

Missa só duas vezes por ano: no tempo do Natal e em junho, na festa do padroeiro, com procissão, ladainhas, foguetes, sinos, orquestra (vinda de outra cidade) e tabuleiro de doce.  O luar iluminando o largo da capela e roupa nova para o baile.
Padre Hellíerd era o vigário da região que vinha desde Vitória do Mearim até Boa Vista por esse mundão de matos por povoar.

Certa vez, depois de dizer missa em Plndaré, seguiram viagem para Monção e Boa Vista.  Era costume alguns senhores da região viajarem com o padre de um a outro lugar, todos montados em gordos burros de selas com coloridos coxinilhos, arreios enfeitados de moedas de prata e os pás enfiados em caçambas de bom metal

Pois bem, certa vez seguiram com o padre alguns senhores de Pindaré e, entre eles, Chico Pinto, coronel das terras de Mato-dos-Boís.  Lá pras tantas, já anoitecendo, o guia, contrafeito, avisou ao padre que havia perdido o roteiro. Estavam perdidos na mata.  Casas eram difíceis de encontrar numa região que não as tinha.  Todos ficaram apreensivos, e o padre acabou dando esta opinião: “Já que estamos perdidos, soltemos as rédeas aos animais e deixemos que eles nos levem a algum lugar”

Chico Pinto pulou do burro e, soltando uma palmada na sela, berrou no silêncio da mata: “”Forte miséria, padre”. “O que foi, Chico?” perguntou o padre, alarmado.

– Forte miséria, você passar 11 anos no seminário e hoje deixar-se levar pela cabeça de um burro!

Os gaiolas iam de mês a mês, e a civilização nos chegava atrasada e em conta-gotas.  Líamos jornais com trinta dias de atraso!

E, quando outra noite, um avião perdido nas rotas aéreas roncou nos céus da minha terra, a mulher do Chico Esfola Bode, que há muito vinha traindo o marido, jogou-se aos pés do pobre como e confessou seu erro.  Quando ficou constatado que não era um pedaço do céu que vinha se quebrando, houve tabefes e facadas.

O primeiro rádio chegou!Levado por seu Chibinho Rabelo.  Duvido muito que qualquer outro acontecimento neste vasto País tenha barateando e marcado uma população por quanto nos barateou.  Marcou época porque, por mais de cinco anos, foi o único rádio do lugar.  E nesses cinco anos a gente contava as coisas e dizia: foi antes do rádio chegar, foi no ano que o rádio chegou, foi depois Je chegada do rádio.

E o rádio avisou até a morte da mãe de “‘Leite (2uente”‘, um preto que nasceu no ano da liberdade.  Um dia em que ele passava pela casa dos Rabelo, ouviu o rádio dizer.  “,Só Leite, ta mãe morreu” E ele contava: “quando uvi o bicho dizê eu taquê pé, taquê pé e cheguei lá a véia tava dura”

Minha tia Alzira e dona Jerusa eram as professoras do Pindaré e procuravam explicar da melhor maneira o que e como era o rádio.  Mas não dava para entender e muito menos acreditar.  Era mais compreensível acreditar num homenzinho de voz possante que se alimentava com coisas estranhas saídas de bateria.  E quando as baterias, certa vez, enfraqueceram, o rádio ficou mudo; teve quem levasse ovos e leite para “alimentar” o enfraquecido homenzinho.  Era assim o Pindaré.

E agora, eis-me aqui, no pátio da bonita casa de meu irmão, há relembrar aqueles tempos.  Não, não vou dizer que no meu tempo era melhor.  Os muitos anos, as desilusões e as tristezas que por mim passaram e me fizeram de vista curta é que me impedem de apreciar a beleza de que a atual geração é privilegiada.  Ainda há fome.

É noite de luar, e eu acabo de ver que é a mesma lua e a mesma brisa, o mesmo céu e o mesmo Deus de minha geração.  E isto é um conforto.

Dedico este conto a minha querida e saudosa tia Josefina,
mulher à frente de seu tempo.

Perfil

“Poeta, contista e cronista, que, quando sobra tempo, também é deputado”. Era essa a maneira como Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel aparecia no expediente da revista cultural Guarnicê, da qual foi o principal artífice. Mais de três décadas depois disso, o não mais, porem eterno parlamentar, ainda sem as sobras do tempo, permanece cronista, contista e poeta, além de cineasta.

Advogado, Joaquim Haickel foi eleito para o parlamento estadual pela primeira vez de 1982, quando foi o mais jovem parlamentar do Brasil. Em seguida, foi eleito deputado federal constituinte e depois voltou a ser deputado estadual até 2011. Entre 2011 e 2014 exerceu o cargo de secretario de esportes do Estado do Maranhão.

Cinema, esportes, culinária, literatura e artes de um modo geral estão entre as predileções de Joaquim Haickel, quando não está na arena política, de onde não se afasta, mesmo que tenha optado por não mais disputar mandato eletivo.

Cinéfilo inveterado, é autor do filme “Pelo Ouvido”, grande sucesso de 2008. Sua paixão pelo cinema fez com desenvolvesse juntamente com um grupo de colaboradores um projeto que visa resgatar e preservar a memória maranhense através do audiovisual.

Enquanto produz e dirigi filmes, Joaquim continua a escrever um livro sobre cinema e psicanálise, que, segundo ele, “se conseguir concluí-lo”, será sua obra definitiva.

Busca

E-mail

No Twitter

Posts recentes

Comentários

Arquivos

Arquivos

Categorias

Mais Blogs

Rolar para cima