Posse no IHGM

Auditório Fernando Falcão da Assembleia Legislativa do Maranhão
13 de setembro de 2011


DISCURSO DE RECEPÇÃO A
JOAQUIM ELIAS NAGIB PINTO HAICKEL
NA CADEIRA 47 DO
INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRAFICO DO MARANHÃO,
PATRONEADA POR JOAQUIM SERRA,
PROFERIDO POR LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ


Deram-me a missão de apresentar o Joaquim e dar-lhe as boas-vindas a este sodalício. Joaquim, apenas, como o conheci lá pelos idos de 1976, jogando basquete no Ginásio Costa Rodrigues; era setembro. Ao me apontarem os jogadores em treinamento, disseram: aquele é o Joaquim, filho do Nagib…

Recém chegado a este estado, não sabia quem era Nagib… Vim a saber depois. Joaquim aproximou-se, sorridente, e me cumprimentou, estendendo a mão. Esse nosso primeiro contato… Mesmo gesto que se repetiria ao longo desses anos todos, sempre educado, atencioso…

Nesses trinta e cinco anos, então, tenho acompanhado a carreira de Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel, primogênito de Nagib Haickel e Clarice Pinto Haickel; hoje, pai de Laila Farias Haickel, marido de Jacira. Membro das academias imperatrizense e maranhense de letras, contista, poeta, cronistas e cineasta. Ex-atleta. Por mais de 30 anos, militou na política, como deputado estadual, deputado federal e constituinte, hoje Secretario de Estado de Esporte… Novamente o esporte surge em nossos encontros; neste momento em que esse velho amigo – pois Joaquim é assim, amigo de todos – ingressa nesta casa.

Ao ingressar na Academia Maranhense de Letras, disse ser duplo, Joaquim e Nagib, referencia ao seu pai, o Caboclo do Pindaré, o Deputado das Balinhas; refere-se, ainda, em seu discurso de posse na AML, que seu pai poderia afirmar, naquela ocasião que “esse menino chegou mais longe do que poderia imaginar. Para quem tinha extrema dificuldade em ler, para quem não sossegava um só instante, o lucro foi grande.”

Nascido em São Luís a 13 de dezembro de 1959, enquanto estudante do Pituchinha, e depois do Batista e do Dom Bosco viveu a efervescência dos anos 70 – a década em que houve o renascimento dos esportes no Maranhão através do empenho de Cláudio Vaz dos Santos, o Alemão, do Prof. Dimas, responsáveis pela criação dos Jogos da Juventude, depois Jogos Escolares Maranhenses (1972), do Prof. Laércio, do Prof. Lino, do Marcão, do Zartú. Como já dito, jogava basquete… Concluída a fase juvenil, ingressou na Universidade Federal do Maranhão, onde se bacharelou em Direito.

Ah os anos 70… Anos de rebeldia; culto à juventude. A televisão chegando a São Luis… As mudanças de hábitos com as novidades da telinha e a unificação do linguajar, todos falando – ou procurando imitar – o carioquês… E aquele jovem “boleiro”, seguindo a tradição da Atenas brasileira, dedica-se também às letras. Joaquim é um dos expoentes da nova geração de intelectuais que surgia naqueles idos. Dedica-se as lides das letras e da cultura, na época do Guarnicê. Desde então tem no cinema uma de suas paixões…

Seu primeiro livro, Confissões de uma caneta, é gestado ainda naqueles anos de 1975/76, embora lançado apenas em 1980; premiado no Concurso Cidade de São Luis… No ano seguinte, aparece O quinto cavaleiro, poemas; seguido do livro de contos Garrafas de ilusões, de 1982, premiado também, desta vez pelo Concurso SECMA/ SIOGE/ Civilização Brasileira.

Nesse mesmo ano de 1982, Joaquim junto com Celso Borges, e coadjuvados por Roberto Kenard, Ivan Sarney, Ronaldo Braga, e Nagibinho (seu irmão), produzia e apresentava o programa “Em tempo de Guarnicê”, levado ao ar pela Mirante FM; programa que falava de literatura, arte, cultura e tocava música maranhense; esses “novíssimos atenienses” se serviam do meio de comunicação de sua época, para discutir a cultura maranhense. Para quem conhece um pouco de nossa História, mais um movimento, qual Fênix, ressurge das cinzas… Já se passara um tempo da geração de 45…

Essa nova geração que surgia, credito eu herdeira da “Geração de 53”, daqueles jovens atletas, também herdeiros da geração dos “R”…

A Geração dos “R” era formada por Ronald Carvalho, Rinaldi Maia, Rubem Goulart, José Rosa, Djard Ramos Martins, Raul Guterres; dentre outros; a geração de 53 é a de Cláudio Alemão, dos irmãos Itapary, dos Fecury, Alim Maluf, José Reinaldo… Cláudio viria criar os Jogos da Juventude, e sacudir nossas escolas…

Para participar dos Jogos, necessário ser bom aluno… Joaquim está nesse meio… Pertence à geração seguinte a essa, que surge nesses anos 70/80… Aquele programa de rádio foi o embrião do que viria ser, logo em seguida, a mais importante revista cultural maranhense daquele tempo.

Seu segundo livro de poemas, Manuscritos, é de 1983, mesmo ano em que começou a editar a revista Guarnicê. No ano seguinte, Joaquim e seus comparsas lançam a Antologia poética Guarnicê; seguida da Antologia crítica Guarnicê (1985). É de 1986 o livro de contos Clara cor de rosa. Após uma breve interrupção, eis que surge Saltério de três cordas, com a parceria de Rossine Correa e Pedro Braga dos Santos (1989).

Mas é o próprio Joaquim que as tem como ‘obras menores’, considerando-as ensaios do que estava por vir: lança, pela Global, sua coletânea de contos A ponte, bem recebida pela crítica, merecendo elogios de Artur da Távora e Nelson Werneck Sodré, sendo que este reconhecendo Joaquim como um bom contador de histórias…

Essa sua característica, de um contador de histórias, Joaquim leva para outro meio: o cinema! Prova disso é sua produção The Best Friend, o Amigão, com o qual conquistou prêmios no Festival Guarnicê de Cinema e Vídeo, em 1984. Continuando nessa mídia, recebeu menção honrosa por um roteiro apresentado em concurso realizado pela UFMA; tratava-se de A Vingança, adaptação para o cinema de um conto inserido no livro Garrafa das ilusões.

Quando das comemorações dos 20 anos da revista Guarnicê (2003) foi publicado o Almanaque Guarnicê (Clara e Guarnicê), espécie de ensaio-entrevista-reportagem, em que é narrada a trajetória do semanário e de seus idealizadores. É desse ano, e pela Clara Editora, uma coletânea de seus artigos publicados no sitio Clara on-line.

O inquieto e indisciplinado Joaquim – no dizer de José Louzeiro – novamente recorre aos amigos para cometer, em Paço do Lumiar, o curta Padre Nosso, de 59 segundos, também baseado em poema de sua autoria. É ainda desse ano de 2008, também roteiro a partir de conto Pelo Ouvido, publicado em A Ponte; roteiro, produção e direção, o sonho de realizar um filme estava concretizado. E selecionado para participar de inúmeros festivais de cinema, no Brasil e exterior; para ser mais exato, a 128 eventos, ganhando nada menos que 18 até agora…

Mas seus projetos não param por aí. Como disse dele Louzeiro, é um inquieto. Mas indisciplinado? Creio que não, haja vista sua determinação em produzir sempre, levando seus sonhos para o concreto, como Dito & Feito, registro de suas crônicas aparecidas em o Estado do Maranhão; ou O Múltiplo dos Quatro, reunindo o melhor de sua produção. De seu “avatar” de político, pretende reunir os seus discursos em A palavra quando acesa, título em homenagem a José Chagas; para 2012… Vamos aguardar, pois certamente terão a chancela de nosso IHGM…

Joaquim – o indisciplinado e inquieto – além de atleta, foi ‘cartola’, exercendo a presidência da Federação Maranhense e a vice-presidência da Confederação Brasileira de Tênis – outra de suas paixões – e da Associação Desportiva Mirante; membro-fundador do Instituto de Cidadania Empresarial do Maranhão – ICE. Joaquim é ainda vice-presidente do Forum Nacional de Secretários de Esporte e Lazer.

E não podemos esquecer a Fundação Nagib Haickel; o Museu da Memória Audiovisual do Maranhão – MAVAM -, futuro pólo de cinema a ser implantada no Maranhão, realização de mais um sonho de juventude…

Mas onde está o político, o deputado atuante? Um pouco mais de paciência, para contar: inicia a trabalhar ainda em 1978, como assessor na Assembléia Legislativa, onde seu pai era deputado… Em 1979, está em Brasília, trabalhando ao lado de Nagib, seu pai, então deputado federal; de volta a São Luis, passa a atuar como oficial de gabinete do então Governador João Castelo…

Lembro, nos contatos que tivemos por essa época, que recebia a todos com cortesia e atenção, tratando as pessoas com simpatia e deferência.

