Lui Coimbra acredita na nobreza da Música Brasileira

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Em sua passagem por São Luís, como diretor musical e integrante da banda que acompanhou Cecília Leite no show da turnê nacional de lançamento do CD “Enquanto a Chuva Passa”, realizado na última quinta-feira, dia 23/9, no Teatro Artur Azevedo, em São Luís, tive o privilégio de conversar, no dia seguinte, em um hotel da capital maranhense, com o músico carioca Luis Cláudio Coimbra, conhecido como Lui Coimbra. O multiinstrumentista conta como descobriu sua vocação artística, fala de parcerias maranhenses, comenta sobre projetos solo.

Violoncelista Lui Coimbra em entrevista ao jornalista Pedro Sobrinho. Foto: Divulgação
Violoncelista Lui Coimbra em entrevista ao jornalista Pedro Sobrinho. Foto: Divulgação

Multimúsico – Versátil por tocar vários instrumentos de cordas, dentre eles, o violão, violoncelo, charango e rabeca, Lui é também cantor e compositor. Faz parte dos grupos Aquarela Carioca. Por anos acompanhou artistas de peso (em estúdio e em shows), como Zizi Possi, Ney Matogrosso, Alceu Valença, Ana Carolina e Oswaldo Montenegro.

Em 2004 lançou seu primeiro CD solo, “Ouro e Sol”, pela Rob Digital, resultado de uma parceria com vários amigos músicos.

Pluralidade – Quando questionado por mim sobre o equílibrio que faz com a erudição do violoncelo e a diversidade musical brasileira, Lui Coimbra afirmou que não é “jazzista”, mas se definiu como um “violonceleiro”. E o que traduz o seu trabalho é a busca pela sonoridade que absorva influências univeral, mas que mantenha suas raízes bem aprofundadas no fértil solo brasileiro.

A influência do clã está presente na vida do artista. Ele se refere ao pai, que lhe deu o primeiro violão aos dez anos.

– A partir daí, descobri essa paixão pela música, tocava no colégio, meio autodidata. Aos dezoito anos tive uma base teórica, tranquei a matrícula na faculdade de agronomia e fui tocar violoncelo. Quando percebi estava tocando com Caetano Veloso, Aquarela Carioca, Vagner Tiso, Zeca Baleiro, Ana Carolina e fazendo turnê pela Europa – descreve.

Ao tocar o seu violoncelo, instrumento predileto e projeção, o músico convida o ouvinte a viajar por espaços, cores e aromas de um Brasil muito particular, por vezes comoventes.

Além de tocar vários instrumentos de cordas, Lui revela-se um cantor com uma voz consistente e afinada, além de ym compositor de grande talento. No show de Cecília Leite, ele teve o seu momento solo ao interpretar duas músicas, entre as quais, “Melodia Sentimental”, de Heitor Villa-Lobos” e “Babylon”, de autoria de Zeca Baleiro, num “duo” de voz e violoncelo, deixando a plateia impressionada com o requinte e o compromisso que tem despertar nas pessoas que não existe música boa ou ruim, brega ou chique, popular ou pra pular, preta ou branca, mas, sim, uma arte para ser apreciada e consumida sem qualquer tipo de preconceito.

E quando a abordagem foi sobre a afinidade que ele tem com a musicalidade maranhense, citou como referências os contatos com os trabalhos de Cecília Leite e Zeca Baleiro.

– Eu já tinha participado do primeiro disco de Cecília Leite. E ela me chamou atenção por ser uma voz nova, uma promessa dessa música brasileira de uma diversidade gigantesca, cujo objetivo como músico é manter esse contato. Ela me convidou para direção musical do seu segundo disco. Aceitei o convite e vim participar do show de lançamento do trabalho em São Luís, num show nesse lindo e imponente teatro que é o Artur Azevedo. Com Zeca, o meu contato teve início na época do Líricas. Foi uma relação maravilhosa, de companheirismo, camaradagem na música. Zeca é um dos grandes artistas brasileiros. Choveu no molhado, o cara é muito craque, um poeta de mão cheia. Vou ter uma música dele neste cd solo que tá saindo. Chama-se “Valsa para Senhora Deu”, música inédita. A melodia eu já tinha e ele botou a letra. É um querido. Gostaria de estar mais perto dele. Mas, às vezes não dar perto de todo mundo ao mesmo tempo – elogia.

Orquestra de Sonoridades – Durante o bate-papo, Lui Coimbra destacou, também, o dueto com o percussionista Naná Vasconcelos, que morreu em 9 de março deste ano, no Recife. Para ele, tocar com Naná Vasconcelos foi um momento ímpar em sua carreira. Além de se sentir ao lado de um dos maiores nomes da percussão no mundo, Lui lembrou do show que fizeram juntos no Teatro Amazonas, como parte da programação da Copa do Mundo no Brasil, em 2014, e comentou sobre a homenagem feita a ele com a criação de uma música.

Fiz um concerto no Teatro Amazonas com Naná Vasconcelos, durante a Copa do Mundo. Naná está sempre presente em minha vida. Ele foi uma bênção em minha vida. Fizemosum duo montado em show solo que Naná que já tinha há alguns anos, chamado “Batendo o Coração”. Ele me convidou para entrar dentro do universo dele, sempre uma coisa mágica. Naná sempre abria o show com o solo de berimbau famosissímo dele e eu ficava lá atrás rezando.O que eu vou fazer do lado desse cara ? Ah, segura na mão de Deus e vai. Porque Naná é muita arte, muita magia. Além de ser esse músico maravilhoso, tornou-se um grande amigo, uma pessoa que foi sempre carinhoso comigo, um incentivador. Enfim,  uma pessoa que sinto falta. Agora, tenho que buscar um contato pra sentir a presença dele. Foram quase dez anos de convivência com Naná e ele é uma pessoa que vai estar sempre presente – destacou.

Disco – E sobre o primeiro trabalho solo, lançado em 1997, intitulado “Ouro e Sol”, Lui disse que o disco é resultado de uma parceria com vários amigos, onde se posiciona como instrumentista, intérprete e compositor. Um marco na carreira de um artista que não gosta de ser apenas coadjuvante.

Tour – E aí, quando vai fazer show solo em São Luís ? Lui garantiu que pretende retornar para conhecer os Lençóis Maranhenses e apresentar o seu trabalho solo para os ludovicenses. Disse que existe a possibilidade de vir e tocar com os músicos que acompanharam Cecília Leite no show no TAA, o qual rasgou elogios a todos, especialmente, ao pianista e acordeonista Rui Mário. Ou, talvez, venha com os músicos que já o acompanham em turnês. Depois do bate-papo, Lui aproveitou para curtir o sol, mar e a areia da praia do Calhau, em São Luís, cidade em que diz ter muita afinidade.

Enfim, no contato breve com Lui Coimbra constatei estar diante de um músico de 56 anos, cheio de jovialidade, inquieto, detalhista, lúcido com relação ao mercado musical, cheio de ideias e projetos solo, que acredita na nobreza da música brasileira.

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Núbia Rodrigues: “tem fome e sede de cantar”

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Núbia Rafaele Rodrigues Santos, conhecida no meio artístico como “Núbia Rodrigues”, natural de São Luís e com apenas 21 anos, já mostra que veio a serviço e quer fazer o diferencial na cena da música local com uma música própria e cheia de personalidade. Núbia Rodrigues será a próxima atração do Rádio Pocket Show.

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Idealizado pelo jornalista Pedro Sobrinho, com a produção da Satchmo Produções [leia-se Fafá Lago e Celijon Ramos], o projeto vai ocorrer em setembro.

