O mito, o voto e a paciência

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O passar do tempo quase sempre nos priva do que mais precisamos. Enfraquece a vista, os ossos, a memória, e entre outras coisas reduz a paciência. Comigo é isso que tem acontecido, cheguei a um ponto em que a paciência passou a ser uma virtude cada vez mais escassa em mim.

A quantidade que carrego comigo desse ingrediente não é mais suficiente para levar em frente um determinado tipo de conversa. A conversa a que me refiro é a mitificação, seja ela a positiva que torna alguém comum, igual a todos, em uma pessoa cheia de qualidades, quase um Deus, ou a negativa que faz a mesma coisa no sentido contrário, transformando alguém normal em uma pessoa cheia de defeitos, maligna, demoníaca.

É o que tem acontecido no Maranhão e é o que está acontecendo em todo o Brasil, principalmente agora com a realização desse segundo turno da eleição presidencial.

Dilma é a encarnação do Diabo e Serra é a personificação de Deus.

Poderia lançar mão de mil teorias filosóficas, políticas, sociológicas e até antropológicas para comentar o que está acontecendo, mas como já disse, minha paciência está curta, vou tentar ser o mais objetivo possível.

Tenho certeza que você não é ingênuo ao ponto de acreditar em uma história onde de um lado todo mundo é bonzinho, bem intencionado, trabalhador, competente, preparado e honesto, e de outro, todos são maus, cheios de segundas intenções, vagabundos, incompetentes, despreparados, desonestos… É!?

Você já leu a revista Veja nos últimos meses? Se já, você deve ter se perguntado em algum momento como é que eles conseguem, enquanto uma revista jornalística, ser tão partidários. Eu não queria usar os termos que usei em minha última crônica, mas não tem jeito. Culpe minha falta de paciência. A revista Veja é o mais maniqueísta e sectário órgão da imprensa brasileira. Some-se a esses adjetivos, um outro, hipócrita.

Quase metade das páginas da maior revista de nosso país traz reclames publicitários, vende algum tipo de produto. Ousaria até dizer que quase a totalidade das páginas desse semanário, de uma forma ou de outra, até as matérias jornalísticas, estão impregnadas de material comercial, se prestam à venda de algum produto, seja ele tangível ou intangível.

Pois bem, para mim isso já bastaria para votar na Dilma: a Veja é contra ela! A princípio eu voto a favor de tudo que a Veja for contra. Pois eles, os donos e os jornalistas da Veja não são os donos da verdade, não são a palmatória do mundo. Eles não vão me colocar cabresto. (vai aqui um pouco mais de minha falta de paciência)

Mas se isso não fosse o bastante, li em algum lugar que “mantendo a coerência, Zé Reinaldo votará em Serra”. Mas que coerência é essa!? Esse senhor não é filiado ao PSB que faz parte da base de apoio ao PT!? Talvez ele tenha confundido filiado com afilhado, pois assim fica mais fácil trair, já que ele fez isso com seu padrinho, Zé Sarney, que lhe deu todas as oportunidades na vida. (aqui perdi toda paciência que tinha)

Mas para aqueles que acham isso pouco, eu quero dizer que desejo votar em um candidato que tenha compromisso, antes de qualquer coisa com meu Estado. Que vá nos ajudar a implantar a refinaria de Bacabeira. Quero um presidente que conclua a Ferrovia Norte-Sul, que amplie o Porto de Itaqui. Que invista em moradias populares. (preciso de paciência para ter esperança)

Quero alguém que olhe para o Maranhão sem o preconceito paulista de que nordestino bom é só o motorista de taxi, que faz o trânsito de São Paulo não estrangular, só o garçom que serve aos ricos empresários da FIESP, só o pedreiro que constrói os prédios da capital econômica de nosso país. (paciência em zero)

Desculpe, estou sendo contaminado, estou me portando como um desses maniqueístas sectários. Culpa da falta de paciência.