Passa, então, “a aprendiz de feiticeiro”, indo trabalhar com o chefe da Casa Civil, José Burnet… Mas seu mestre, mesmo foi Nagib, com quem aprendeu a ser leal, honrado, coerente, simples, como um ‘caboclo’…

Elegeu-se deputado estadual em 1982; federal em 86, sendo um dos Constituintes… Passou a Secretário de Assuntos Políticos (Governo Lobão); Secretário de Educação (Governo Fiquene)…

De 94 a 98, afastando-se das lides políticas, dedicou-se as empresas da família, retornando em 1998 à Assembléia, lá permanecendo até a última legislatura. Não concorreu às ultimas eleições, fiel às determinações do grupo político a que pertence. Mas antes de sair, deixou importantes contribuições à ciência e à cultura maranhense, através de emendas parlamentares. Fomos, o IHGM, aquinhoados, dentre outras instituições…

Atualmente, está de volta às origens, vamos dizer assim – mesma quadra onde o conheci à 35 anos passados: é o nosso Secretário de Estado de Esporte…

Bem vindo, Joaquim!

 

DISCURSO DE POSSE

DE

JOAQUIM ELIAS NAIGB PINTO HAICKEL

NO

INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO


Senhora Presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão,

professora Telma Bonifácio dos Santos Reinaldo,

Ilustres Sócios,

Minhas senhoras e meus senhores…

Bem, gostaria que vocês soubessem que eu sempre quis, pelo menos uma vez na vida, subverter a ordem, e vou fazer isso agora, agradecendo em primeiro lugar aos de corpo e alma presentes.

Refiro-me a Excelentíssima Presidente, Telma Bonifácio e ao meu particular amigo Leopoldo Vaz, pelo convite que me fizeram para ingressar nesta entidade.

Sinto-me muito honrado pelo convite.

Igualmente agradeço aos demais diretores e associados deste Instituto, pela carinhosa acolhida.

Aqui irei conviver com queridos amigos como Elizabeth Rodrigues, Manoel dos Santos Neto, Nivaldo Macieira, João Francisco Batalha, Edomir Oliveira, José Marcio Leite entre tantos outros com quem a partir de agora poderei estreitar laços de sincera amizade.

Agradeço também a todos que me distinguem, nesta noite, com sua presença e sua paciência. O meu muito obrigado.

Minhas palavras agora são de respeito e reconhecimento, pois tenho a honra de suceder nesta Casa, a Kalil Mohana, ilustre professor, homem carismático e batalhador, que lutou pela vida até o seu último suspiro. Pessoa extremamente afetuosa, sempre com a preocupação de estimular a juventude, Kalil Mohana gostava de refletir sobre os mistérios e as peculiaridades da consciência humana.

Gostava de analisar os sentidos da vida usando para isso aquilo que ela tem de mais verdadeiro: os exemplos da história, da filosofia e da humanidade.

Esse valoroso maranhense que faleceu em São Luís no dia 24 de dezembro de 2010, era filho de Miguel e Anice Mohana, libaneses e cristãos maronitas que se mudaram para o Brasil, dentre outros motivos, em razão da perseguição dos turcos islamitas contra os de sua crença em um Líbano sitiado.

Resolveram se estabelecer consecutivamente nas cidades de Coroatá, Bacabal e Viana, sendo que nesta última foi o local onde Kalil nasceu no dia 10 de novembro de 1935.

Cursou o Primário e o Ginásio no Colégio Marista. Já o científico no Ateneu Teixeira Mendes e no São Luís. Fez os cursos de Geografia, História e Didática na Faculdade de Filosofia, semente da Universidade Federal do Maranhão.

Lecionou no Marista, na Escola Normal do Estado, em vários cursinhos Pré-Vestibular, na Federação das Escolas Superiores sendo dos fundadores da Universidade Estadual do Maranhão, onde foi catedrático durante vários anos.

Formou sucessivas gerações de maranhenses e conheceu o mundo inteiro por meio de suas viagens. Realizou aproximadamente 130: cerca de 35 com alunos do Colégio Marista e mais de 90 com formandos universitários, sem contar com as que sozinho.

Além de membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, ele ocupava a cadeira de nº 8 da Academia Vianense de Letras, patroneada por seu irmão, o médico, escritor e padre, João Mohana.

Autor de diversas obras, dentre elas o livro “Viajando e Educando: As grandes Viagens”, o meu antecessor nesta Cadeira era oriundo de família tradicional maranhense, composta por sete irmãos: João, Alberto, Laura, já falecidos, e Ibraim, Julieta e a professora Olga Mohana, ainda entre nós.

De todos, Kalil era o mais receptivo e inquieto. Bom amigo e aconselhador, passar-se à tarde pela Rua Afonso Pena e não encostar-se na Casa Mohana para bater um bom papo não tinha sentido, pois ele estava sempre lá pronto para recepcionar e trocar idéias com os inúmeros amigos que conquistou ao longo de vida.

Sobre Kalil e a família Mohana há um fato que devo citar: passei os primeiros anos de minha vida vivendo praticamente na casa de minha avó paterna, Maria Haickel, que ficava na Rua da Saúde, uma travessa da Afonso Pena. Quase todos os dias ela me levava para tomar benção para tia Anice, mãe de Kalil. É que para os libaneses, os amigos mais queridos são como parentes, como irmãos mesmo.

Na Casa Mohana eu era tratado como um principezinho, tanto pelo padre, que mais tarde seria decisivo em minha opção pela literatura, como pelo vibrante Kalil, mas principalmente por Julieta que era amiga de minha tia, Rose Mary.

Hoje, aqui, tenho a nítida sensação de suceder um parente, um tio, um primo bem mais velho.

Senhoras e Senhores,

Não posso deixar de fazer o registro de que, antes do professor Kalil, dois outros ilustres intelectuais – Domingos Chateaubriand e Domingos Vieira Filho – ocuparam esta Cadeira Nº 47, que é patroneada por Joaquim Serra, que também é o patrono da Cadeira Nº 21 da Academia Brasileira de Letras, por escolha de José do Patrocínio, e da de Nº 12 da Academia Maranhense de Letras.

Não há como negar o espírito universal das obras de meu xará, Joaquim Serra, o qual em suas crônicas maravilhosas no “Semanário Maranhense” e em outros jornais, sempre relacionava a economia com o progresso, e o trabalho com a técnica.

Sua peça “Quem tem boca vai a Roma” faz-nos pensar na velocidade com que as ondas eletromagnéticas levam o som e a imagem pelos meios modernos de comunicação, e também a facilidade com que aquele e outros maranhenses aprendem línguas estrangeiras.

Joaquim Serra era filho do dono do imenso sobrado que ficava no Largo de São João, que ficou conhecido como Palácio das Lágrimas, pois uma linda escrava que servia na casa, pareceu ao dono, ser a assassina, por envenenamento, de seus dois filhos menores, irmãos de nosso patrono. Como o caso não foi esclarecido, a escrava foi enforcada. Quando a verdade foi descoberta, o pai de Serra, Leonel, enlouqueceu.

Mas nosso mentor na Cadeira 47 não se tornou abolicionista apenas para fazer justiça póstuma à negra bela que seu pai mandou executar. Tudo leva a crer que meu homônimo desejava para o Maranhão a solução encontrada por São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul: a imigração estrangeira.

Joaquim Serra conhecia bem os progressos da Revolução Industrial assim como seus malefícios trabalhistas. Era humanista como Cândido Mendes, César Marques e Sousândrade. Pensava numa economia forte, grande produção, mas com produtividade: ou seja, o máximo de frutos, com o menor esforço possível. Aliás, essa é a filosofia da computação e da eletrônica modernas.

Ele escreveu também a peça “O salto de Leucade”. Leucade, como sabem, é uma ilha grega com um alto penedo, de onde eram atirados ao mar os condenados à morte. Assim, JS sonhou com a velocidade horizontal em “Quem tem boca vai a Roma”, e com a vertical em “O salto de Leucade”. Com certeza, o grande maranhense pensava na escrava inocente enforcada, ao escrever essa peça.

Joaquim Serra nasceu em São Luís, no ano de 1838, e faleceu no Rio de Janeiro em 1888, ano da abolição da escravatura e com quase dois anos a menos que a idade que tenho hoje.

Já Domingos Chateaubriand, no íntimo, talvez pensasse como La Fontaine; o poeta via na zoologia e na entomologia, parábolas da vida humana, em seus aspectos belos ou sombrios; Vieira Filho estudava o folclore como alguém que analisa a alma do povo

Falar de Serra e Chateaubriand faz lembrar de dois outros ilustres membros do IHGM: os professores Ronald de Carvalho e Mário Meireles.

Enquanto Ronald de Carvalho ensinou geografia, apontando para a história, Mário Meireles ensinava história, focando a base física das civilizações. A história e a geografia entrosam-se, abraçam-se, influenciam-se, revelam mutuamente seus segredos.

Lendo-se as crônicas de Joaquim Serra, seus poemas, ou suas peças de teatro, mesmo as humorísticas, temos diante de nós um espírito inteligente, culto, otimista, ao mesmo tempo profundamente brasileiro e internacional, cultuador dos direitos humanos e desejoso de ver a democracia reinar de direito e de fato sobre a imensa nação brasileira.