Em bate-papo informal com o Blog, Núbia Rodrigues fala de suas influências, de como as pessoas perceberam a sua musicalidade e da conquista de uma legião de admiradores. Enfim, Núbia é uma artista cuja a vocação vem ‘desde a barriga da mamãe’ e que, aos poucos, vai conquistando o seu lugar ao sol. Como ela declara: “tenho fome e sede de cantar”.

PEDRO SOBRINHO: O que Núbia Rodrigues traz para a sua vida músical?

NÚBIA RODRIGUES: A forte influência da raiz afro, agregando o ritmo jamaicano atrelado a ritmos urbanos que servem de embasamento para a construção das frequências sonoras que trazem a minha intenção, marcas de protesto e empoderamento, com características de militância feminina e negra.

PEDRO SOBRINHO: Você já mostra, então, que veio na música a serviço ?

NÚBIA RODRIGUES: Sim ! agora com a música começo a me envolver mais nos movimentos sociais de luta, resistência. Faz parte do meu cotidiano. Não me permito fechar os olhos para isso. Tem sido uma experiência única, que me traz um aprendizado constante, diante das relações, pessoas envolvidas e situações. Espero me engajar mais com o passar do tempo.

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PEDRO SOBRINHO: Você acha que o artista não deve apenas cantar, compor, mas também ser um agente transformador mesmo percebendo um comportamento mais individualista da sociedade ?

NÚBIA RODRIGUES: Sim ! O artista está intrisicamente ligado ao processo de criar e apresentar seus manifestos para a sociedade, se for em prol de um bem comum. Ser um agente de transformação é algo super válido, ao passo que as pessoas começam a se reconhecer nesse processo e representam o mesmo ideal.

PEDRO SOBRINHO: Agora, você fala da sua relação com a música de raiz. E o reggae parece ser uma prioridade em seu trabalho. Como é essa sua relação com o ritmo jamaicano ?

NÚBIA RODRIGUES: Intimista, a sensação da proximidade e conectividade com esse ritmo advém de longas datas e histórias. Desde a minha infância ouço o reggae, influenciada por meu pai. Concateno os ideias trazidas por essa vertente, tentando assimilar e direcioná-las para o cotidiano. Permito sentir as emoções que o reggae me proporciona.

PEDRO SOBRINHO: Qual o balanço que você faz dessa sua curta trajetória musical ?

NÚBIA RODRIGUES: É marcada principamente pela introdução da banda no cenário autoral e alternativo maranhense de forma natural e vertiginosa, por meio de apresentações em eventos sociais, movimentos de contracultura e casas de show, além da conexão com os grupos artísticos.

PEDRO SOBRINHO: Como as pessoas perceberam a sua música em São Luís ?

NÚBIA RODRIGUES: Por meio de apresentações para amigos e posteriormente em bares e eventos. Foi um processo lento e gradual e transformador.

PEDRO SOBRINHO: Como é que o público tem encarado a forma de cantar as composições autorais ou releituras feitas por Núbia Rodrigues ?

NÚBIA RODRIGUES: O público é extremamente receptivo. Durante as apresentações há uma grande interação com o mesmo, fator que permite a conexão com as ideias cantadas e representadas. Sinto que há uma transferência de energia positiva mútua, consagrando a vivência e a união das pessoas envolvidas no momento.

PEDRO SOBRINHO: Você vive literalmente da música ?

NÚBIA RODRIGUES: Sim.

PEDRO SOBRINHO: A vocação pela música vem desde a barriga da mamãe ?

NÚBIA RODRIGUES: Creio que desde a barriga da mamãe (risos). Os caminhos foram abertos e aos poucos vou conquistando o meu espaço. Enfim, não tenho músicos na minha família.

PEDRO SOBRINHO: Você não acha que o seu timbre vocal está disponível para incursionar com outras vertentes musicais ?

NÚBIA RODRIGUES: Esse assunto tem se tornado corriqueiro nos últimos dias. Algumas pessoas falam a respeito. Acredito que a minha voz ainda tem adequações a fazer. Uma delas seria essa transposição para outras vertentes. A partir de outros projetos, não vejo nenhum problema em adentrar outros ritmos, desde que haja uma ambientação com o estilo musical e o sentimento de verdade se faça presente.

PEDRO SOBRINHO: Como é se manter firme na autoria das músicas tendo em vista ser uma jovem artista e ter que lidar com um público que gosta de ouvir o que já é conhecido e consagrado ?

NÚBIA RODRIGUES: O sentimento de liberdade é espontaneamente aguçado nesse caso. O importante é fazer as pessoas memorizarem a mensagem por meio de ações e inovações. Portanto continuo compondo e apresentando as canções para o público. Na minha opinião o palco deve ser um espaço aberto, dinâmico e universal, proporcionando a emancipação do ser, suas essências e manifestos.

PEDRO SOBRINHO: Você acha que vai conseguir se tornar uma cantora bem-sucedida, onde as pessoas vão comprar seus discos, escutar sua música, entender a sua proposta musical em qualquer canto do mundo ?

NÚBIA RODRIGUES: Tenho fome e sede. Eu anseio por isso. Mas quero continuar com os pés no chão , vivenciar um dia após o outro, prosseguir com o trabalho, a resistência e força pra essa jornada. A felicidade já está sendo ofertada, diariamente. A música chama, então tentarei atender.

PEDRO SOBRINHO: Você é uma cantora que gosta de escutar música ? E como isso ajuda na sua maneira de produzir ?

NÚBIA RODRIGUES: Sim ! Ouço diariamente. A música movimenta, pulsa e faz a minha alma vibrar alegremente. É um despertar, me permite expressar funções e emoções. Acho essencial esse processo de ouvir outras intenções e interpretações sonoras. Assim referencio e assimilo as ideias.

PEDRO SOBRINHO: Quem são suas fontes de inspiração no Maranhão e fora do Estado ?

NÚBIA RODRIGUES: As influências são inúmeras. No Maranhão, cito Célia Sampaio, Gerson da Conceição, Tribo de Jah e algumas manifestações culturais como os grupos de Boi de Zabumba e Matraca, tambor de crioula, entre outros. Na esfera nacional referencio João do Vale, que mesmo maranhense é universal. Tem, ainda, Céu, Sabotage, etc. No âmbito internacional, Bob Marley, The Gladiators, Burning Spear, The Congos, Gregory Isaacs, Etta James e Amy Winehouse.

PEDRO SOBRINHO: Você é uma artista disciplinada, detalhista no que vai fazer com a música ao subir no palco?

NÚBIA RODRIGUES: Não sou uma pessoa muito detalhista. Ainda estou na busca da disciplina (risos). Procuro obter um embasamento na música e sua história para apresentá-la. Mas, para mim o momento no palco é sempre uma surpresa e de tamanha excitação.

PEDRO SOBRINHO: Você acha que a beleza é fundamental também pra quem faz música ?

NÚBIA RODRIGUES: Acho que a beleza é fundamental para qualquer criatura, desde que seja verdadeira. E o segredo está na beleza interior.

PEDRO SOBRINHO: O que você espera da música ?

NÚBIA RODRIGUES: Um despertar pro bem e pra vida, com muitos aperitivos que expressem sentimentos bons.

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“Se for pra sonhar, gosto de sonhar alto”, diz Áurea

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Multimídia, multifacetada, inquieta, sonhadora com pé no chão. Essa é a melhor tradução para Áurea Maranhão, 28 anos, nascida em 15/09/1987, em Manaus, capital do Amazonas. Ela adotou o Maranhão para viver e como sobrenome artístico. A atriz faz questão de declarar o seu amor por São Luís, a capital maranhense, que a acolheu.