Fui colega de Serra na Constituinte e não me lembro de ter falado com ele algum dia. Foram dois anos de Constituinte e mais dois de Câmara dos Deputados, trabalhando juntos, convivendo nos mesmos ambientes. Lá fiz bons amigos como Artur da Távola, Florestan Fernandes, Wladimir Palmeira, Aécio Neves, Henrique Eduardo Alves, Nelson Jobim, Michel Temer, Amaral Netto, Sandra Cavalcante, Rita Camata, Delfim Neto, Roberto Cardoso Alves, Zé Genuíno e o próprio Lula, apenas para citar alguns. Mas Serra pertencia a uma classe diferente, uma nobreza que não se permitia conviver com os pobres mortais. Haja paciência!

Que Serra é preparado e competente, isso não posso discordar, mas daí a querê-lo como presidente de meu país, a distância é grande, pois não acredito que ele seria um bom presidente para o Maranhão nem para o Norte e Nordeste do Brasil.

Depois desta eleição ficará claro para todos nós que a diferença fundamental entre um político e outro, tenham eles todas as qualidades e os defeitos possíveis, é fundamental e simplesmente o que você espera dele.

Estão esperando muito de Serra. Eu espero pouco de Dilma. Só espero que ela faça o feijão com arroz, isso já vai estar muito bom.

PS: Antes que alguém me cobre coerência, tudo que disse sobre a revista Veja vale para todos os meios de comunicação ou organismos jornalísticos que tomam partido de forma descarada e acintosa. O jornalismo pode ser opinativo, filosófico, ideológico, mas jamais ao ponto de deixar de ser informativo, democrático e isento.

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Teste sobre a Democracia

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Uma pergunta me persegue há alguns dias e gostaria que você me ajudasse a responder essa questão.

Quando uma democracia é mais sólida e estável?

A) Quando ela aguenta os solavancos ocasionados pelos acontecimentos, pelos impactos do dia a dia, absorvendo imediatamente essas trepidações e dissipando as tensões ocasionadas por elas através de suaves vibrações, como acontece com as pontes.

B) Quando ela assimila lentamente os ingredientes de seu bolo alimentar, se contrai, se movimenta, digere e expurga os dejetos resultantes desse trabalho como faz o aparelho digestivo dos mamíferos.

C) Quando ela sobrevive ao despreparo, à incapacidade e à insensibilidade de seus mandatários, escolhidos legitimamente pelo povo, que na escolha destes, quase sempre age de forma emocional e não racional.

D) Quando ela constata que as próprias instituições, os poderes que lhe formam e constituem, apesar de frágeis, débeis e corruptos, sustentam todo o peso e o esforço sobre si e continua em movimento, apesar de tudo.

E) Quando ela aguenta, assimila e sobrevive ao constatar todos os seus problemas, e possibilita a discussão, a análise, e a solução desses problemas através da educação de seu povo e da eliminação dos erros cometidos assim como de seus agentes.

F) Quando uma bolinha de papel é capaz de mudar o voto de um eleitor consciente, convencido de que ela e as balas de uma metralhadora são a mesma coisa, quando usadas da maneira errada, encarada da forma indevida.

G) Nenhum das alternativas anteriores.

H) Todas as alternativas anteriores.

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Conversa com fiador.

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Tenho deixado que o tempo passe para que eu possa maturar os acontecimentos, assimilar os fatos e os sentimentos resultantes deles e sintetizar de forma mais efetiva e verdadeira tudo o que se passou antes, durante e logo depois dessas últimas eleições.

O fato de não ter me candidatado me deu a possibilidade de ver com mais clareza, com menos comprometimento, todo o cenário e observar mais atentamente os personagens dessa história. Pude analisar o roteiro com mais liberdade. Alforriei minha intuição antes um tanto escravizada pelo instinto de sobrevivência eleitoral do “deputado”. Observei o figurino, a iluminação, o som, os figurantes. Procurei fazer isso sem nunca perder o foco, a coerência.

Eu já via antes e tenho visto hoje que infelizmente, cada vez mais, a política de um modo geral, principalmente a maranhense, torna-se mais maniqueísta e sectária.

Maniqueísmo, como já disse em outra oportunidade, é a filosofia dualística que divide o mundo entre o Bem e o Mal, entre aqueles que são de Deus e os que são do Diabo. Diz que a matéria é intrinsecamente má, e o espírito, intrinsecamente bom, fato que define sua falha crucial, pois se não houver espírito, não haverá o bem, só haverá o mal, não permitindo nem um meio termo.

Maniqueísta então passou a ser o adjetivo dado a tudo que estabelece o confronto entre duas teses ou correntes, deixando claro desde logo que um é mau e o outro é bom.