Há um forte laço que une Serra e Vieira. É notável o fato de que em pleno século XIX Joaquim Serra era um fervoroso amigo da raça negra, e de se admirar que Domingos Vieira Filho na década de 50 do século XX, escreveu algo tão notável e precoce para seu tempo, em relação ao prestígio dos irmãos de pele de João do Vale.

No livro “Folclore Sempre”, Vieira Filho, professor de geografia humana, comenta que em São Luís do Maranhão os brancos aceitam sem reserva a competição do negro e sua consequente ascensão social.

Em Serra encontra-se a mesma elegância física, mental e literária de Vieira.

Domingos tanto fez pela cultura do Maranhão, que sua atuação fez surgir a Secretaria de Estado da Cultura, sucessora ampliada dos órgãos culturais que dirigiu.

Em seus escritos ele cita autores de muitos países e dá sempre a etimologia dos fatos que estuda e não apenas dos nomes.

Dizem que o semblante reflete a pessoa. Os títulos dos livros são como os semblantes dos escritores, revelando sua alma.

É notável o fato de Serra ter titulado dois de seus livros assim: “Epicédio à morte de Odorico Mendes” e “A Capangada”. Capangada é um termo bastante popular, e epicédio é uma flor erudita do vocabulário, usada para designar uma ode fúnebre.

Em outros livros como “Um coração de mulher” e “Os melros brancos” vemos que o mesmo Joaquim Serra que foi um enamorado, um apaixonado, vergastava com classe os espertalhões e finórios como podemos observar no uso e no sentido do termo melro.

Pietro de Castellamare era um de seus pseudônimos, o que revelava seu espírito jocoso e internacional. Traduziu muitos poetas franceses e praticava verdadeira exegese, pois não se cingia à tradução literal; muitas vezes usava expressões um pouco diferentes do original, para ser mais fiel ao pensamento do autor. Algo como, traduzindo o português de Portugal para o brasileiro, a melhor versão de “Rapariga”, seria “moça donzela”.

Joaquim Serra nasceu quando espocou a Revolta da Balaiada, pouco antes de ser declarada a maioridade de Dom Pedro II.

Como se sabe, Serra traduzia fluentemente do francês, conhecia o alemão, sabia latim, usou um pseudônimo italiano, estava por dentro de toda a etimologia grega de nossa língua culta e bela.

Em São Luís era comum ouvirem-se pelas ruas e praças conversas em grego, latim, francês e alemão. Em sua fazenda de Itapecuru, Gomes de Sousa lia Goethe, no original. Sousândrade ensinava grego. Sotero era exímio em línguas.

Assim se explica porque Joaquim Serra possui um estilo tão atávico, um pensamento tão claro, uma pedagogia tão didática no escrever, conversar, planejar e agir.

Explica-se muito mais: porque aquela São Luis era chamada de Atenas Brasileira.

Meus caros amigos,

Estou muito feliz, honrado e emocionado. Vivo um momento importante em minha vida, um momento muito gratificante, pois a geografia sempre me fascinou e a história sempre foi o meu maior fator de aprendizado para a vida.

Acredito piamente que nós não somos apenas nós, mas sim, nós, as nossas circunstâncias e nossas conseqüências; nós e a época em que vivemos; nós e as viagens que fazemos, os mares que singramos, as histórias que lemos e aquelas que escrevemos.

Entusiasmo-me com a época em que vivo, a assumo em pleno e com ela me identifico. Mas devo dizer que adoraria ter, como tenho certeza que todos vocês também, uma máquina do tempo, que me permitisse passar a limpo, se não todos, mas muitos dos acontecimentos da história.

Sobre mim há pouco a dizer, mas que fique registrado para que no futuro quando alguém, quem sabe, for pesquisar quem teve a honra de representar Joaquim Serra e suceder Domingos Chateaubriand, Domingos Vieira Filho e Kalil Mohana na cadeira 47 deste Instituto, possa saber que Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel era o primogênito de Nagib Haickel e Clarice Pinto Haickel, pai de Laila Farias Haickel e que quando aqui tomou posse, era o amantíssimo marido de Jacira, mais bela que a lua cheia, mais doce que o mel, mais forte que o jatobá.

Que se diga que esse dito Joaquim era membro das academias imperatrizense e maranhense de letras, que tentava com afinco e dedicação ser contista, poeta, cronista e cineasta.

Que se diga que esse maranhense, por mais de 30 anos, militou na política, ora como deputado estadual, ora como deputado federal e constituinte, ora como secretário de estado. Que sempre soube a hora certa de entrar e de sair de cena.

Que por fim se diga, principalmente quem for um dia suceder este JH, que eu fui acima de tudo um homem feliz, que tive a sorte de fazer o que gosto e de gostar do que faço. Um homem para quem as jornadas foram passeios e que as guerras nada mais que juvenis jogos de basquete.

Balzac dizia que “é um sinal de mediocridade ser-se incapaz do entusiasmo”. Eu não desejo ser medíocre e “como jamais se faz algo de grande sem entusiasmo”, no pensar de Ralph Emerson, eu vivo os momentos que me rodeiam, envolvo-me e faço parte deles sempre fugindo da solidão.

Nos idos do ano de 1682, Bartolomeu Bueno da Silva, hoje conhecido como o Bandeirante Anhanguera, afirmava como bandeira de sua vida: “Ou encontro o que procuro, ou morrerei na empreitada”.

Sou discípulo desse pensamento e herdeiro dessa vontade e é talvez por isso que tenha chegado até aqui e é também por isso que vou continuar com vocês até onde a nossa história nos levar.

Muito obrigado!

Adeus a “tio” Daniel

Gostaria de falar hoje sobre um homem simples, um cidadão correto, um empresário honrado, um amigo leal, um marido e pai de família dedicado. Quero falar de um cearense que se fez maranhense pelo trabalho. Maranhencidade essa que tive a honra de sacramentar ao entregar a ele e a seus irmãos o título outorgado pela Assembleia Legislativa do Maranhão em 2009, quando eu ainda era deputado estadual.

Entre as coisas que herdei de meu pai, veio o respeito e admiração que tinha e continuarei a ter por esse homem.

Falo de Daniel Aragão. Falo de meu “tio” Daniel, pois era assim que o chamávamos, porque ele era como se fosse verdadeiramente um irmão para meu pai.

Nascido em 28 de fevereiro de 1929, na Serra da Meruóca, no Sítio Bom Jesus, Distrito de Sobral, nos “Estados Unidos do” Ceará, filho de Maria dos Anjos Aragão e Pedro Celestino de Albuquerque, Daniel, foi em vida, o que se poderia chamar de um homem realizado.

Cursou o primário em escolas públicas na região da Serra da Meruóca até que seus pais transferiram-se para Sobral, visando proporcionar aos filhos uma melhor educação.

Lembro quem possa ter esquecido e digo aos que não saibam que Meruóca foi o nome escolhido por meu pai para batizar uma loja, um armazém, uma espécie de atacado que funcionava 24 horas por dia, ali no João Paulo, que pertencia aos dois, Nagib Haickel e Daniel Aragão.

Pois bem, Daniel concluiu o ginásio na Escola Técnica de Comércio Dom José, em 1948. Mesmo antes de concluir seus estudos, já trabalhava em loja de tecidos e armazém de exportação de cera de carnaúba.

Em janeiro de 1949, mais precisamente no dia 7, atendendo ao chamado de seu irmão Pompílio Albuquerque, que desde 1946 já residia em São Luís, Daniel chegava ao Maranhão. Na bagagem apenas a saudade e os valores éticos e morais que lhes foram transmitidos por seus pais ao longo de sua vida.

Por aqui começou trabalhando em um escritório de representação, consignação e redespacho, chamado B.J.Soares, até que, em junho de 1952 adquiriu, de Marcos Gandesman o acervo da Colchoaria Imperatriz.

Já no ano seguinte, com o objetivo de expandir suas atividades, fundou a D.Aragão, indústria de fabricação de colchões de palha, malva e molas, que viria a ser precursora de todo o grupo empresarial do qual faz parte.

O espírito empreendedor de Daniel fez com que, em janeiro de 1957, se associasse a seus irmãos Pompílio e Fernando Albuquerque, passando a empresa a se chamar D. Aragão e Cia Ltda.

Inovou comprando novos equipamentos elétricos para a fabricação em série dos Colchões de Mola, até então fabricados manualmente.

Trabalho, dedicação, união e perseverança foram ingredientes que, certamente, contribuíram para o crescimento da sociedade, o que obrigou, em 1969, o desmembramento da parte industrial da empresa, surgindo, em fevereiro de 1970, a Indústria Dalban Ltda, ficando a D.Aragão e Cia Ltda – Movelaria Imperatriz, responsável somente pela parte comercial, com uma ampla loja de móveis e eletrodomésticos, enquanto a Indústria Dalban Ltda instalada em prédio próprio, no Outeiro da Cruz, fabricava móveis residenciais, escolares e colchões.