Áurea Maranhão: "transitar por diversas linguagens artísticas me deixa mais atenta e disponível ao trabalho de atriz, e esse diálogo contínuo me ajuda a não cair na zona de conforto, então permaneço me desafiando e estudando, pesquisando e aprendendo... Acho que isso é fundamental para quem quer seguir essa profissão. Foto: Natalia Moura
Áurea Maranhão: “transitar por diversas linguagens artísticas me deixa mais atenta e disponível ao trabalho de atriz.  Este diálogo contínuo me ajuda a não cair na zona de conforto. Então permaneço me desafiando e estudando, pesquisando e aprendendo… Acho que isso é fundamental para quem quer seguir essa profissão. Foto: Natalia Moura

– Apesar de ter nascido em Manaus, me criei nessa linda cidade. Culturalmente e afetivamente sou ludovicense, sinto que eu sempre fui Áurea Maranhão – define.

Agora, com um detalhe: a jovem artista deixa bem explícito que exercita o direito de ir e vir, ou seja, gosta de trilhar por diversos caminhos como ativista da arte.

Áurea, que participa do filme “Prova de Coragem”, do diretor Roberto Gervitz, atua, pela primeira vez como diretora, no espetáculo “Para uma Avenca Partindo” com a “trupe” do Teatro do Redentor.

A peça vai representar o Maranhão no no 23º Festival Nordestino de Teatro, que ocorrerá entre os dias 3 e 10 de setembro, na cidade de Guaramiranga, na região serrana do Ceará.

Em bate-papo com o Blog de Pedro Sobrinho, Áurea Maranhão fala dos desafios e das realizações que a arte lhe proporciona em 11 anos de convivência.

Áurea Maranhão: "sinceramente, acho que nasci para fazer Cinema, me sinto plena quando estou num set de filmagem". Foto: Natalia Moura
Áurea Maranhão: “sinceramente, acho que nasci para fazer cinema. Me sinto plena quando estou num “set” de filmagem”. Foto: Natalia Moura

PEDRO SOBRINHO: O nome artístico Áurea Maranhão?

ÁUREA MARANHÃO: Foi uma indicação do diretor Roberto Gervitz. Usava meu nome de batismo, Áurea Teixeira. Mas, ele comentou que meu nome era forte e soava bem com Maranhão, enfim, combinava mais.

Então, por que não usar Áurea Maranhão ? No começo resisti, mas eu estava voltando a morar em São Luís depois de muitos anos, isso influenciou bastante.

Era uma forma de homenagem, uma volta as minhas raízes, a minha terra, minha identidade. Apesar de ter nascido em Manaus, me criei nessa linda Cidade. Culturalmente e afetivamente sou ludovicense, sinto que eu sempre fui Áurea Maranhão.

PEDRO SOBRINHO: Quanto tempo atuando como atriz?

ÁUREA MARANHÃO: Profissionalmente desde os 17 anos, quer dizer, já se vão 11 (onze) anos. Comecei no teatro da escola, mas no último ano do ensino médio conheci o Colun Vox, grupo dirigido pelo querido Josué da Luz. Foi a partir de lá que comecei a trabalhar com grandes artistas da cena maranhense.

Aos 18 anos iniciei meus estudos no Centro de Artes Cênicas do Maranhão (Cacem), mas cursei apenas o primeiro ano, fui reprovada.

Felizmente no mesmo ano, após um difícil processo seletivo, fui aceita na Escola de Arte Dramática EAD/ECA/USP em São Paulo, escola que me formou em artista/pesquisadora e que foi um importante marco em minha vida.

PEDRO SOBRINHO: Nesse jeitão multifacetado de fazer arte, em que se enquadram o teatro, o cinema, a dança, o canto quando necessário e as intervenções feitas com irreverência, o que você gosta de fazer?

ÁUREA MARANHÃO: A EAD, sendo a mais antiga e importante escola de formação de atores do Brasil, faz parte da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (USP) e me proporcionou uma excelente formação.

Durante bons anos, tive intenso contato diário com grandes professores e diretores da cena contemporânea brasileira.

Foi uma grande oportunidade de pesquisar diferentes universos do conhecimento científico, desde a filosofia, antropologia, sociologia, e mesmo especificamente em relação às artes cênicas, como história do teatro, direção, luz, cenário, corpo, aulas de voz, canto, estudo da palavra, anatomia, técnicas de câmera e TV, arte do palhaço, dança contemporânea, contato improvisação, instalações cênicas, ufa…

O que dizer da bagagem que cada diretor convidado trazia como referência? Toda essa experiência, sem dúvida, me mostrou caminhos e possibilidades de trabalho.

Aos poucos fui me descobrindo como artista e a cada montagem de peça, a cada direção de cena, exercício, leitura, aprendendo a lidar com meu corpo e a aliar o estudo científico ao meu trabalho na cena.

A consciência de que uma peça é mais que uma peça, seus fundamentos e função social. Que uma música, por exemplo, pode contar mais que uma simples história e que a performance dialoga diretamente com o espectador…

Bom, basicamente aprendi que o ofício do ator é permanecer em constante pesquisa e aprendizado. Pedro, tenho tantas saudades da EAD! Mas tentando responder a pergunta, tenho me dedicado nos últimos anos à Sétima Arte.

Há cerca de três anos me integrei ao AP43, grupo de pesquisa com o foco no trabalho do ator no Cinema (http://ap43.com.br/).

Foi lá que tive minhas primeiras experiências com a cena cinematográfica e, desde então, tenho me concentrado mais ao Cinema. Mesmo morando em São Luís viajo periodicamente a São Paulo para mergulhar na pesquisa do AP43.

E foi justamente nesse grupo maravilhoso, dirigido pela Nara Sakarê, que descobri a autonomia do trabalho do ator no Cinema, as diversas possibilidades de criação, percebi que cada filme é único e que a cada trabalho, roteiro, diretor sou movida a recomeçar.

Sinceramente, acho que nasci para fazer Cinema, me sinto plena quando estou num set de filmagem. Por outro lado, não vivo sem o teatro e a performance, afinal fazem parte de minha formação, gosto de dançar e pesquisar o movimento, aliás a música é também um grande desafio, preciso estudar mais e me dedicar a ela, ao canto, ao acordeom, instrumento que escolhi tocar.

Transitar nessas linguagens artísticas me deixa mais atenta e disponível ao trabalho de atriz, e esse diálogo contínuo me ajuda a não cair na zona de conforto, então permaneço me desafiando e estudando, pesquisando e aprendendo… Acho que isso é fundamental para quem quer seguir essa profissão.

PEDRO SOBRINHO: O que atrai você no teatro e no cinema quando tem de mergulhar em um projeto?

ÁUREA MARANHÃO: O aspecto humano e social abordado nos temas e personagens, direta ou indiretamente. Estamos sempre tratando do ser humano e do meio onde vive. De certa forma isso é inevitável. Gosto de me desafiar na pesquisa antropológica, de estudar a humanidade, na sua complexidade, sua beleza e seus demônios.

                                                             

PEDRO SOBRINHO: Como surgiu o convite para participar do filme “Prova de Coragem”, do diretor Roberto Gervitz, e num elenco que está Mariana Ximenes?

ÁUREA MARANHÃO: O meu personagem no filme seria interpretado pela atriz Maria Flor. Mas, na véspera de gravar ela pegou a minissérie O REBU, deixando aberta a vaga.

Na época, eu já fazia parte do AP43 e o Roberto Gervitz (que era parceiro da Nara Sakarê, desde o filme Jogos Subterrâneos) pediu indicações de atrizes para o papel. A Nara preparou os atores para o filme e participou do processo dos testes.