Já o substantivo sectarismo, que é usado geralmente com conotação pejorativa, pode ser definido como visão estreita, intolerante ou intransigente. Muitas seitas, religiões, correntes filosóficas e políticas têm uma visão proselitista das verdades que pregam, assim sendo, algumas atitudes de grupos ideológicos também passam a ter comportamentos sectários na defesa ferrenha de seus ideais.

O maniqueísta sectário é a pior espécie de pessoa que pode haver. O sujeito não vê as nuances, só o preto e o branco, o claro e o escuro, e ainda por cima acredita que o jeito dele pensar é o único possível, o único correto e não admite que outros divirjam. A existência desse tipo de gente não é privativa deste ou daquele grupo, tem deles por todo lado.

Foi com atores com essa formação que se fez o show das últimas eleições, foi esse o enredo que assistimos na última campanha e que ainda estamos vendo nesse segundo turno da eleição presidencial.

No Maranhão, de um lado a “oligarquia” e do outro os “paladinos da justiça”, os “mocinhos” da história.

O mais engraçado é que havia dois atores lutando desesperadamente pelo papel de mocinho. A certa altura me senti num Western antigo, onde dois pistoleiros duelam para ver quem teria o privilégio de desafiar o velho delegado, que na juventude desbancou o chefão do local, estabelecendo-se na cidade. Sempre a mesma velha história.

Acontece que no calor da luta, e isso ocorre com todos, nos esquecemos de alguns fundamentos básicos de lógica e de coerência, duas coisas indispensáveis em tudo na vida, em roteiros de cinema e em campanhas políticas também.

Há dois anos, logo que Castelo venceu a eleição para prefeito de São Luís, eu disse que o deputado Flávio Dino faria de tudo para comandar a oposição ao grupo Sarney.

Disse então e repito agora que o projeto de Flávio, mais que ganhar aquela ou essa eleição, era o de sepultar todo aquele que pudesse se arvorar de líder dos desejosos de tomar para si o poder em nosso Estado. Ele é capaz, preparado e jovem, tem o tempo a seu favor, mas falta-lhe elenco, equipe técnica, produção…

Definitivamente nós temos ganhado todas essas lutas porque nossos opositores são bem piores que nós. Todas essas vitórias tem nos feito cometer um erro básico, oriundo de um ensinamento do grande filósofo do futebol, Neném Prancha: “Time que está ganhando não se mexe”.

Mesmo perdendo a eleição ao governo, Flávio Dino passa a ser agora a referência de oposição que temos. Jackson que teve uma votação insignificante em São Luis despede-se da política de forma triste, menos devido à sua biografia e mais por causa de suas escolhas quase sempre equivocadas. Imperatriz nos manda um recado: “Ei pessoal! Levem-me a sério. Parem de tentar resolver os problemas amadoristicamente”. Balsas e Santa Inês são reflexos da nossa falta de ligação direta com as cidades, com o povo. Turiaçu é um caso raro da conseqüência do trabalho dos adversários.

Com sua performance eleitoral Flávio enterrou a quase todos os seus parceiros: Jackson aposentou-se. Zé Reinaldo é o que sempre foi – nada. Vidigal pode se candidatar a prefeito de Caxias ou a deputado, mas é só. O único que continua vivo é Roberto Rocha que além de jovem sonha com o apoio dos governadores de seu partido, o PSDB, que irão começar a trabalhar o nome de Aécio Neves, caso Serra naufrague. Castelo e Madeira navegam nas mesmas ondas, mas contra eles jogam o tempo e o espaço respectivamente.

Emerge destas eleições, no entanto, um nome novo. Edivaldo Holanda Júnior que obteve uma magnífica votação em São Luis e tem tudo para abocanhar uma parte importante da oposição e até uma fatia considerável do grupo Sarney, torrão no qual me incluo, em torno de uma futura candidatura sua a prefeito de São Luis. Mas isso é tema para outra conversa.

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Deus existe Sim!

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Depois de muito pensar cheguei à mais importante conclusão de minha vida. Conclui que Deus realmente existe.

Essa minha declaração será, “de certa forma”, um alívio para minha mãe e minha mulher que insistem em querer salvar do inferno minha alma, segundo elas, imortal.