A segunda geração da família passa a integrar a sociedade, com a admissão do sócio Roberto Reis de Albuquerque, que no futuro se revelaria uma importante mola propulsora nos negócios do grupo. Sandra, Keila e Daniel Filho, filhos de Daniel, e Fernanda, filha de Fernando, também vieram compor a sociedade.

Em 1992 foi inaugurada a Dalban Indústrias Reunidas S/A e em 1994 a Dalban Nordeste, situada na cidade de Recife.

A nova conjuntura econômica nacional apontava para a necessidade de diversificar as atividades empresariais de Daniel e de seus sócios, e, em 1995, surgiu a Dalcar – Concessionária Chevrolet classificada como uma das melhores concessionárias General Motors no Brasil.

Aqui, mais uma vez o destino juntou Nagib e Daniel, mesmo que indiretamente. Eu, meu pai e alguns amigos havíamos implantado em São Luís a Jacumã Veículos, então a segunda concessionária General Motors da cidade e queríamos sair do setor e nos concentrarmos na radiodifusão. Tempos depois a Jacumã se transformaria em Dalcar sob a batuta de “tio” Daniel.

Daniel foi um empresário sempre engajado em entidades de classe, sendo rotariano, diretor e atualmente conselheiro da Associação Comercial do Maranhão, conselheiro e sócio fundador da Câmara de Dirigentes Lojistas de São Luís.

O segredo do sucesso profissional de Daniel, que deixou sua terra de nascimento há mais de 50 anos para ajudar a gerar riquezas no Maranhão, é certamente muito trabalho e uma vida familiar feliz, tranqüila, edificada com sua Oneide, mulher de rara sabedoria, que ajudou a educar seus seis filhos: Ivana, Gerviz, Sandra, Keila, Daniel Filho e Glenda, a quem ensinaram, juntos, a não temerem a vida, pois o sucesso vem naturalmente dos estudos, que são herança que não se esvai com o tempo, nem tampouco com as adversidades do dia-a-dia.

No último dia 23 de agosto, aos 82 anos de idade e em pleno expediente de trabalho, Daniel sofreu um grave AVC, do qual veio a falecer dois dias depois, mas até na morte deu exemplo. Como meu pai, seu “irmão”, morreu fazendo uma das coisas que mais gostava, morreu trabalhando.

Você sabe o que é o CFAP?

Não se preocupe se você não sabe o que é o CFAP, isso não significa que você não conhece o nosso estado, o Maranhão, significa apenas que precisamos conhecê-lo melhor. Eu tinha muito mais obrigação de saber o que é o CFAP, mas também não sabia e imagino que muito pouca gente saiba do que se trata.

Dias atrás recebi um telefonema do tenente-coronel Laércio Ozório Bueno, comandante do CFAP – Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças da Policia Militar do Maranhão – que se localiza no quilometro 2 da BR-135, na entrada de nossa capital.

O coronel Ozório me convidou para fazer uma visita a sua unidade e para almoçar com os oficiais que dirigem aquele centro de ensino. Aceitei o convite e lá estive na quarta-feira, 3 de agosto.

O CFAP tem como objetivo a formação, adaptação, aperfeiçoamento e especialização de Praças da Corporação, que foi criada em 1841, 170 anos atrás.

Lá fiquei sabendo que o ensino de praças na PMMA iniciou-se em 1898, como Escola de Recrutas no Convento das Mercês e que no ano de 1972 sua sede passou para os limites do Aeroporto Marechal Cunha Machado, de propriedade da União Federal, administrada pela Infraero onde permanece até hoje, trinta e nove anos depois, mesmo tempo de existência dos JEMs.

Atualmente o CFAP possui ampla área para prática esportiva com campos de futebol, quadra de vôlei de areia, pavilhões com salas de aula climatizadas, área para instrução de defesa pessoal com um Dojô feito pelos próprios alunos, estande de tiro com espaldão ecológico e outras modalidades, ressaltando que tal estrutura foi toda recuperada principalmente com a participação de parcerias e voluntariado do público interno.

Lá eu pude ver que além da recuperação estrutural, o CFAP também apresenta considerável avanço pedagógico, funcionando também como fábrica de conhecimentos, possibilitando uma grade curricular nivelada as das melhores Policias Militares do Brasil, alinhada com a Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP), com ênfase aos ensinamentos sobre direitos humanos, técnicas de abordagem e defesa, permitindo que o conhecimento sobreponha-se à violência.

Acompanhando a evolução tecnológica o processo de ensino-aprendizagem da PMMA através do CFAP emprega também a metodologia do Ensino a Distancia (EAD) que proporcionou extraordinário avanço qualitativo e quantitativo, permitindo que os conhecimentos profissionais cheguem a todos os rincões do Estado, proporcionando um nivelamento quase absoluto dos conhecimentos.

A qualificação técnica do público interno este se apresenta motivado e assaz participativo, devido também a ações de congraçamento, reconhecimento profissional, melhorias nas condições de trabalho (alojamento, refeitórios, etc…) e também aos eventos de entretenimento nas praças desportivas.

Além de cumprir sua missão fundamental o CFAP exerce importante papel social perante mais de setenta crianças e ou adolescentes oriundos das comunidades circunvizinhas, que se utilizam das instalações para prática do futebol onde também recebem orientações e conhecimentos importantes para a formação do caráter do bom cidadão.

Não tenho mais a tribuna da Assembleia Legislativa do Maranhão, local de onde eu, além de cobrar providencias e defender os interesses daqueles que me elegeram, o povo do Maranhão, proclamava e defendia as boas coisas feitas em nossa terra, como esta que lhe mostro hoje. Por motivos pessoais abri mão daquela tribuna, mas continuo a ter esta, o jornalismo, a literatura, da qual não me aparto e que em muitos casos é muito mais ouvida. Daqui, irei continuar comentando as boas coisas que existem em nossa terra e também continuarei levantando discussões que acredite ser relevante para nossa vida, como por exemplo, a situação de abandono em que se encontra o nosso centro histórico, que teima em sobreviver à ação do tempo e aos maus tratos.

O CFAP é uma dessas instituições que nós devemos apoiar incondicionalmente, pois é ela quem pode melhorar a qualidade de um dos setores mais vitais de nossa sociedade, o grupo de cidadãos que destacamos para nos dar segurança, para proteger a nós e nossas famílias.

Gostei do que vi em minha visita e vou voltar para ajudar no que puder.

Do Deus dos mares ao moleque das matas

Só descobri na terça-feira, 2 de agosto, por intermédio de uma mensagem eletrônica, que o texto aludido por mim em meu último artigo publicado neste espaço era da autoria de Henrique Bois, um jornalista que considero um dos mais talentosos de nossa terra.

Dono de um respeitável cabedal cultural, ele é uma pessoa que devido ao meu jeito de ser e de encarar a vida, poderia muito bem chamar de amigo cordial. Mesmo que não sejamos próximos, sempre convivemos nos mesmos espaços culturais, prova disso é que ele, em algumas oportunidades, chegou a participar tanto da revista quanto das antologias Guarnicê (para quem não sabe, O Guarnicê foi uma revista aqui editada, sem viés de personalismo, por um grupo de jovens poetas, contistas, cronistas, jornalistas e cartunistas no inicio dos anos 80).

Sendo o referido texto de Bois, retiro o termo pigmeu mental, pois a ele tal adjetivo não se enquadra. Em que pese não ser um homem de grande estatura física, Bois é realmente um dos mais competentes jornalistas de sua geração. Aplicado, dedicado, estudioso, culto, lido, Bois é dono, quando quer, de um texto leve e gracioso, principalmente quando fala de arte, pedaço da vida pela qual ele muito se interessa.

Porém, Bois foi desatento quando se apressou em comentar em seu blog uma matéria publicada no jornal O Estado do Maranhão que falava da estada a nossa capital, a convite da Fundação Nagib Haickel – cujo nome publicou errado – dos cineastas Sergio Martinelli e Coi Belluzzo.

Alguns jornalistas, uns por excesso de trabalho, outros por excesso de miopia, outros ainda por excesso de preconceito e ainda outros por excesso de falta do que falar, vão falando, falando, falando, assim, sem se aprofundar no assunto. Acredito que o caso de Bois não se enquadre em nenhum dos anteriormente citados. Acho sinceramente que alguém deve ter comentado com ele sobre o fato de estarmos produzindo vários filmes e ele imaginou que todos os projetos fossem meus, pessoais, individuais. Não o culpo por pensar assim. O culpo por ele não ter pegado o telefone, ligado para mim e perguntado o que quisesse saber, antes de escrever coisas que não sabia serem verdades, ou desse a sua opinião jornalística como verídica final e irrecorrível. Cacoete stalinista difícil de esconder ou superar.

Dizer que o Pólo de Cinema Documental, Ficcional e de Animação do Maranhão já nasce sob a sombra do personalismo, é tentar matar um recém-nascido ainda no berçário, tal qual quis fazer Hera ao mandar cobras ao berço de Hércules, e isso eu não poderia permitir.