Por coincidência, eu estava em São Paulo na época, fui fazer o teste e passei. Posso dizer, seguramente, que foi uma experiência riquíssima.

A atriz Mariana Ximenes, o ator Armando Babaiof, o fotografo Lauro Escorel, o diretor de arte Adrian Cooper, a produtora Mônica Schmiedt, a Nara Sakarê, o Roberto Gervitz são pessoas que trabalham no cinema há muitos anos, então foi uma grande experiência lidar com todos esses profissionais e uma ótima oportunidade de me inserir no mercado cinematográfico brasileiro.

PEDRO SOBRINHO: E o que o filme representa em sua vida como atriz?

ÁUREA MARANHÃO: Certamente, o filme abriu portas para mim, principalmente porque circulou em grandes festivais no Brasil e no exterior, foi visto por muita gente. Isso amplia os caminhos e as possibilidades para que as pessoas conheçam o meu trabalho.

Àurea Maranhão: "a nossa sociedade valoriza muito o consumo, por isso é importante compreender que a cultura é mais que um produto. Pra mim, ela é um mecanismo de diálogo coletivo que tem a ver com pertencimento, com o processo histórico de uma sociedade, com a comunidade, o povo, o País. Quando compreendermos isso, valorizaremos mais a nossa cultura". Foto: Natalia Moura
Àurea Maranhão: “a nossa sociedade valoriza muito o consumo, por isso é importante compreender que a cultura é mais que um produto. Pra mim, ela é um mecanismo de diálogo coletivo que tem a ver com pertencimento, com o processo histórico de uma sociedade, com a comunidade, o povo, o País. Quando compreendermos isso, valorizaremos mais a nossa cultura”. Foto: Natalia Moura

PEDRO SOBRINHO: Você é uma pessoa perfeccionista no que faz?

ÁUREA MARANHÃO: Muito. Sou virginiana meu lindo! Gosto de fazer muitas vezes uma cena, experimentar, sempre acho que poderia fazer melhor, desafiar mais. Às vezes isso me enlouquece, minha autocrítica me arrasa.

PEDRO SOBRINHO: Você sabe que viver de arte no Brasil é um desafio. Dinheiro é uma preocupação para você?

ÁUREA MARANHÃO: Acredito que para quem vive de arte no Brasil, o dinheiro, ou melhor, a falta dele é sempre uma preocupação. A nossa sociedade valoriza muito o consumo, por isso é importante compreender que a cultura é mais que um produto.
Pra mim, ela é um mecanismo de diálogo coletivo que tem a ver com pertencimento, com o processo histórico de uma sociedade, com a comunidade, o povo, o País. Quando compreendermos isso, valorizaremos mais a nossa cultura.

PEDRO SOBRINHO: Enfim, você tem conseguido fazer teatro e cinema aliando a devoção com reconhecimento financeiro?

ÁUREA MARANHÃO: Quando comecei a trabalhar com teatro na escola percebi que para o espetáculo acontecer eu sempre precisava pedir a minha mãe para costurar figurinos, fazer um arranjo de cabeça, um detalhe ou cenário, aí entrava irmão, pai, amigos.

A gente realmente metia a mão na massa, também com a ajuda de muitas pessoas, fazendo muito mais que atuar, no estilo “pau pra toda obra”.

Hoje em dia isso não mudou muito, se quero ganhar dinheiro preciso fazer a luz, o figurino, o cenário, preciso produzir a peça, ensaiar e criar um argumento, chamar os atores e parceiros e estudar como fazer isso sem gastar muito dinheiro. Tem muito trabalho e poucos recursos.

Para que a peça possa circular isso ainda é uma realidade. Só tem dinheiro quem produz e se arrisca. Quem não faz isso e fica em casa esperando o trabalho aparecer não ganha dinheiro. Isso acontece em todo Brasil, não só em São Luís.

PEDRO SOBRINHO: Você é uma artista que se posiciona politicamente?

ÁUREA MARANHÃO: O ser humano é um ser político. Não consigo separar meu trabalho do meu posicionamento politico, eles andam lado a lado. Para mim, viver de arte no Brasil é um posicionamento político.

PEDRO SOBRINHO: Você morou por um bom tempo em São Paulo e resolveu retornar a São Luís. O que motivou esse retorno?

ÁUREA MARANHÃO: Quando saí de São Luís para fazer a prova da EAD aos 19 anos, meu marido Ricardo Coutinho, que na época era meu namorado, me disse: “amor, não se esquece de onde você veio, vai lá estuda, aprende, cresce, mas volta pra trocar aqui, pra dialogar com os seus”. Muitos anos depois, essa frase começou a fazer sentido.

Hoje não me imagino morando apenas em São Paulo, preciso estar em São Luís trocando com os meus. Vivo uma parte do ano em São Paulo e outra em São Luís, estou me preparando para passar mais uma temporada em São Paulo para trabalhar, pesquisar, retomar as experiências com o AP43, também fazer cursos.

PEDRO SOBRINHO: Está sendo possível trabalhar naquilo que você mais gosta que é o teatro e cinema morando em São Luís?

ÁUREA MARANHÃO: Estamos passando por um momento lindo culturalmente na Cidade. Espetáculos de teatro, genuinamente maranhenses, circulando pelos principais festivais do Brasil, grandes cantores e compositores ganhando espaço na cena musical brasileira, o nosso cinema que se destaca mais a cada dia.

Agora, com a Escola de Cinema do IEMA e o Lume Filmes mais pessoas poderão se capacitar e contribuir com esse movimento. Sem falar nos grandes festivais de dança (Conexão Dança), cinema (Maranhão na Tela e Guarnicê), música (BR135, Lençóis Jazz e Blues Festival, Festival de Música Barroca de Alcântara), entre tantos outros eventos que acontecem por todo o Estado, formando plateia e divulgando a nossa arte…

Acredito na força da cena cultural maranhense e ela esta ganhando espaço. Claro, para quem vive de arte no Brasil, o mercado não é fácil, estamos crescendo.

PEDRO SOBRINHO: Essa efervescência que você sente do cinema no Maranhão, com a criação da Escola de Cinema, várias produções de curtas e longas, cineastas, atores locais premiados e atuando em grandes produções é uma realidade eterna ?

ÁUREA MARANHÃO: Tenho muito orgulho de estar morando em São Luís nesse momento e fazendo parte dessa geração talentosa que vê, faz e respira cinema. Acredito e aposto muito em São Luís como um celeiro de cultura para o Brasil e para o mundo.

Estamos produzindo grandes profissionais. Falo de atores, diretores, roteiristas, fotógrafos, produtores, enfim, não há duvidas que o cinema maranhense tem muito a contribuir com cenário nacional.

Temos um set de filmagem perfeito, entra luz por todos os lados, sem falar no Centro Histórico e a nossa gente, que é diferente. Eu deposito muita fé nessa geração que está crescendo, estudando, vendo e fazendo cinema no Maranhão.

PEDRO SOBRINHO: Como você recebeu a notícia de participar do 29º Festival Nordestino de Teatro, no espetáculo Para uma Avenca Partindo com o Teatro do Redentor?

ÁUREA MARANHÃO: O Josué Redentor, que é o ator do espetáculo (monólogo), me mandou uma mensagem dizendo: “preciso falar com você urgente”. Liguei pra ele na mesma hora e ele disse: “passamos em Guaramiranga”. Uma longa e gostosa gargalhada me acompanhou durante todo o dia.

PEDRO SOBRINHO: O que é o Teatro do Redentor?