Para elas e para muita gente, apenas cogitar sobre a existência de Deus, já me coloca com um pé na soleira da porta de entrada dos domínios do Tinhoso. Veja só, logo eu que sempre desacreditei nessa história de Lúcifer, Satanás, Belzebú! Logo eu que jamais acreditei na história contada por aqueles que teimam em estabelecer um cenário de conflagração entre Deus e o Diabo.

Tendo chegado à conclusão de que Deus existe, resta agora saber se Deus nos criou ou fomos nós quem lhe demos vida. Vixe! Desagradei minha santa mãezinha!

É… Porque junto com essa minha conclusão definitiva de que Deus existe, me veio outra! De tanto pensar esbarrei em uma teoria que não deve ser original, certamente não fui eu o primeiro a formulá-la. A teoria diz que não foi Deus quem criou o homem à sua imagem e semelhança, foi o homem primitivo quem criou Deus. O criou para satisfazer a sua necessidade de justificar a grandeza de sua existência e a grandeza do mundo, do universo em sua volta. O Deus criador do homem primitivo fazia-lhe o mesmo efeito de um poderoso medicamento capaz de curar enfermidades graves ou simplesmente extirpar a dor mais lacerante. A existência de Deus nos primórdios da humanidade servia como ainda hoje serve e acho que deve continuar a servir, de alento para suas dúvidas mais inexplicáveis.

Coloquemo-nos no lugar do homem primitivo: O mundo existe. Nós o vemos, o pegamos, vivemos nele e dele. Descobrimos então que temos a capacidade de questionar: Quem criou tudo isso?

Sempre tem que haver um criador. Para os gregos foi Zeus, para os romanos, Júpiter. Mais perto de nós, os Astecas acreditavam que Quetzalcóatl criou o universo e tudo que há nele, enquanto os Maias lhe deram o nome de Kukulcán. Outros acreditavam noutros deuses. No início da civilização humana, para cada povo havia um Deus criador e invariavelmente, um Deus para cada ramo da atividade humana, para suprir sua necessidade de acreditar em algo maior, para dar ao homem o conforto e a esperança de que algo superior e inexplicável pode lhe ajudar se e quando ele precisar. Deus é o pai intangível.

Enquanto o homem primitivo criou uma infinidade de deuses, foi o homem mais evoluído quem criou a teoria de um único Deus, capaz de resolver tudo que imaginavam que os outros resolveriam. A idéia do monoteísmo é a mais inteligente postulação teológica. Um Deus onipotente, onipresente e onisciente. Um Deus infalível. A partir dai passou a se construir todos os enredos das três grandes religiões ocidentais.

A história elegeu Abraão como sendo o primeiro a advogar a existência de um Deus único, por isso ele é considerado o pai de judeus, cristãos e mulçumanos. Que ironia!

Em minha opinião são as religiões as grandes responsáveis pelo caos em que nos encontramos. Para chegarmos a essa conclusão basta que estudemos um pouco a história do mundo e do homem nos últimos cinco mil anos.

Mas vamos voltar ao ponto: Só a Abraão e alguns eleitos, (eles mesmos se elegeram) foi dado o direito de conhecer a face de Deus. Não me lembro de Moisés ter relatado como se parecia o criador. Nem Maomé, que disse apenas tê-lo ouvido.

Os dois, tanto Moisés quanto Maomé, se observarmos bem, eram em última análise simplesmente políticos, da mesma espécie que hoje todos abominam, com um agravante que para mim é a pior de todas as coisas, exerceram o poder político através do viés da religião, transformando seu seguidor em algo mais que um correligionário, transformando-o em um fanático religioso.

Tanto Moisés quanto Maomé foram tão políticos quanto são aqueles que hoje, na mesma área geopolítica conflagrada deles, o Oriente Médio, agem como seus representantes, desestabilizando o nosso planeta, plantando e colhendo ódio e intolerância.

Nessa altura do campeonato muitos vão estar me chamando de blasfemo. Pobres coitados, não sabem que mesmo se Deus existir da forma que eles pensam e não da forma que imagino ser, ainda assim, estarei eu num dos camarotes do céu, assistindo o martírio deles no purgatório de Dante, pois segundo consta o Deus deles nos deu um cérebro para cogitar e se não o usarmos, não estaremos honrando seus desígnios. Será que Deus nos deu o livre arbítrio para nos esquecermos dele, numa caixa obscura em nossa mente? Ou não foi Deus quem nos deu o livre arbítrio?