O que de resto foi dito, o fato de eu ser amigo e fazer parte do mesmo grupo político do presidente José Sarney, de eu ser rico, de o Museu da Memória Audiovisual da Fundação Nagib Haickel ter sido montado com recursos de emendas de parlamentares federais, de o deputado Ribamar Alves ter sido o que mais contribuiu para isso, por mais que tudo isso pareça inveja, recalque ou qualquer outra idiossincrasia humana, não é relevante, levando-se em consideração quem escreveu tal matéria, pois Henrique Bois, de forma alguma tem motivo para ser recalcado ou ter qualquer tipo de inveja de mim ou de quem quer que seja. Quem o conhece, sabe que ele é capaz, competente, quem sabe até muito mais bem preparado que eu e tantos outros, tanto como jornalista e escritor, quanto como poeta, prova disso é seu novo texto sobre mim (que desta vez chegou ao meu conhecimento por um comentário em meu blog), intitulado “Resposta ao poseidônico Joaquim Nagib Haickel”, onde ele desfolha toda sua a cultura, todo o seu conhecimento filosófico e psicológico, demonstrando estar muitos degraus acima dos usuários comuns da Wikipédia.

Nesse texto ele replica pérolas da prosa poética como o maravilhoso título do álbum dos Titãs, “Tudo ao mesmo tempo agora”. Aqui seu inconsciente o trai, pois esse também é o título do livro de Ana Maria Machado, escritora-mãe de Jajá, garoto brilhante, vitima de preconceito social. Sintomático!

Cita Stalin, Marx, Engels, Lenin e como não poderia deixar de ser, não desata de Sarney. Analisa de forma extremamente elegante a literatura quando diz que “Dostoievski foi um escafandrista da alma russa ao escrever sobre os males que acometem o homem universal. As situações patológicas da alma são o mote de sua obra eterna” – no que concordo plenamente!

No entanto Henrique Bois não se afasta do erro. Só que agora é um erro digno das personagens que povoam sua mente culta, quem sabe um Javret, ou ainda Danglars ou Villefort, quem sabe Normam Bates ou Frank Booth. Mas acredito que é o Dorian Gray que ele vê em outros que está arraigado definitivamente em sua alma.

Ele diz a certa altura: “Décadas após ler ‘Os irmãos Kamarazov’ retorno ao personagem de Ivan Karamazov para manifestar meu desprezo ao texto ‘O que move o mundo…’ do imortal maranhense Joaquim Nagib Haickel, e suas alusões a minha pessoa, …”. Ora, acontece que eu não escrevi texto sobre a pessoa do caro jornalista, nem sabia que dele se tratava, escrevi e publiquei sobre um comentário que chegou ao meu blog, falando da minha pessoa e de um projeto que eu e alguns cineastas estamos tentando desenvolver no Maranhão.

Como diria o tio Barnabé, personagem contador de “causos” dos livros de Monteiro Lobato, quem sabe o Dostoievski tupiniquim, a carapuça vermelha e encantada só poderia cair na cabeça de um… CURUPIRA…

Como Ivan Karamazov, acredito que ninguém seja obrigado a amar seus semelhantes, mas aprendi com a minha mãe que é nossa obrigação termos respeito para com as pessoas, coisa que o escrevinhador do texto que comentei antes, não teve, nem para comigo nem para com os que como eu pelejam pelo NOSSO Pólo de Cinema.

Por fim considero esse incidente superado e convido o blogueiro Henrique Bois para conhecer e informa-se sobre os nossos projetos, para depois disso poder falar com conhecimento de causa.

PS: O Curupira é uma entidade da floresta. Diz a lenda que ele vai para as margens dos rios para pedir fumo aos canoeiros e vira-lhes as canoas quando não lhe dão. Ele não usa carapuça. Secretário de Esportes e Lazer, e membro das Academias Maranhense e Imperatrizense de Letras

O que move o mundo…

Sinceramente não sei o que com mais força move o mundo. Antes eu pensava que era o medo, instinto primordial e básico, indissociável de todas as criaturas, sejam elas mais ou menos domesticadas. Depois passei a crer que o que mais faz girar as engrenagens da vida é a ambição, a vontade do mais, reação básica que em boas medidas promove o crescimento e que em medidas exorbitantes cria fascínoras. Porém, recentemente, ao ver um documentário sobre os sete pecados capitais, descobri que a inveja é outro grande impulsionador do mundo.

Dito isso, passo agora a narrar o que aconteceu na última quinta-feira, 28.

Como sempre faço, quando posso, entrei em meu blog e vi que havia recebido um comentário que transcrevia o que imagino ser um texto jornalístico publicado em algum jornal de nossa cidade. O certo é que não tomei conhecimento dele antes do citado comentário.

No tal texto, que transcreverei mais abaixo, o seu perpetrador comenta a criação do Pólo de Cinema do Maranhão que um grupo de amigos cineastas está empenhado em implantar em nossa cidade, e é sobre isso que ocuparei esse espaço e tomarei seu tempo a partir de agora.

Poderia começar discorrendo sobre todas as doenças que assolam as almas de pessoas como o escriturário do opúsculo abaixo, mas ele já surtiu o efeito comprobatório de minha teoria inicial: a que diz ser a inveja uma das grandes forças que movem o mundo. Senão vejamos. Eu que me encontrava sem ânimo para escrever, pois outros afazeres de minha vida tem me levado em direção diversa da literatura, por causa do recalque de um pigmeu mental, por causa do escrito de um patológico invejoso me ponho a escrever esse texto, me movimento no intuito de comentar entre parênteses, em itálico e negrito a transcrição do tal texto.

“Veja o que um jornalista da cidade anda falando de você… Pólo de cinema do Maranhão tem assinatura exclusiva de Joaquim Haickel. O pólo cinematográfico do Maranhão, supostamente (supostamente é a vovozinha) fomentado a partir do funcionamento do Museu (da Memória) Audiovisual do Maranhão, nasce sob a égide da cultura do personalismo (como um pólo pode ser personalistico se é o magnetismo que há nos pólos que justifica sua existência, só um imbecil para pensar assim. Para seu conhecimento, no MAVAM já está sendo editado e finalizado um documentário sobre capoeira de Alberto Greciano, premiado diretor espanhol residente em São Luís). Ao menos três projetos iniciais da Fundação Joaquim (Nagib) Haickel, onde se encontra instalado o museu: os filmes curtas “Upaon-Açu, Saint Louis, São Luís”, “A Ponte”, e um sobre a vida do Padre Antonio Vieira.

O primeiro é uma animação dirigida por Joaquim Haickel, secretário de estado de Esportes e presidente da fundação (não sou o presidente da FNH, seu mal informado…), com desenhos de Beto Nicácio; “A ponte”, é de Joaquim Haickel, Frederico Machado, Arturo Saboia e Breno Ferreira (mais uma fez mal informado, esse curta de animação é um projeto da Dupla Criação e da Guarnicê Produções, o filme que terá os diretores citados é um longa-metragem que terá a cidade de São Luís como personagem central); e uma versão cinebiográfica de Padre Antonio, dirigida também pelo imortal (posto que é chama, infinito enquanto… tiver que aturar gente como você) da Academia Maranhense de Letras.

Pertencente ao grupo político do senador José Sarney (PMDB-AP) no Maranhão, (o que tem isso haver com o contexto. Fica claro o cacoete de gente recalcada) Haickel regozija-se da realização de um sonho nutrido há 20 anos (fico feliz que isso esteja acontecendo numa terra onde pouco ou nada se faz pelo cinema ou para preservar nossas histórias em áudio e vídeo, além do que esse não é um sonho meu, é de todos que de uma forma ou de outra fazem ou tentam fazer cinema em nossa terra. Lembro que há mais de 20 anos, numa de suas vindas ao Maranhão, o grande José Louzeiro nos conclamava a implantar aqui um pólo de cinema). A concretização teve um empurrãozinho de aliados políticos da Bancada Federal do Maranhão, notadamente do deputado federal do PSB, Ribamar Alves (Além de Ribamar que não é nem nunca foi meu correligionário político, outros parlamentares ajudaram para a realização desse empreendimento, entre eles Cafeteira, Gastão, Novais, Waquim, Brandão, Verde e até Dutra). Homem rico (como se isso fosse um insulto. Mais recalque), Joaquim Haickel declarou à Justiça Eleitoral possuir patrimônio calculado em mais de R$ 9 milhões nas eleições de 2006 (se não tivesse feito isso seria crucificado, pois estaria sonegando informações).

Alves destinou R$ 1,5 milhão (errado mais uma vez, R$ 900 mil) em emendas parlamentares para soerguer as instalações da Fundação Joaquim (Nagib…. seu burro) Haickel, no Portinho (diga-se de passagem que todos os recursos foram destinados ao IPHAN-MA que se encarregou das licitações para esse fim), prédio pertencente ao espólio do ex-deputado estadual Nagib Haickel, pai de Joaquim (errado novamente, o imóvel era meu e foi doado para a FNH). Os Haickel como Ribamar Alves detém votos na região de Pindaré (vá errar assim na caixa prego, esse cabra é um incompetente ou simplesmente maldoso. Desde a morte de meu pai, em 1993, eu não fiz mais política no Pindaré). Nas eleições de 2010, Joaquim Haickel deliberadamente se retirou da disputa eleitoral (depois de 28 anos de vida pública, como deputado estadual, deputado federal e secretário de Estado, resolvi não mais me candidatar. Já tendo completado 50 anos e sabendo que os homens da minha família vivem pouco, meu pai morreu com quase 60, resolvi me dedicar à literatura, ao cinema e a minha família). Alves, deputado do PSB, partido historicamente de oposição ao grupo Sarney no estado, foi reeleito para o terceiro mandato”.