ÁUREA MARANHÃO: O Teatro do Redentor é uma proposta do ator Josué Redentor, que consiste em convidar diferentes parceiros para trabalhar em suas pesquisas.

O primeiro trabalho que realizei com ele foi há cerca de 11 (onze) anos, fomos a São Paulo fazer a prova da EAD, moramos juntos na época e nossa relação profissional acompanhou essa amizade.
Acredito que ir a Guaramiranga esse ano marca um ciclo da nossa parceria. Quando voltei a morar em São Luís, dessa última vez, o Teatro do Redentor já tinha esse nome, mas no início chamava-se de Cia. Caixa de Fósforo. Vixe, fárreratempo!

PEDRO SOBRINHO: Esse é o seu primeiro trabalho na direção de um espetáculo?

ÁUREA MARANHÃO: Sim, apesar de ter feitos trabalhos anteriores, posso dizer que essa é minha primeira direção. Quando voltei a morar na ilha, o Josué me chamou para dirigir a peça “Para uma Avenca Partindo”, que é um conto do autor Caio Fernando Abreu.

O Josué já tinha feito esse texto antes de ir a São Paulo, ele já estava estudando há muitos anos e já havia apresentado muitas vezes. Mas ele queria um olhar de fora, alguém para dirigi-lo como ator, alguém para conceber um argumento estético.

Então, foi uma parceria linda, sempre atuávamos juntos e acabávamos nos dirigindo, mas é diferente estar fora, só como diretora.

Foi maravilhoso poder colocar em prática e organizar técnicas e estudos de anos numa escolha de direção. Gosto muito do nosso trabalho e o Josué está incrível na atuação. Recomendo a todos.

PEDRO SOBRINHO: O que ainda falta ser feito por Áurea Maranhão no teatro e no cinema?

ÁUREA MARANHÃO: Falta muito bebê, estou apenas iniciando meu caminho. Quero aprofundar minha pesquisa sobre Bertolt Brecht, se possível, na Alemanha. Além dele, desejo fazer Shakespeare, Dostoiévski e Machado de Assis… Tenho muita vontade de montar clássicos da literatura, é um grande desafio.

Também quero ser dirigida no Cinema por Nara Sakarê, Anna Muylaert e Walter Carvalho. Pedrinho, o céu é o limite! Quem sabe o Hector Babenco, Paulo Morelli, Ruy Guerra, Nelson Pereira dos Santos, Fernando Meirelles, Heitor Dhalia, Karim Aïnouz, Walter Salles, me convidem! Ai, pra enlouquecer, sonhando mesmo, tem o Lars von Trier, Woody Allen, Tim Burton, Quentin Tarantino, Charles L. Mee Jr., Jim Jarmusch… Entre muitos outros.

Na dança tenho desejo de fazer uma peça com o Erivelto Viana e as bichas residentes do Conexão, Espaço, Habitação. Quero ser dirigida pela Denise Stutz, Felipe Hirsch, Ariane Mnouchkine. Na música sonho em fazer um cabaré com músicas do Nelson Gonçalves e aprender a tocar bem o acordeom.

Claro, vou trabalhar com muita gente aqui da ilha, promovendo o diálogo com os parceiros de Sampa. Fazendo a ponte. Futuramente, quero entrar numa turnê apresentando uma peça para comunidades que não tem teatro, girando o Brasil inteiro. Pode parecer demais, mas, “se for pra sonhar, eu gosto de sonhar alto”.

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Bate-Papo: Nathalia Ferro em “Feminismo na Música”

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“Feminismo na Música” foi o tema dessa semana no podcast LADO BI, com a presença das cantoras Stela Campos, Iara Rennó e a maranhense Nathalia Ferro. Clique e ouça a entrevista.

Nathalia Ferro no Lado BI. Foto: Divulgação
Nathalia Ferro no Lado BI. Foto: Divulgação

A produtora musical Katia Abreu e a jornalista cultural Carola Gonzales também participaram do debate. As compositoras chamam a atenção para o fato de que as ideias das mulheres ainda não recebem importância na música brasileira: “O Brasil tem essa tradição de que menina só canta, não pode ter uma ideia própria para transmitir em suas canções”, aponta Stela Campos. “A mulher é colocada numa mera posição de diva, para quem os homens cantam”, completa Iara Rennó.

O machismo também dá as caras atrás dos palcos: “Quando eu acompanhava bandas, ninguém pensava que eu estava lá trabalhando, supunham que eu era namorada de algum dos membros da banda,” lembra Katia Abreu. O palco, acreditam, é o meio ideal de espalhar a mensagem feminista: “Decidi que vou ser mulherzérrima em cima do palco, pois acho que muitas mulheres querem poder exercer sua feminilidade de maneira livre. Quero levantar essa bandeira”, explica Nathalia Ferro. Assista vídeo…

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Gente jovem incursionando pelo Jazz em SLZ

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A edição do Plugado desse domingo (23/8), na Mirante FM, recebeu a visita de Thais Sena, pianista, 23 anos, Glícia Moreira, violonista, 28 anos, e Gabriela Marques, vocal, 20 anos, que está de malas prontas para uma temporada em Londres, na Inglaterra, a partir de setembro deste ano.

JazzEncontros: Gabriela Marques, vocal, 20 anos, Glícia Moreira, violonista, 28 anos, e Thais Sena, pianista, 23 anos. Foto: Pedro Sobrinho
JazzEncontros: Gabriela Marques, vocal, 20 anos, Glícia Moreira, violonista, 28 anos, e Thais Sena, pianista, 23 anos. Foto: Pedro Sobrinho

O trio integra a banda JazzEncontros, que faz show nesta quinta-feira, 27/8, a partir das 22h, no Amsterdam Musicpub, na Lagoa da Jansen, numa produção da Satchmo Produções.

Palco

O grupo, formado Gabriela Marques (voz), James Pierre (voz), Paulo Pontes (contrabaixo), Marcones Pinto (guitarra), Glícia Moreira (violão), Thais Sena (piano) e Francelio Cantanhede (bateria), divide o palco com Augusto Pellegrini.

– Esse será um encontro de gerações. Vamos trocar informações e experiência no palco com Augusto Pellegrini. Além do talento musical é um profundo conhecedor do gênero – definiu Gabriela Marques.

Influências

O show será totalmente de releituras das mais variadas vertentes do jazz que influenciam a banda.

Indagada sobre o trabalho autoral, as três foram unânimes em dizer que o JazzEncontros já estão trabalhando composições próprias, mas preferem, no momento, trabalhar com músicas já consagradas do Jazz dentro de textura pessoal do grupo.

– Estamos trabalhando as nossas músicas. Mas, precisamos amadurecer a ideia de expô-las no palco. Vamos apresentá-las no momento exato. Por enquanto, fazer releituras e mostrar no palco é o caminho mais coerente – ressaltaram.

Ousadia

Mesmo vivendo num País, num Estado e em uma cidade em que o jazz tem pouco assimilado, essas três meninas maranhenses, determinadas e destemidas, entrevistadas no Plugado, na Mirante FM, resolveram incursionar pelo gênero e mostrar que a música é dona de uma linguagem sem fronteiras. Quanto ao gênero, a audição, não depende da idade, da condição social, mas sim do livre arbítrio.

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Pedro Araújo fala do novo disco “Raiz”

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Violonista e guitarrista maranhense, Pedro Araújo, morando no Rio de Janeiro há mais de dez anos, lançou o CD Raiz, pelo selo Delira Música. É um disco de oito faixas, forte sotaque brasileiro, em que ele mistura jazz e ritmos brasileiros.