Mãe, eu acredito em Deus, só não é o mesmo Deus de Papas corruptos, Pastores extorquistas, Rabinos hipócritas ou Aiatolás fanáticos.

No entanto, me identifico como seguidor de Jesus. Do Jesus homem, aquele que se preocupava com os desvalidos, com as crianças, os enfermos, os pobres… O Jesus em quem acredito não é propriedade de nenhuma religião, é o exemplo que busco seguir e sei que sou muito pouco para acompanhá-lo, mas tento.

Meu Deus é como bálsamo, que me cura de todas as dores e me conforta em minha aflição. Meu Deus não é refém de nenhuma religião e Ele não permitiria que seus seguidores queimassem livros sagrados de outras religiões, nem disseminassem intolerância ou ódio.

PS: Muito recentemente fui colocado à prova em minha fé. Minha mãe caiu (ela tem 81 anos), quebrou o úmero e o fêmur e precisou fazer cirurgia. Eu passei mais de uma semana rezando incessantemente para esse mesmo Deus que eu às vezes duvido de sua divina existência.

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Pendências

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As planilhas abaixo mostram os cálculos de vagas por coligação para deputado estadual e federal.

Veja as modificações que podem acontecer caso os votos que estão dependendo de julgamento por parte do TSE venham a ser contabilizados como válidos.


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Resultado do estudo de coeficiente e vagas para deputados no Maranhão

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Comparação de estudo

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Para um bom entendedor III

Para um bom entendedor II

Para um bom entendedor I

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Para um bom entendedor III

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Do Blog de Robert Lobato

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Meu amigo, o jornalista e blogueiro Robert Lobato, comentou em seu blog o meu artigo do último domingo. Abaixo eu reproduzo seu post e acrescento a ele o comentário que fiz.

Sempre é bom polemizar com que tem conteúdo, ainda que nossas ideias e ideais não convirjam com aquele com que se polemiza.

Dessa forma, volto a polemizar como meu amigo deputado Joaquim Haickel, que neste domingo voltou a escrever um bom artigo, mas que me sintir na obrigação enquanto seu leitor crítico de fazer algumas ponderações.

Em “Bem-aventurados os que sonham”, o velho e bom Quincas faz um relato onírico onde se viu governando um Estado que não era o Maranhão (Freud explica…).

Nessa viagem onírica, o “governador” Joaquim Haickel faz uma reforma administrativa no seu estado unificando várias secretarias (Educação e Cultura não é uma boa, é retrocesso) e cria a “Secretaria de Promoção Social, que trataria dos assuntos das crianças, dos jovens, dos idosos, dos negros, das mulheres e das minorias”. É exatamente aqui que reside a minha inquietação em relação ao artigo do nosso cineasta.

Ora, sabemos que as chamadas secretarias setoriais, sempre foram uma bandeira defendida pelos movimentos sociais como forma de garantir que o Estado cumpra com algumas das suas funções de forma focada no problemas específicos de vários segmentos da sociedade.

O governo Lula, por exemplo, avançou muito nessa questão e estão aí os Ministérios da Mulher, Igualdade Racial etc. Ou seja, não é uma boa, nem em sonho, fundir secretarias que representam a maneira mais segura e eficiente de garantir com que as políticas públicas de gênero, raça, cultura, indígena, meio ambiente etc, sejam implementadas pelo Estado.

Faço essas ponderações, amigo Quincas, porque vai que a tua candidata ganhe as eleições e resolva transformar o teu sonho em realidade? Não seria só um retrocesso em muitas ações governamentais afirmativas conquistadas no governo Jackson Lago, mas uma desconsideração ao governo do presidente Lula, que o seu seu grupo jura amor todos os dias no programa eleitoral gratuito.

Meu comentário

Meu querido e bom amigo Robert Lobato é com grande satisfação que faço esse comentário em seu blog, que, diga-se de passagem, leio sempre, ainda mais quando seu post faz alusão a um artigo deste humilde escrevente.