Diante da leitura do “textículo” acima fiquei imaginando se não será a inveja realmente o maior motor do mundo.

Pra finalizar lembro que inveja não vive sozinha, ela vem associada a outros sentimentos como a impotência, a inépcia, a incompetência, o recalque, a intolerância, o preconceito e tantos outros sentimentos baixos, dignos do Hades, inferno olímpico.

Muitos assuntos e pouco tempo.

Muita gente tem me cobrado uma maior presença nestas prestigiadas e prestigiosas páginas de opinião, mas não venho tendo capacidade de coordenar meus esforços no sentido de colocar no papel as tantas coisas que gostaria de conversar com você e o dia a dia de minhas atribuições funcionais e afazeres particulares. O tempo é pouco para ser secretário de esporte e continuar sendo empresário, escritor, cineasta, filho de minhas mães, pai de minhas filhas, marido de minha mulher, amigo de meus amigos…

Confesso que não tenho andado muito satisfeito com o desenrolar das coisas, de modo geral, em sentido amplo, mas tenho trabalhado duro para reverter esse quadro, que já começa a mostrar sinais de mudanças, que espero se consubstanciem com o anúncio em breve do envio a Assembléia Legislativa de dois projetos de lei de autoria do poder executivo, instituindo incentivo fiscal às empresas que patrocinarem projetos esportivos e culturais.

Por falar em lei, já que não estou mais exercendo mandato parlamentar, gostaria que algum deputado estadual apresentasse um projeto de lei que, ao mesmo tempo em que revogasse a lei que criou o Parque Ecológico do Rangedor, criasse naquela área um parque zoológico e botânico em nossa capital. O Rangedor em termos qualitativos nada tem de reserva ecológica, é na verdade uma grande capoeira, uma reserva de espaço físico onde, através de parceria com a iniciativa privada, poderíamos construir um verdadeiro parque ambiental.

Já que falei de deputados estaduais, preciso escrever sobre a nova composição de nosso legislativo, agora quase seis meses dos novos parlamentares terem tomado posse. 

Como as minhas idéias estão em ebulição, não vou me aprofundar em um assunto específico, vou hoje apenas relacionar alguns assuntos que, quem sabe, possamos tratar mais adiante. São fatos do cotidiano, coisas com as quais convivemos e que muitas vezes nem nos damos conta e que passam despercebidas por alguns de nós.

Já tendo tratado de passagem de três ou quatro desses assuntos, continuemos com um que já tratei diversas vezes aqui. A reforma política e eleitoral. Sem ela, feita de forma correta, não conseguiremos ter um futuro mais esperançoso. Talvez não seja possível fazer uma reforma ampla, geral e irrestrita. Talvez ela precise ser feita em camadas, primeiro garantindo-se eleições gerais com mandatos coincidentes, sem voto proporcional e sem reeleição, suprimindo-se o cargo de senador suplente, papel que passaria a ser protagonizado pelos deputados federais mais votados do partido do senador a ser substituído. Espero que algum de nossos valorosos parlamentares federais use uma dessas idéias em uma emenda ao projeto de reforma que está sendo discutida no congresso nacional.

 Outro assunto que gostaria de um dia desses trazer para nosso bate papo aqui é o desastroso sistema viário de nossa cidade, incluído nessa pauta a péssima qualidade dos motoristas de nossa terra. Estou cada dia mais horrorizado com o que vejo diariamente em nossas ruas e avenidas esburacadas e congestionadas.

O nosso trânsito não é nada se comparado à violência que vem assolando o nosso dia a dia. O que se tem visto é uma banalização da violência, onde a vida humana passa a valer nada ou alguns míseros reais roubados de um pobre taxista.

Dia desses fiquei revoltado ouvindo numa emissora AM o relato de uma série de latrocínios e homicídios decorrentes de casos torpes. Para essa última causa de violência não há prevenção a não ser a educação e a prática da boa cidadania. 

Há também dois assuntos que gostaria de conversar. Você sabe o que é o critério de inamovibilidade? Não acredito que a maioria das pessoas perguntadas dirá que sabe, mas isso é normal, pouca gente sabe o que é isso. Inamovibilidade é a prerrogativa de que gozam certos funcionários públicos de não poderem ser transferidos, senão por seu pedido ou com seu consentimento. É garantida aos magistrados que se conservem permanentemente na comarca a que servem e de onde só serão removidos unicamente a pedido ou por promoção. O mesmo acontece com membros do ministério publico.

Esse critério, que é de certa maneira justo, democrático e republicano, pode – eu disse pode – criar feudos ou paróquias, transformando seus titulares em senhores ou párocos, e isso tem acontecido com certa frequência e temos tido provas disso diariamente.

Comentemos também sobre outro assunto polêmico, os honorários de sucumbência que funcionam como uma espécie de prêmio concedido ao advogado da parte vencedora, em razão do trabalho desenvolvido, referente ao valor da causa e da complexidade da matéria, entre outros critérios de arbitramento judicial.

Até ai tudo bem, o problema, acredito eu, é a aplicação dos honorários de sucumbência nos casos de advogados públicos, procuradores federais, estaduais ou municipais.

Esses dois últimos assuntos certamente resultariam em um bom debate, mas só pelo fato de resvalar neles, minhas orelhas já estão coçando…

Felicidade!

Há muito não posto nada neste blog que não tenha publicado também no Jornal O Estado do Maranhão, mas esse texto se impõe acima de tudo, ele é motivo de um de meus maiores orgulhos.

Abaixo vocês poderão ler o agradecimento do Trabalho de Conclusão de Curso de Publicidade e Propaganda de minha filha Laila Farias Haickel, ser humano que eu mais amo nessa terra, de quem me envaideço só pelo fato de tê-la colocado no chão de meu quarto, onde brincando com ela em frente a um espelho imenso, ela começou a andar e a falar… E aí deu nisso…

Aos meus pais, que me deram vida em meio à
arte e conhecimento.

AGRADECIMENTO

Minha gratidão eterna aos meus pais, por abrirem o caminho para que eu pudesse engatinhar e logo me deixarem andar com minhas próprias pernas, percorrendo os trajetos da minha própria cabeça; minha mãe por ser quem colocou todos os significados e os símbolos, meu pai por ter colocado todas as palavras e suas brincadeiras.

Muito obrigada às minhas irmãs, por aturarem meus surtos de gritaria no chuveiro e o som alto extremamente necessitados esses últimos meses. Nesse caso, devo agradecer também aos meus vizinhos.

Agradeço a todos os professores que, ao longo da minha vida, me incentivaram a questionar e procurar respostas, em especial aos de história, geografia, filosofia, artes e sociologia, e também àqueles que compreenderam eu não me esforçar para obter ótimas notas em suas disciplinas de ciências exatas.

Agradeço também aos professores do curso de Publicidade e Propaganda que se fizeram disponíveis fora da sala de aula em orientação, conselhos ou simples bate papo desde 2007. Agradecimento especial ao prof. Miguel Abdalla pelos livros e pelas discussões, poucas, mas incrivelmente certeiras, que me indicaram caminhos e esclareceram idéias à cerca do tema deste TCC. Ao prof. Emílio Ribeiro pelos conselhos que me ajudaram a incluir mais conteúdo a este trabalho.

Às colegas e ao colega de turma, pelo suporte e apoio mútuo.

Ao meu porto seguro constante, o Red Hot Chili Peppers. À expressão do meu mix S.A., o Avenged Sevenfold. Ao Iron Maiden pelo feeling, ao Anthrax pelo gás e à Stefani Germanotta pela energia.

Ao meu Iacomo e Elácomo. À minha minhoca, à minha flor e à minha 78, pelo abraço apertado em gestos, e às vezes em abraço apertado mesmo. Ao garoto da cabeça que é um papel, pela empolgação compartilhada de um caminho. Ao cara mais chato que você, por estar sempre aqui.

E pra finalizar, agradecimento especial à minha orientadora Lidiane Rocha dos Santos, que só não se vê a auréola acima da cabeça porque ela esconde. Este trabalho não teria sido o mesmo sem o seu apoio, ânimo e mega auxílio, fazendo-se presente mesmo em madrugadas e à distância de um SMS ou tweet.

E ah sim… Obrigada, café!

Luciano e Clara.

Desde que me entendo por gente ouço as pessoas falando e sempre gostei disso. Das canções de ninar e das historinhas que minha mãe lia para nós, aos causos que os contadores de histórias nos narravam nas noites de lua cheia, do programa de rádio da dona Carochinha, as aulas dos professores, os discursos, os debates, falas de todos os tipos e em todas as ocasiões.