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Pedro assina todos os arranjos, toca violão e guitarra. Ainda traz sua obra em composições como Cheiro de jasmim, Raiz, À tardinha, Gadjo e Cazumbá essa em parceria com Leo de Freitas. Abre o disco com a Pastorinha, de Chico Maranhão, e ainda passa por Dente de ouro de Josias Sobrinho, além de Tsunami do tio, o saxofonista Sávio Araujo.

Na última das quatro entrevistas feita com maranhenses (Rita Benneditto, Fernando Mendonça) que residem e fazem arte na Cidade Maravilhosa, o jornalista Pedro Sobrinho conversou com o jovem músico maranhense, o último entrevistado da série. Elogiado pelo renomado saxofonista brasileiro e carioca, Léo Gandelman, como um músico completo, virtuoso e de muito bom gosto, Pedro Araújo expressou durante o bate papo humildade, singeleza e sentimento pela música produzida no Maranhão. O músico comenta sobre o segundo disco “Raiz”, gravado com oito faixas.

Indagado sobre a divulgação da música instrumental no Brasil, Pedro disse que no País “não se criou o hábito de ouvir esse estilo musical”.

BLOG: São quantos anos morando no Rio de Janeiro ?

PEDRO ARAÚJO: São doze anos. Cheguei aqui (Rio de Janeiro) em 2002 ,bem novo, assim que terminei o 2º grau em São Luis.

BLOG: O que você tira de lição da experiência em viver de música instrumental no Rio de Janeiro ?

PEDRO ARAÚJO: Não é uma tarefa fácil, no meu caso. acabo fazendo diversos outros tipos de trabalhos como arranjos, composições, aulas e faço shows acompanhando diversos grupos como guitarrista. Recentemente tenho me dedicado muito a compor trilhas. Mas sempre priorizei a qualidade em todos os trabalhos que me envolvo, não, coincidentemente, boa parte deles é instrumental. Acho que no mercado fonográfico já tem gente demais trabalhando e a qualidade do produto está beirando o absurdo. Alimentar esse mercado pra mim é como dar um tiro no próprio pé.

BLOG: Você não acha que no Brasil o espaço para música instrumental é está cada vez mais fechado, ou seja, limitado ?

PEDRO ARAÚJO: Com certeza continua limitado. Mesmo com o poder de escolha que a internet dá, acho que as pessoas da minha geração, no geral, perderam um pouco da capacidade entender a música, a audição superficial e de fácil digestão é preferida. Isso causa o problema da falta de público. Temos poucos festivais e esses, por sua vez, reservam pouco ou nenhum espaço a novos grupos. Por outro lado, quando temos a oportunidade de tocar para pessoas perceberem que a música tem um grande poder de persuasão, e que a música instrumental só não é mais ouvida porque não se criou o hábito no Brasil.

BLOG: Sim, o selo Delira distribuiu para as melhores lojas físicas e virtuais. Tenho ido a diversos programas de radio especializados aqui no Rio e estou buscando shows pelo Brasil e exterior.

NA MIRA: Você está devendo um show para o público maranhense. Isso pode acontecer ainda este ano ?

PEDRO ARAÚJO: Está para ser confirmado um show em setembro. Cruzando os dedos !

BLOG: Além de tocar violão e guitarra, você assina todos os arranjos. Assumindo vários papeis no disco, você acha que conseguiu impor a sua marca e o disco atingir o seu objetivo junto ao mercado ?

PEDRO ARAÚJO: O fato de ter diversas funções no disco aconteceu, naturalmente, acho que meus próximos trabalhos seguirão nessa linha. Isso pode vir a ser uma marca ou característica sim. Quanto ao mercado, o fato do disco ter saído pelo selo Delira foi uma opção para tentar ter mais visibilidade e conseguir fazer shows desse disco. acredito que essa seja a parte mais difícil. O outro lado é que quando as pessoas ouvem e gostam dos arranjos e composições acabam surgindo convites para outros trabalhos. Nesse ponto de vista está funcionando.

BLOG: Como você define o disco “Raiz”?

PEDRO ARAÚJO: O disco Raiz é um retrato do meu amadurecimento principalmente como compositor e arranjador. Ao passo que o primeiro disco (Buraco do Tatu) é todo numa única formação instrumental. O “Raiz” traz em cada faixa uma diferente configuração. No que diz respeito a composição me arrisquei um pouco mais nas harmonias e formas mas, sempre, tentando fazer soar simples o complexo. Acho que esse vai continuar sendo meu ideal de musica instrumental.

BLOG: E o processo de divulgação do disco. Ele está sendo feito de uma forma que o público, especificamente, da musica instrumental tenha acesso ?

PEDRO ARAÚJO: Sim, o sêlo Delira distribuiu para as melhores lojas físicas e virtuais. Tenho ido a diversos programas de radio especializados aqui no Rio e estou buscando shows pelo Brasil e exterior.

BLOG: Você define o “Raiz” como um disco de composições próprias, mas você cedeu espaço para canções produzidas por artistas maranhenses. Têm Chico Maranhão e Josias Sobrinho. De que forma eles contribuíram em tua formação musical, haja vista todos eles pertencerem a sua geração ?

PEDRO ARAÚJO: Sempre ouvi muita música maranhense em casa. E já tinha na cabeça a ideia de regravar algumas dessas músicas que marcaram minha infância. Quando surgiu a oportunidade de gravar o disco através do edital Universal da Secma, foi só colocar a mão na massa. Além de Pastorinha e Dente de Ouro gravei Tsunami, composição do meu tio Sávio Araujo. Gravar músicas maranhenses me abriu um baú de ideias, pretendo continuar trabalhando esse tema cada vez aprofundando mais. Leia o Blog de Pedro Sobrinho.

REPERTÓRIO DO DISCO RAIZ

1- PASTORINHA (CHICO MARANHÃO)

2- CHEIRO DE JASMIN (PEDRO ARAÚJO)

3- DENTE DE OURO (JOSIAS SOBRINHO)

4- RAIZ (PEDRO ARAÚJO)

5- CAZUMBÁ (PEDRO ARAÚJO)

6- TSUNAMI (SÁVIO ARAÚJO)

7- À TARDINHA (PEDRO ARAÚJO)

8- GADJO (PEDRO ARAÚJO)

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Fernando Moura em Trilha Para Cinema

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O músico, arranjador e produtor, Fernando Moura, desembarca em São Luís, para ministrar um Curso de ‘Trilha para Cinema’, de quarta (29) a sexta-feira (31), das 14h às 17h30, no Cine Praia Grande, como parte da programação da 6ª edição do Maranhão na Tela, aberto no último dia 23 e vai até sexta-feira (31), na capital maranhense. Voltado para músicos, neste curso serão vistas questões relativas a importância da trilha sonora e de seus recursos no contexto de um filme, programa de TV ou multimídia. As atribuições da trilha sonora para uma peça visual e suas possibilidades no mercado de trabalho profissional.

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Em conversa com o BLOG, Fernando Moura disse que as estratégias para estimular a criatividade musical são: trabalho, procura, pesquisa, curiosidade. Falou também de suas influencias musicais e dar experiencia em tocar no Japão e com George Martin, considerado o quinto Beatle. E quando o assunto é fazer trilha sonora para cinema, Moura define: “fazer trilhas sonoras é colaborar para estabelecer uma linguagem audiovisual, é uma especialidade dentro da música, os parâmetros não são os mesmos da música para ouvir, que por sua vez, como voce sabe, não são os mesmos da música que faz dançar”.

PEDRO SOBRINHO – Além de instrumentista, voce é um especialista em trilhar (no sentido mais literal da palavra) meios para a criação de música para imagem. Trabalhar com trilhas sonoras requer um conhecimento além da música em si ?

