Louvação a São Benedito

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Em pleno agosto de São Benedito, a Praça dos Catraeiros, ao lado da Casa do Maranhão, na Praia Grande, viverá um momento especial neste sábado, dia 14.

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Um encontro entre os tambores dos quilombos de Minas Gerais com o tambor de crioula dos negros do Maranhão. O evento comemora em São Luís os 22 anos da Fundação Cultural Palmares e terá ainda um convidado especial: o grupo paulista A Barca, que faz um primoroso trabalho de pesquisa e difusão dos ritmos tradicionais brasileiros.

O Encontro de Tambores Afrodescendentes com a Cultura Popular começa às 19 hs deste sábado e será aberto pelo Tambor de Taboca da Casa Fanti-Ashanti, que convida o grupo A Barca para uma grande celebração.

Em seguida, entra na roda o Tambor de Crioula Prazer de São Benedito, do Mestre Apolônio, que chama para o encerramento da noite o Tambor de Matição, vindo diretamente dos quilombos de Minas Gerais trazendo ritmos como o Candombe e canções do folclore mineiro. Um encontro para aproximar culturas, fortalecer identidades. Um encontro para entrar na história das rodas de tambores do Maranhão.

Fundação Palmares

Criada em 1988, no clima da reconquista das liberdades democráticas e do centenário da Abolição da Escravatura no Brasil, a Fundação Cultural Palmares tomou para si o combate à intolerância racial no Brasil, buscando potencializar a participação da população afro-brasileira no processo de desenvolvimento do País. Foi o primeiro órgão de Estado a ter como eixo central a questão racial, mais especificamente a cultura e o patrimônio afro-brasileiro.

A criação da Fundação foi uma resposta às pressões do movimento negro organizado no Brasil, que lutava pela oportunidade de contribuir para uma mudança mais rápida da realidade brasileira. Em mais de vinte anos de história, a Fundação Palmares protagonizou várias ações e iniciativas de forte impacto sociocultural, como a certificação de mais de 1.340 comunidades remanescentes de quilombos, a criação do Observatório Afro-Latino e a inauguração do Parque Memorial Quilombo dos Palmares, entre outras. Foi a primeira instituição pública a debater o sistema de cotas raciais nas universidades públicas brasileiras e tem financiado pesquisas e publicado inúmeros livros com o objetivo de complementar a formação de professores e lideranças. 

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O Tambor de Crioula é uma manifestação que só existe no Maranhão, mas que aos poucos vem se tornando conhecida e difundida pelo Brasil inteiro, principalmente depois que foi tombada, em 2009, como patrimônio imaterial do povo brasileiro. É uma dança de divertimento e ao mesmo tempo uma forma de pagamento de promessa a São Benedito , que é santo preto e gosta de tambor. São Benedito é sincretizado com o vodum jeje-nago Averequete, originário do Daomé.

O Tambor de Crioula não é considerada uma manifestação religiosa e sim uma “brincadeira”, que pode ser realizada em qualquer local e época do ano, inclusive no carnaval e em apresentações públicas. Homens tocam três tambores longos, com couro em uma só boca e entoam toadas conhecidas ou de improviso. Mulheres cantam e dançam, dando entre si uma “punga” ou umbigada, numa espécie de convite à dança. (trechos de artigo do pesquisador Sérgio Ferreti)

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Tambor de Taboca

O Abanijeun é um grupo de tambor de crioula de taboca, formado por crianças e adolescentes da Casa Fanti Ashanti, tradicional comunidade de São Luís, que preserva há décadas manifestações culturais de matriz africana. O tambor de crioula de taboca (um tipo de bambu) é uma variante do tambor de crioula, bastante difundido no Maranhão e que agora começa a ganhar o país. Abanijeun significa “aquele que divide o prato com os outros”. Graças a esse trabalho, a tradição do tambor de crioula, que corria o risco de ser extinta, é passada a futuras gerações.

A Casa Fanti-Ashanti foi fundada em 1954. Os Fanti e os Ashanti eram povos da antiga Costa do Ouro, na África, atual República de Gana. Em São Luís, a Casa de Fanti-Ashanti fica localizada no bairro do Cruzeiro do Anil. É uma Casa de Mina e Candomblé que mantém a tradição desde sua fundação. Além dos rituais do Tambor de Mina, do Candomblé e das festas para os orixás, a Casa também realiza o “Samba de Angola” para os boiadeiros. Há também rituais ligados à pajelança, ao catolicismo popular (Divino Espírito Santo) e ao folclore ,como o boi de Corre Beirada e o Tambor de Taboca. O chefe do Terreiro, Euclides Menezes, herdou seus conhecimentos religiosos do antigo Terreiro do Egito, que funcionou até o final da década de 70.