Desde 1976, portanto há 36 anos, convivo efetivamente no ambiente político, desde quando meu pai me levou para Pindaré-Mirim, para participar da segunda campanha vitoriosa de meu tio Zé Antonio a prefeito. De lá para cá me tornei um maior apreciador da palavra falada, passei a cultuá-la e a cultivá-la. Passei a admirar os diversos estilos e as diversas formas de dizer-se o que se pensa, o que se sente, o que se precisa dizer, o que deve ser dito.

Nesses anos todos como parlamentar, ouvi e aprendi muito com grandes oradores, como Milet, Sarney e Lobão. Na ALM, ainda neófito, pude aprender vendo e ouvindo Gervásio Santos e Bento Neves. Quando constituinte, pude presenciar importantes discursos de gente como Delfim Netto, Sandra Cavalcante, Tarcisio Buriti, Artur da Távola, Florestan Fernandes… Mais recentemente, de volta a ALM pude ouvir e até debater com Aderson Lago e Helena Heluy, entre outros.

Gosto tanto de narrativas, falas, diálogos e discursos que chego ao cúmulo de escolher trechos de filmes que contenham o melhor desses gêneros e colecioná-los.

Mas na última sexta-feira ouvi uma fala que não foi um discurso, mesmo que tenha sido proferida de uma das tribunas do plenário de nossa Assembleia Legislativa. Não foi um discurso, foi uma espécie de choro, de pranto, um canto de lamento, de dor, de pesar. Mas foi um dos mais bonitos que eu já ouvi naquele ou em qualquer outro lugar.

Foi uma fala firme, forte, corajosa. Feita por uma mulher fragilizada, dilacerada, corroída por uma dor inimaginável. Foi como um sopro de amor, último sopro de um sentimento eterno, uma das mais belas declarações de amor que, graças a Deus eu tive a oportunidade de ouvir.

Clara falou de seu Luciano, para ele. Acabei de notar que os nomes dos dois derivam de luz, talvez por isso produziram juntos quatro raios luminosos em forma de mulher, suas filhas Lara, Lia, Ticiana e Rafaela.

Conheci Luciano Moreira logo que ele chegou aqui, para trabalhar no governo Lobão. A princípio o achei mais um burocrata, daqueles que sabem de tudo na teoria, mas que não conhecem de nada na prática. Logo vi que estava enganado. Os anos se passaram e fui conhecendo-o melhor, mesmo que ainda o achasse muito técnico e pouco político, mas era essa a sua função e ela, ele a cumpria como seu mestre mandava, e o fazia com competência e correção.

Em política, normalmente, quem não é de nosso grupo mais restrito, mais próximo, não é conosco e Luciano só passou a fazer parte do meu grupo mais restrito de amigos nos últimos anos, anos em que a maturidade me fez ver a importância de pessoas como ele. Tempo que também serviu para transformar esse cearense que, como muitos outros, escolheu a nossa terra para arriar ferros e criar raízes, apascentar seu rebanho, cultivar suas sementes e tecer sua rede de amigos. Anos que o transformaram de um tecnocrata inflexível em um político hábil. Se antes ele chocava com seu extremado tecnicismo, mais recentemente, sem perder o conteúdo técnico, ele aprendeu a alquimia que só o tempo e a maturidade, associados à simplicidade e à obstinação são capazes de elaborar.

Luciano sempre foi uma pessoa cordata, um homem educado, fino, elegante. Era até às vezes um pouco formal. Um cavalheiro. Nunca o vi exaltado, sempre se mantinha calmo, sereno, até nas horas mais tensas.

Quando Luciano resolveu que seria candidato a deputado federal, me procurou e pediu que eu o orientasse. Disse-me que gostaria que lhe desse alguma noção de como seria o pleito, da quantidade de votos que seria necessário para se eleger, dos custos de uma estrutura de campanha, pediu que eu indicasse alguns municípios onde ele poderia ser votado e até que lhe dissesse se um ou outro possível apoiador falava-lhe a verdade, pois temia que em sua pouca experiência eleitoral, cometesse algum equivoco que pudesse lhe custar a eleição.

Lembro que ele foi até mim na companhia de sua mulher Clara, de sua filha Lara e de sua secretária Célia. Naquela ocasião disse-lhe que se ele fizesse tudo errado, ainda assim estaria eleito, e que sua eleição seria muito boa para o Maranhão, pois seu ingresso no parlamento representando o nosso estado, o dele também, pois era cidadão maranhense, título que lhe foi outorgado em solenidade em que estive presente e aparteei o orador daquela manhã, saudando o novo conterrâneo… Pois bem, disse-lhe que a eleição dele iria engrandecer sobremaneira nossa bancada. E assim o foi.

Luciano Moreira em muito pouco tempo de efetiva vida política, como parlamentar, conquistou o respeito de todos que com ele puderam conviver. Para ele a moral, a ética e a honra, vinham em primeiro lugar.

O Maranhão perdeu na última quinta-feira, 16 de junho de 2011, um de seus melhores parlamentares, pois ele não era como outros, um simples deputado.  Para ser um, basta que o candidato se eleja. O parlamentar está em um outro patamar, lugar que poucos conseguem galgar.

Se o Maranhão perdeu tanto, o quanto perderam seus amigos, as pessoas que nele confiavam, que dele dependiam? Quanto terá perdido Clara, Lara, Lia, Ticiana, Rafaela, seus netos e demais parentes? Essa pergunta é auto respondida.  Perderam tudo. Mas lembrando do que disse Clara em sua fala, e nela eu pude ouvir e sentir, que em que pese ela, elas, terem perdido tudo, ainda assim ficaram com o melhor, o exemplo, o amor, a oportunidade de terem podido conviver, mesmo que por um breve tempo, com alguém que amavam tanto e que tanto as amava.

Nada mais precisa ser dito.     

Manutenção deve ser a palavra de ordem!

Já escolhi o candidato em quem irei votar para ocupar o cargo de prefeito de São Luis nas próximas eleições. Eu sei que ainda falta mais de um ano para o pleito; sei que a reforma política poderá mudar algumas das atuais regras eleitorais vigentes em nosso país; sei que muitas águas ainda vão rolar por debaixo dessas nossas pontes, que muitos buracos serão abertos e que muitos serão tapados; sei que o tempo é o senhor da razão; sei de tudo isso, estou cansado de saber, mas mesmo assim já fiz a minha escolha e não mudarei de opinião.

O que eu ainda não sei é o nome do meu candidato, mas pelo menos já sei como deve ser ele, já sei quais devem ser suas características principais, com o que ele deve se comprometer, quais devem ser suas metas, o que ele deve propor em seus planos administrativos para nossa cidade.

Em primeiro lugar, o futuro prefeito de São Luis, deve ser um político moderno, capaz de bem se comunicar com o cidadão e com a sociedade. Ele não precisa ser necessariamente um político de grande popularidade, de imensa capacidade eleitoral, já vimos em várias oportunidades que isso não significa muito no resultado administrativo. Ele pode até ganhar as eleições no segundo turno, depois de passar por uma disputa apertada no primeiro e até, antes disso, por uma briga acirrada e intestina no âmbito de seu partido. Não importa. O que importa é que ele, o vencedor, o nosso próximo prefeito de São Luis, não faça nenhuma grandiosa obra nova em nossa cidade.

Calma que eu explico! Não é que não precisemos de novas vias de transporte, de novos hospitais, de melhores áreas de lazer. Precisamos de tudo isso e de muito mais, porém acredito que possamos passar mais algum tempo sem ter essas novas obras, para que possamos recuperar aquelas que já possuímos.

Quando digo que gostaria que o próximo prefeito de nossa capital não fizesse nenhuma obra nova, não quero dizer que nossa cidade já tenha todos os equipamentos necessários para que possamos bem exercer a nossa cidadania, isso não! Mas acredito que teríamos bastante, quase o suficiente, desde que o que temos e tivemos funcionasse ou pelo menos ainda existisse.

Seríamos uma cidade e um estado realmente ricos se tudo que nós um dia tivemos, se tudo em que algum administrador público usou o dinheiro do contribuinte, existisse realmente, desde que essas coisas feitas no passado tivessem a devida manutenção, desde que tivessem o necessário cuidado por parte de nossos gestores públicos e mesmo da população, seríamos uma cidade e um estado no mínimo muito menos pobres.

Você pode imaginar como seria maravilhoso se ainda que apenas no centro histórico, na área do Reviver, circulassem os charmosos bondes de outrora! Se não tivéssemos desativado a Estrada da Vitória e pudéssemos contar com uma linha, que já estava pronta, de metrô de superfície, ligando o centro da cidade até o Distrito Industrial?! Isso só para falar do setor de transporte.

Imaginem agora se, tanto a prefeitura de São Luís quanto o governo do Maranhão, somassem esforços para fazer a Santa Casa de Misericórdia transformar-se em um grande hospital de atendimento de urgência de nossa cidade?! Resolveria pelo menos uma parte dos nossos problemas de saúde, não acham?!

Imagine se a nossa belíssima Biblioteca Pública Benedito Leite estivesse funcionando, se o Costa Rodrigues e o Castelão já tivessem sido reformados, se a Praça do Panteon contasse realmente a trajetória das grandes figuras da história de nossa terra, sem correr o risco do vandalismo.