FERNANDO MOURA – Acho que é muito importante gostar e conhecer cinema. Fazer trilhas sonoras é colaborar para estabelecer uma linguagem audio visual, é uma especialidade dentro da música, os parâmetros não são os mesmos da música para ouvir, que por sua vez, como voce sabe, não são os mesmos da música que faz dançar. O virtuosismo instrumental tem que dar lugar muitas vezes a uma generosidade artística em prol da narrativa acontecer, do espectador viajar na parada. Não são todos os músicos que conseguem se libertar de certos dogmas musicais e fazer a passagem para o mundo das trilhas sonoras, e mesmo os que fazem, podem ter eventuais recaídas. (rs)

PEDRO SOBRINHO – Ser criativo é um talento nato ou é algo que qualquer um pode desenvolver ?

FERNANDO MOURA – Stravinsky dizia que música para ele era 10% inspiração e 90% transpiração. Ele compunha tres a quatro horas por dia até os 90 anos e não temos dúvida sobre seu talento… (rs)

PEDRO SOBRINHO – Existe uma estratégia para estimular a criatividade musical ?

FERNANDO MOURA – Trabalho, procura, pesquisa, curiosidade. Inspiração existe, mas é preciso que você esteja trabalhando quando ela vier te visitar, o que não pode ser nenhum sacrifício, tem que ter prazer no que se faz.

PEDRO SOBRINHO – Tem uma corrente da música que defende o autodidatismo. Na sua opinião, o estudo teórico de música é essencial na vida do músico ?

FERNANDO MOURA – A música é tão maravilhosa que permite que você a aborde de várias maneiras e de vários ângulos. Já tive o oportunidade de trabalhar com gênios musicais brasileiros que não lêem uma nota musical, mas ouvem tudo. e já tive que aturar chatos teóricos incapazes de se expressar através da música. Penso que quem tiver oportunidade de estudar teoria, deve tentar, porque a diferença entre gênios autodidatas e preguiçosos, autoindulgentes, às vezes, pode ser difícil de perceber. Estudar é sempre legal, sempre abre os caminhos.

PEDRO SOBRINHO – A tecnologia tem favorecido muito no seu processo criativo ?

FERNANDO MOURA – A música está na cabeça, vai para os dedos e tem que vir ao mundo. Papel e lápis são uma tecnologia, computadores e softwares são outra. Dependendo da demanda do trabalho uso uma ou outra ou alguma combinação delas. Um tema de abertura para um programa de TV pode ser feito até cantando a melodia num telefone celular. Um BG para uma cena de ação de cinco minutos fica mais fácil de ser feito num computador, mas as idéias é que dominam o processo. Como trazê-las ao mundo é outra coisa.

PEDRO SOBRINHO – O universo tecnológico gira a todo instante. Surgem novas versões de softwares, além de novas ferramentas para gravação. Como lidar com o excesso de informação na hora de criar ?

FERNANDO MOURA – Sofri muito porque não tinha grana para comprar um Yamaha DX7 na época em que todos os músicos já tinham um… (rs). Agora não sofro mais porque tenho isso ou não tenho aquilo. O mais importante é como você o usa o que tem.

PEDRO SOBRINHO – Voce gosta de fazer mais trilha para TV, cinema ou teatro ?

FERNANDO MOURA – Tem as louras, as morenas, as mulatas e as ruivas… (rs). São todas maravilhosas… (rs) Importante é estabelecer uma boa comunicação com o diretor.

PEDRO SOBRINHO – Voce vai falar sobre Trilha de Cinema em curso para os amantes do genero em São Luís. Qual a leitura que voce faz dessa troca de experiencias, informações, em outros ‘habitat’ brasileiros ?

FERNANDO MOURA – Melhor que falar, é ouvir. Ouvir o que as pessoas tem a me dizer sobre a visão delas de trilhas sonoras, de cinema e música para multimídia. Esse é, sempre o maior barato dos workshops que faço. E infinitamente mais rico que ficar batendo papo com colegas sobre o último filme do John Williams ou a nova versão do Pro Tools… (rs)

PEDRO SOBRINHO – Você estudou trilha de filme na Escócia. O que esse período de estudos e pesquisa acrescentou na sua carreira?

FERNANDO MOURA – Aprendi a parte técnica com quem sabe mesmo de verdade. Isso me deu uma segurança muito grande para aplicar minhas idéias musicais ao mundo da informática, que engatinhava então nesse período (1995/1997). Saí daqui como diretor musical da Elba Ramalho com dois roadies 24 horas por dia à minha disposição. Carreguei teclados naquele clima glacial de Edinburgh e trabalhei com softwares que nunca tinha vista na vida (trabalhava com um Atari aqui no Rio) e aprendi que em todo lugar tem gente legal, e mais ou menos pentelha… (rs)

PEDRO SOBRINHO – Que gênero de música mais lhe influenciou? Que músicos foram essenciais para a sua formação?

FERNANDO MOURA – Venho da música erudita, mas isso faz muito tempo… Stravinsky, Bartok, Bill Evans, Keith Emerson, Chick Corea, Miles Davis, Stockhausen, Villa Lobos, Tom Jobim… a lista é enorme. Mas o principal é manter sempre os ouvidos bem abertos, não se acomodar e não achar que a existe a música “certa”.

PEDRO SOBRINHO – Como foi trabalhar com George Martin, considerado o quinto “Beatles” ?

FERNANDO MOURA – O cara é bacana, os arranjos são realmente incríveis e é uma emoção muito grande tocar aquele medley do Abbey Road dentro da orquestra, os violoncelos de Eleanor Rigby e dar a introdução de Let it Be ao piano. Mas ele aprendeu bastante aqui no Brasil também.

PEDRO SOBRINHO – Como foi a experiência de tocar no Japão, país onde a música brasileira é bastante apreciada ?

FERNANDO MOURA – Como dizem eles, subarashi, maravilhoso. É um povo que sabe ouvir e, ao contrário do que às vezes parece. Tem muita sensibildiade e curiosidade. Não são robôs sistemáticos dos seriados de TV dos anos 60… (rs)

PEDRO SOBRINHO – A quantas anda o processo de criação de Fernando Moura na atualidade ?

FERNANDO MOURA – Comecei a gravar com parceiro Ary Dias o próximo Cd do duo CosmeDamião. Li os emails de felicitações do GNT para o promo do seriado “Arte Brasileira”, dirigido pelo Alberto Renault que assino a trilha sonora original.

PEDRO SOBRINHO – Qual a receita para quem quer viver de música que fuja do senso comum ?

FERNANDO MOURA – Curiosidade e entrega. Não dá prá fazer por menos!

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O Rappa: banda que viaja na velocidade da luz

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Ícone carioca, como entrega o sotaque e as sonoridades calcadas nas mutações do reggae, para o vocalista da banda O RappaFalcão, o grupo só foi aceito no Rio após o crivo do público de São Paulo. “Tivemos a oportunidade de sermos abençoado, de as pessoas de São Paulo gostarem do som do Rappa, seja ele policial, bandido, playboy, da periferia, todo mundo gosta. Porque a minha intenção nunca foi fazer uma música segmentada”, afirma o vocalista.

“Hoje São Paulo é o carimbo oficial desse trampo de vinte anos, desse trampo de anos de trabalho que não pode parar nunca, que tem sempre que continuar”, afirma o músico, em entrevista concedida ao Virgula Música, ao lado dos seus companheiros de banda, o guitarrista Alexandre Menezes, o Xandão, o baixista Lauro Farias e o tecladista e multi-instrumentista Marcelo Lobato.