Começo pelos seus primeiros parênteses: (Freud explica…). Meu amigo esse Sigmund explica coisas que até Deus duvida… Principalmente quando se trata de um político que é escritor e cineasta e que sonha que governa um Estado que não é o seu. Não sei ao certo qual seria a explicação do mestre S.F. quanto a isso. A minha, é que no mais profundo do meu inconsciente não quero causar ciúmes em Roseana, não quero contrariar as expectativas do doutor Jackson de voltar ao poder, e não quero privar Flávio de realizar seu sonho juvenil. As mesmas coisas pode se aplicar aos outros três candidatos, aos quais sempre confundo quem é quem.

Depois devo comentar o cerne da questão que é a sua discordância com o meu sonho. Você diz que é um retrocesso a reunificação da Secretaria de Educação, Cultura e Esporte. Eu lhe digo que seria melhor reunificá-las que vê-las funcionando mal como tem funcionado nos últimos oito anos, cinco de Zé Reinaldo, dois de Jackson e um de Roseana. E olha que esse um de Roseana só não está melhor porque ela herdou os cacos dos sete anos anteriores que quase acabaram com esses três importantes setores da administração pública (Vide o Ginásio Costa Rodrigues).

Em meu sonho o secretario dessa pasta seria um estadista que agiria em prol da educação usando o ensino formal, a cultura e o esporte para a verdadeira capacitação dos jovens e dos cidadãos de um modo geral. Para cada um desses setores haveria um secretario adjunto executivo, responsável por gerir tal função.

A mesma mecânica se aplicaria à Secretaria de Promoção Social, que trataria dos assuntos das crianças, dos jovens, dos idosos, dos negros, das mulheres e das minorias. Imagine que à frente dessa estrutura eu colocasse minha amiga Helena Heluy e que disponibilizasse à ela todos os instrumentos necessários para fazer funcionar todos esses setores!? Duvido que não funcione assim, unificado, muito melhor do que funcionava anteriormente, sete anos, tempo que deixou-nos uma herança macabra, tempo de políticas eminentemente partidárias.

A proliferação de pequenas secretarias setoriais, sem nenhuma estrutura que possa realmente sustentar as ações necessárias para que possa atingir seus objetivos, em minha opinião é contraproducente, além de causar um inevitável empreguismo.

Quero, no entanto, relembrar ao amigo que o meu texto é um mero relato de um sonho que tive, ao mesmo tempo em que me sirvo de uma frase de sua lavra, já citada aqui, para encerrar esse comentário: Freud explica! (O sonho é, em alguns casos, a vontade reprimida do consciente, manifestada pelo inconsciente durante a fase REM do sono)

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Bem-aventurados os que sonham

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Assisti recentemente ao filme “A Origem”, dirigido pelo excelente Christopher Nolan e estrelado por um maduro Leonardo diCaprio.

O filme trás à baila uma antiga discussão sobre as possíveis dimensões ou camadas da consciência humana e coloca em cena a obscura, mas atraente função do sonho como espécie de lubrificante de nossas engrenagens psicológicas, ao mesmo tempo em que o estabelece como combustível essencial por um lado, ainda que alternativo por outro, para que atinjamos nossos objetivos na vida.

No filme, o sonho passa a ser tão importante quanto a realidade, de tal maneira que pessoas se especializam em invadir o sonho dos outros, raqueiam suas mentes, apoderam-se de seus segredos e mudam os destinos de todos.

Quando era criança, eu praticava uma técnica inventada por mim mesmo, que consistia em programar ou induzir o sonho que eu queria ter. Bastava que eu idealizasse exaustivamente um enredo antes de adormecer. Fazia isso com tanta freqüência que meus sonhos passaram a fazer parte de minha realidade e de certa forma compunham meu dia a dia, compensando, completando ou suprindo o que não existia ou não acontecia enquanto estava acordado.

Acredito que boa parte de minha aptidão com a literatura e o cinema venha daí. Criava meus roteiros dentro de minha cabeça, e eles se transformavam em filmes nos meus sonhos, projetados na fase REM, reservada exclusivamente para esse dispositivo cinematográfico interno que nós humanos temos e que imagino que realmente possa um dia servir como porta para uma outra dimensão, ainda desconhecida.

Usei essa introdução para contar sobre uma experiência parecida com essa que tive muito recentemente.