Você já foi ultimamente ao Mercado Central? Meu irmão Nagib, que vai lá todo domingo, me levou alguns domingos atrás. Fui e confesso que fiquei maravilhado. Em que pese no início da Rua da Inveja haver uma cratera sobrenatural, desfigurando toda a área e impedindo que se visite a bucólica Fonte das Pedras, em que pese o prédio do SIOGE continuar abandonado, em que pese o trânsito caótico, mesmo para um domingo de manhã… Mas o Mercado Central está magnífico. Calma! Eu explico. Ele não está reformado, não está limpíssimo, não está um brinco, mas confesso que ele está muito melhor do que eu imaginava que estivesse. Pensei que ao chegar ali encontraria uma grande zorra, uma sujeira só, uma bagunça. Não, ele não está o que a vigilância sanitária poderia chamar de perfeito, mas está muito melhor que se poderia imaginar.

De tudo, o que mais me chamou atenção no MC foi a cara das pessoas dali. Quase todas as pessoas com quem falei: feirantes e clientes, quase todos tinham um sorriso estampado no rosto. Eta povo bom esse nosso!

Somente ao sair do Mercado Central, me dei conta de que aquilo que eu vi ali era resultado menos da ação da administração pública e muito mais da ação dos próprios comerciantes ali instalados.

Desci a escadaria do mercado, virei e olhei para ele e por um instante, sonhei que o próximo governante de nossa cidade transformaria aquele mercado em um empreendimento parecido com o mercado municipal de São Paulo, para isso não precisa construir um novo mercado em outro lugar, basta reformar aquele e se lembrar de mantê-lo.

Conversando com uma pessoa que teve acesso à última pesquisa sobre o momento político atual e as próximas eleições, sobre a imagem dos governos estadual e municipal, sobre o que poderá acontecer, soube que uma das perguntas da pesquisa girava em torno do que as pessoas mais desejavam como presente para a cidade de São Luís na comemoração dos seus 400 anos e em primeiro lugar aparece a preocupação com a preservação do centro histórico de nossa capital, o que dá todo o respaldo para o governo do estado e a prefeitura municipal implantarem ali todas as suas secretarias e todos os seus órgãos administrativos, resgatando assim de uma vez por todas um maravilhoso patrimônio do passado, que se mantido nos garantirá um patrimônio incalculável para o futuro, isso, além de fazer o que a população deseja.

Audiência pública sobre a reforma política.

 Na última quinta-feira participei como palestrante de uma audiência pública na Assembleia Legislativa do Estado sobre a reforma política. Ela foi presidida pelo deputado Rogério Cafeteira e contou também com as presenças do deputado federal Ribamar Alves, membro da comissão especial da Câmara dos Deputados encarregada da reforma política, do juiz Roberto Veloso, Presidente da Associação de Juízes Federais da Primeira Região e do advogado Eduardo Lula, Presidente da Associação dos Consultores das Assembléias Legislativas do Brasil, ambos especialistas em direito eleitoral, além de contar com a participação da vários deputados estaduais, vereadores prefeitos e representantes partidários.

Iniciei minha fala fazendo dois questionamentos aos presentes, o que suscitou o início dos debates.

“A lei tem que espelhar e garantir a sociedade ou é a sociedade que tem que refletir em suas ações o que preconiza a legislação?” Em minha opinião, a boa lei é aquela concebida sem casuísmos, refletindo os anseios da população e ordenando da melhor forma possível esses anseios.

“A serviço de quem devem estar reformas importantes que tanto precisamos, como a política, a tributária, a fiscal, a do Judiciário?” É claro que é a serviço da coletividade. Não se pode fazer uma reforma tributária que vá beneficiar o Estado em detrimento do contribuinte ou dentre estes, sacrificar demasiadamente o empresário em detrimento do empregado ou vice-versa.

No caso da reforma política, a melhor ação é aquela que visa moralizar o sistema eleitoral, fazendo com que a lei retrate a realidade, que estabeleça formas éticas, justas e viáveis de efetivar-se o voto e a escolha dos representantes da população.

Nesse sentido não se deve buscar por força de lei o fortalecimento das agremiações partidárias, isso é coisa que acontecerá quando conseguirmos melhorar a qualidade dos integrantes dos partidos, de outra maneira o que se conseguirá é simplesmente a criação de uma nova elite, a dos controladores dos partidos.

Quando melhorarmos o nível sócio cultural educativo de nosso povo, o eleitor que há nele irá escolher melhor seus representantes e isso melhorará nossos partidos, portanto a lei eleitoral deve prever apenas ações que possibilitem o máximo possível, a honestidade, a justiça e a igualdade na disputa.

A adoção de leis correlatas como a da Ficha Limpa são indispensáveis nesse processo. Ela garante que condenados por tribunal não participem das disputas eleitorais, coibindo assim a prática delituosa por parte de quem pleiteie cargos públicos.

Comentamos sobre os principais problemas que precisam ser superados, mas aqui, devido o espaço exíguo, tratarei apenas dos mais controversos:

No caso da fidelidade partidária o que precisa ser estabelecido são regras claras e justas que não privilegie o direito coletivo em detrimento do individual, o partido em detrimento do candidato ou do ocupante de um cargo eletivo.

A perda do mandato em caso de mudança de partido é admissível, mas impor-se ao indivíduo votar obrigatoriamente pela orientação partidária, feri de morte a própria carta constitucional em seu mais importante artigo, o quinto. Imagine impor-se a alguém que filosófica e religiosamente seja contrário ao aborto que ele vote favorável a uma lei que estabeleça tal prática!?

Em minha modesta opinião, a forma mais efetiva de sufrágio é o voto unitário, direto e majoritário, onde um eleitor escolhe um candidato para cada cargo em sua circunscrição.

A modalidade de voto em lista fechada me parece um casuísmo dos partidos maiores e mais fortes, principalmente o PT para tentar perpetuar-se no controle político e eleitoral do Brasil. 

O povo brasileiro está acostumado a escolher o seu candidato, mesmo que pouco tempo depois tenha se esquecido de quem escolheu. Transferir essa escolha para os partidos me parece um golpe muito forte no processo de amadurecimento que se busca. Fica uma sensação estranha, algo bem parecido com falsidade ideológica ou estelionato.

O financiamento público das campanhas não irá impedir ou acabar com a participação de dinheiro privado nos pleitos. Pensar o contrário seria tolice. O financiamento público serve muito mais para diminuir as desigualdades financeiras entre os que têm muito recursos e os que não têm nada.

A existência de coligação é própria do tipo de voto proporcional. Se o voto for distrital ou majoritário, essa forma de união partidária não surte o efeito desejado na escolha dos representantes legislativos. A união partidária em um regime de voto majoritário ou distrital transforma os vários partidos em um só.

Quanto à reeleição e a duração dos mandatos, acredito que deveríamos ter eleições gerais e mandatos coincidentes, fazendo com que os mandatários tivessem um compromisso temporal idêntico.

Mandatos um pouco maiores sem possibilidade de reeleição para cargos executivos, coincidindo com os mandatos legislativos nas três esferas de poder.

Aqui, penso que poderíamos fazer uma boa inovação: Acabaríamos com a eleição alternada de senadores, diminuiríamos o tempo de mandato, destes para cinco ou seis anos, aumentando o de deputados e vereadores para o mesmo período e o principal, se admitido o voto majoritário, o distritão, far-se-ia uma eleição única para o congresso, sem divisão de votos de senador e deputado federal. Essa forma de votação resolveria de pronto o caso dos suplentes de senador, pois os senadores eleitos passariam a ser os três candidatos mais votados para o Congresso Nacional e seus suplentes seriam os congressistas eleitos subsequentemente.

De qualquer forma a mudança da legislação eleitoral é urgente, até para que o judiciário pare de legislar, função que não é a sua.

Perfil

“Poeta, contista e cronista, que, quando sobra tempo, também é deputado”. Era essa a maneira como Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel aparecia no expediente da revista cultural Guarnicê, da qual foi o principal artífice. Mais de três décadas depois disso, o não mais, porem eterno parlamentar, ainda sem as sobras do tempo, permanece cronista, contista e poeta, além de cineasta.

Advogado, Joaquim Haickel foi eleito para o parlamento estadual pela primeira vez de 1982, quando foi o mais jovem parlamentar do Brasil. Em seguida, foi eleito deputado federal constituinte e depois voltou a ser deputado estadual até 2011. Entre 2011 e 2014 exerceu o cargo de secretario de esportes do Estado do Maranhão.

Cinema, esportes, culinária, literatura e artes de um modo geral estão entre as predileções de Joaquim Haickel, quando não está na arena política, de onde não se afasta, mesmo que tenha optado por não mais disputar mandato eletivo.

Cinéfilo inveterado, é autor do filme “Pelo Ouvido”, grande sucesso de 2008. Sua paixão pelo cinema fez com desenvolvesse juntamente com um grupo de colaboradores um projeto que visa resgatar e preservar a memória maranhense através do audiovisual.

Enquanto produz e dirigi filmes, Joaquim continua a escrever um livro sobre cinema e psicanálise, que, segundo ele, “se conseguir concluí-lo”, será sua obra definitiva.

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