Milongueiro

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Vitor Ramil (na foto de Ana Ruth) está de volta com o álbum “Délibab”, palavra húngara para “miragem”, cujo as raízes, segundo o músico gaúcho, significam “ilusão do sul”.

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“A mídia é obcecada em agradar todo mundo, a mídia quer ser unânime“.

Ancorado nessa ideia, ele foi a um estúdio de Buenos Aires lapidar a milonga, gênero que escolheu como estandarte de sua estética do frio, e homenagear dois de seus heróis: o brasileiro João da Cunha Vargas e o argentino Jorge Luis Borges.

De seu jeito, os poetas retratam um modo de vida sulista, comum a regiões do Rio Grande do Sul, Argentina e Uruguai, que de certa forma ficou perdido na história.  Mais ou menos como o délibáb, fenômeno físico responsável por transportar, em dias de calor, cenas distantes de uma planície a outra. Uma miragem, mas real. Em um longo texto que escreveu sobre o álbum, Vitor explicita a relação entre as milongas e o délibáb: “seria documentar uma projeção de imagens remotas, de arrabaldes buenairenses e ambientes campeiros, na urbanidade de nossos tempos atuais; seria registrar minha visão do que já fora visto por outros em outra parte”.

Essa reflexão espelha um pouco da consciência do compositor, que se converteu em teórico em 1997 com o disco Ramilonga. Ali, Vitor lançava as bases da “estética do frio”, termo que concebeu para abarcar as diferenças da cultura gaúcha, indecisa entre a tropicalidade brasileira e o frio dos pampas, incomum ao resto do país.

O frio como elemento estético, não climático. O conceito rendeu convite para uma palestra na Suíça, transformada em livro (“A Estética do Frio”) e tem norteado seus álbuns e romances – “Pequod” (1999) e “Satolep” (2008), nome invertido da cidade onde nasceu e vive, Pelotas, constante em sua obra. Parte dessa trajetória está documentada no DVD que acompanha délibab, em um documentário que registra bastidores das gravações e as andanças de Ramil pelo interior gaúcho e Buenos Aires.

O irmão mais novo da dupla Kleiton e Kledir – estreou na música aos 18 anos, com Estrela, Estrela, que muito tocou na Mirante FM, dos anos 80. Em entrevista ao IG, Vitor Ramil explicou que “milonga” vem de um dialeto africano e significa “palavras”. “Pode-se dizer, então, que a milonga é uma música que está a serviço das palavras”, explicou. Acompanhado pelo violonista argentino Carlos Moscardini, único convidado do disco ao lado de Caetano Veloso, Ramil já levou o show de lançamento de délibáb a Porto Alegre, Buenos Aires e ainda em abril chega a São Paulo, no Sesc Pompeia.

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