Depois de um dia exaustivo de trabalho, tendo passado a manhã inteira na Assembléia, limpando a pauta de projetos a serem apreciados e votados e toda a tarde atendendo às pessoas que procuraram o comitê de nossa coligação eleitoral, e por fim, à noite participando de uma reunião do comando da campanha, finalmente cheguei em casa. Tomei um bom banho e me deitei para dormir, não sem antes dar um beijo em minha mulher de quem passara todo o dia distante. Conversamos um pouco e sem sentirmos, tanto ela quanto eu, fomos adormecendo.

Sonhei que eu havia me elegido governador de meu Estado, que não era o Maranhão. O cenário era outro, os personagens eram outros, mas o lugar era bem parecido com aqui, com esse mesmo incrível potencial.

Eu era uma espécie de peixe fora d’água. Em pleno sonho, fiz uma autocrítica e me comparei ao personagem de James Stewart em “Mr. Smith goes to Washington”.

Era candidato a vice-governador, graças a uma barganha de meu partido, e fui alçado à condição de titular do cargo porque o cidadão que era a cabeça de minha chapa faleceu uma semana antes do pleito, vítima de infarto fulminante. Em meu sonho o candidato a governador era meu pai, Nagib Haickel, só que no sonho eu não era seu filho.

Depois da vitória e das comemorações meu sonho pula para meses na frente, quando estava dando posse ao secretariado de estado.

Como governador eleito, tendo sido um mero substituto, me senti no dever e na obrigação de aproveitar a oportunidade para mudar o rumo da história de minha terra. Chamei as pessoas mais qualificadas, capazes de realmente mudar o panorama das coisas, mas sempre agindo partidariamente, com lealdade, correção e eficiência.

Fiz uma profunda reforma administrativa. Criei uma Secretaria de Governo, função de uma espécie de primeiro ministro, de minha total confiança, alguém ungido por mim, obedecendo ao preceito básico de que “não se nomeia quem não se pode demitir”. Solucionei esse problema estabelecendo que no ato da posse, todos os secretários assinassem um pedido de demissão com a data em branco.

Descentralizei a administração criando secretarias regionais realmente autônomas, mas comandadas por um Secretario Geral das Administrações Regionais. Juntei secretarias com funções similares como Educação, Cultura e Esportes, indicando para ela um secretário respeitado e prestigiado e quantos subsecretários fossem necessários para execução de um plano de governo simples, mas revolucionário para aquele setor.

Nessa mesma linha, criei uma Secretaria de Promoção Social, que trataria dos assuntos das crianças, dos jovens, dos idosos, dos negros, das mulheres e das minorias.

Reunificaria a Agricultura, dando as funções executivas de cada área a um secretario adjunto capaz de fazer o Estado encontrar a sua grande vocação agrícola.

Uni Indústria e Comércio a Minas e Energia e fiz um grande eixo de desenvolvimento, responsável em viabilizar a tão sonhada industrialização do Estado, baseando-a em nossa independência energética.

Algumas Secretarias não mudariam em muita coisa (me refiro a sua estrutura!), como Saúde, Obras, Meio-Ambiente, Ciência e Tecnologia, Turismo… Mas passariam a ser como as outras, extremamente cobradas no sentido de apresentarem resultados verdadeiramente positivos, tendo rendimento semelhante ao da iniciativa privada.

Meu sonho dá então um novo salto temporal e eu apareço velhinho, de terno branco de linho, bengala e chapéu, andando por uma praça. Quem me visse certamente se lembraria do coronel Ramiro Bastos, personagem magistralmente interpretado por Paulo Gracindo na novela Gabriela, baseada na obra de Jorge Amado.

Sento em um banco da praça e ao levantar a cabeça contemplo uma estátua, ao estilo Benedito Leite, só que erigida em minha homenagem.

Aparece então um menino, que na verdade era eu quando criança, que se senta ao meu lado e pergunta sobre o homem da estátua, ao que respondo com misto de orgulho e satisfação: “Foi um menino assim como você. Ele sonhava muito e teve a oportunidade de realizar seu sonho, com isso mudou seu destino e o destino de seu povo”.

Acordei assustado, mas ainda sentindo o prazer de ter podido, pelo menos em sonho, viver aquilo tudo.

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