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Tambor do Matição

O Tambor do Matição surgiu no ano de 1998, na cidade de Jaboticatubas, região da Serra do Cipó, a 70 quilômetros de Belo Horizonte. Mato do Tição é uma espécie de quilombo encravado na zona rural do município.

O grupo procura, com seu trabalho, preservar e perpetuar um pouco das tradições vivenciadas ali. O folclore mineiro, as tradições, a religiosidade, tudo isso é incorporado às canções que retratam as tradições do congado, o candomblé e a folia de reis, além de inserção de canções do Vale do Jequitinhonha. Mas sua música não se prende apenas às fronteiras do Estado de Minas, ela também incorpora algumas influências de diversas outras regiões brasileiras.

Um dos principais ritmos difundidos pelo grupo é o Candombe, ritual afro que antes era vedado a não-iniciados. O ritual estava para os negros como a maçonaria para os brancos. No passado, os tambores de Candombe eram objetos sagrados. Havia rituais para a iniciação tanto de novos tambores quanto de novos percussionistas. Pesquisadores acreditam que, a partir do Candombe, teriam nascido outras duas manifestações culturais: o Congado e o Moçambique.

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Tambor de Mestre Apolônio

O Tambor de Crioula “Prazer de São Benedito” de mestre Apolônio Melonio foi fundado 1980, no bairro da Floresta, na Liberdade, em São Luís. É um grupo tradicional que procura preservar a cultura popular maranhense respeitando os costumes e valores da história do tambor de crioula.

Nascido em um lugarejo chamado Canarana, no município de São João Batista, na Baixada Maranhense, Mestre Apolônio começou cedo sua vida cultural. Fundou o seu primeiro grupo de Bumba-Meu-Boi ainda na década de 40 e no início dos anos 70 criou em São Luís a Turma de São João Batista ou Bumba-Meu-Boi da Floresta.

Ao longo dos anos, recebeu muitas homenagens pela sua grande contribuição à preservação da cultura tradicional do Maranhão. Em 2005, no Rio de Janeiro foi reconhecido com o troféu “ORILACHÉ” que significa na língua dos Iorubás “a cabeça tem o poder de realizações”, concedido pelo grupo Afro – Reggae, pelo trabalho social com os jovens na comunidade da Floresta, no bairro da Liberdade.

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A Barca

A Barca é um grupo paulista que pesquisa gêneros tradicionais brasileiros desde 1998. Partindo da reflexão sobre o fazer artístico e suas responsabilidades estéticas e sociais, realiza um amplo trabalho de criação de espetáculos, documentação, arte-educação e produção cultural.

O trabalho da Barca partiu do estudo e do diálogo com a obra de Mário de Andrade, levando o grupo a mergulhar nas incontáveis manifestações populares do Brasil e estabelecer laços com diversas comunidades, entre elas a Casa Fanti-Ashanti, no Maranhão, com quem lançou em 2002 o CD Baião de Princesas. O trabalho inclui coletar material musical nos locais onde as manifestações acontecem Brasil adentro, analisá-lo, criar arranjos e até mesmo composições inéditas inspiradas por este material.

O grupo divulga os resultados de suas pesquisas através de gravações e realização de espetáculos. Além de realizar centenas de espetáculos, oficinas e gravações pelo país, o grupo produziu os CDs Turista Aprendiz (2000); Baião de Princesas (2002); a caixa Trilha, Toada e Trupé (2006) – três CDs e um DVD documentário e a Coleção Turista Aprendiz (2007), sete CDs e sete curtas documentários com outros registros desta viagem.

Nesta apresentação vamos contar com a seguinte formação: André Magalhães (bateria e percussão), Ari Colares (percussão), Chico Saraiva (violão), Juçara Marçal (voz), Lincoln Antonio (piano), Renata Amaral (contrabaixo elétrico), Sandra Ximenez (voz) e Thomas Rohrer (rabeca e saxofone). 

Foto: Beto Matuck

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