Para Xandão, as particularidades definem a banda: “Cada um escuta um tipo de música, e eu acho que essa diversidade é que é a nossa identidade”. Já Lobato fala da resposta brasileira que O Rappa se propõe a dar ao reggae.

“Quando a gente foi mixar o primeiro disco, que a gente mixou em Brixton, na Inglaterra, e era oDennis Bovell, que trabalha com Linton Kwesi Johnson, que era o baixista, o cara percebeu que ali tinha uma coisa diferente, tinha uma pegada brasileira, até porque tinha o Bezerra da Silva no meio cantando. Mas claro que o cara vai perceber que não é Jamaica obviamente, até porque a língua portuguesa você tem que ter uma manha pra você compor do jeito que a gente acha legal, assim, sem ser MPB, né?”, questiona.

Assinatura dos graves da banda, pertencente a uma “dinastia” de músicos da Baixada Fluminense, filho de seu Otacílio e irmão dos baixistas Bino Farias (Cidade Negra) e Tácio Farias (Negril), Lauro relembra o cenário do começo dos anos 90, que fortaleceu a ideia da Baixada como a Jamaica brasileira.

“A gente teve o Nelson Meirelles que chegou e levou um projeto chamado Coração Rastafári pro Circo Voador. E nesse projeto a gente conseguiu expandir, sair da Baixada e fazer com que o projeto reggae, na época, se expandisse e se estendesse mais. Lobato complementa: “Lá no Rio teve uma cena underground mesmo de reggae e engraçado é o seguinte, que no Brasil, hoje em dia, é muito valorizado o roots. Talvez só no Brasil. Porque o reggae evoluiu para outras formas também. Até no primeiro disco do Rappa é muito reggae, né, mas já era uma coisa mais pesada, com guitarra e tal”,. compara.

Em seguida, ele relaciona música e gastronomia “o Rappa é uma banda que é muito assim, de você trabalhar com vários ritmos, várias ambiências, a coisa do DJ também, que originalmente veio do reggae. A coisa do hip hop mesmo veio do reggae. Então essa coisa da mistura e quando ela é bem, que nem o Xandão que é um cara que sabe cozinhar, talvez aqui da galera o nosso mestre-cuca, sabe muito bem o que é isso. Você mistura um lance aqui outro ali e dá um bom prato, dá, às vezes fica uma droga, mas enfim, você sabendo temperar ali, tal, sabendo usar, talvez por isso que O Rappa tenha essa longevidade, e seja um som original, que a gente gosta de tudo”, resume.

Com um projeto paralelo, o Afrika Gumbe, em que Marcelo Lobato trabalha ao lado do irmão, o também multi-instrumentista Marcos Lobato e Pedro Leão. o tecladista do Rappa busca desmistificar estereótipos de atraso que rondam o legado africano. “A gente tem uma visão da África muito folclórica. E a África, a Jamaica que é meio que um pedaço da África, assim como o Brasil também tem pedaços da África, tem essa coisa criativa também. Os caras reinventam a forma de tocar guitarra, reinventam a forma de usar tecnologia”, aponta.

Lobato cita também o kuduro, gênero que por meio de grupos como o português Buraka Som Sistema tem levado sons africanos para pistas de dança descoladas. “Neguinho já imagina logo o tambor furado lá, né, o velho tambor furado, que é também uma tecnologia, antiga mas é. A poliritmia e tal, é super sofisticado, complexo, mas tem a coisa que o africano mesmo já usa, supereletrônico, você vê, o kuduro, que não é essa porcaria que neguinho toca aqui, o kuduro em Angola é um negócio que remete até à house, que remete à coisa jamaicana também, eletrônico. É um som meio doidão, psicodélico”, ressalta.

O tecladista relaciona ainda a “falta de educação no bom sentido” do Rappa e a experiência da vanguarda africana: “A gente se identifica com isso também, com essa forma de lidar com a tecnologia de uma forma desrespeitosa e respeitosa, ou seja, sem muita frescura”.

Assim, entre afrofuturismos e as mutações do reggae que os impulsionaram tal qual uma nave viajando na velocidade da luz, os músicos da banda O Rappa seguem sua jornada em que os controladores de solo são corações rastafáris.

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Taryn Szpilman: o canto que vem do berço

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lencois7tarynvert2O canto de Taryn Szpilman vem de berço. Seu pai, Marcos Szpilman, liderou uma das mais tradicionais Big Bands de Jazz em nossa terras, a Rio Jazz Orchestra. A voz é seu instrumento e sua presença de palco realmente faz a diferença. Taryn é teatral, é performática, é intensa, e esses adjetivos só complementam uma das mais belas vozes da nossa música, que, para nossa alegria, seguiu na escola do Blues e do Jazz.

O público que for ao Lençóis Jazz e Blues Festival, neste sábado (10), será presenteado com toda a interpretação e emissão vocal da herdeira da família do pianista Wladyslaw Szpilman (personagem do filme “O Pianista”, de Roman Polanski).

A artista que se apresenta pela quinta vez consecutiva no Lençóis Jazz e Blues Festival conversou com o jornalista Pedro Sobrinho, onde falou da participação do Rock In Rio, em 2011, e do convite para tocar na nova versão do festival, em setembro,m no Rio de Janeiro.

Quando o assunto é São Luís, Taryn disse, que ao chegar na cidade, já se sente em casa. No bate papo, a artista declara, ainda, que trouxe a Rio Jazz Orchestra para celebrar com o público os 40 anos da big band formada pelo pai dela, Marcos Szpilman, já falecido.

PEDRO SOBRINHO – Taryn, você é uma figura cativa do Lençóis Jazz e Blues Festival. Participou de todas as cinco edições. Fale um pouco dessa cumplicidade com o festival ?

TARYN – Foi amor a primeira vista ! Identificação, amizade e cumplicidade, assim me senti ( em casa…) em relação aos amigos que fiz no festival , e vice versa- desde a primeira vez, e assim foi com o público também, observo que eles mantém ativamente o contato comigo nas redes sociais…Isso não tem preço, é uma vitória e uma honra.

PEDRO SOBRINHO – Você traz pela primeira vez ao Maranhão a Rio Jazz Orchestra. Será um show em que você vai passear pelo autoral e revisitando clássicos do blues, jazz, soul e rock´n´roll que a influenciou ?

TARYN – Vamos comemorar os 40 anos da big band formada pelo meu pai Marcos Szpilman, já falecido, pois estamos levando em frente seu legado, esse tesouro que é a Rio Jazz, eu e meu marido-Claudio Infante, assumimos a direção musical em 2011 e vamos realizar uma série de projetos previstos com esta tradicional Big Band, para esta comemoração “heroica ” de carreira… Entre nossos 2000 arranjos tivemos que sintetizar um show de 15 canções em São Luís, então vamos prestar nosso tributo aos grandes mestres : Duke Ellington, Count Basie, Quicy Jones, Billie Holiday, Noel Rosa, Stevie Wonder e Michael Jackson…Entre outros nomes geniais do Jazz.

PEDRO SOBRINHO – Você citou o seu pai . Enfim, Taryn pertence a geração de músicos da família Szpilman. De que forma essa tradição familiar influenciou não só na sua escolha pela música como no seu repertório ?

TARYN – Somos fruto do nosso ambiente, portanto eles me influenciaram por completo… Do meu pai herdei a cultura do Jazz e o gosto pela raiz de tudo… Jazz, Blues.. da minha mãe herdei a paixão pelo rock..

PEDRO SOBRINHO  – O casamento entre você e o baterista Cláudio Infante se estendeu também no palco. Ele vem da escola do rock´roll e você muito mais influenciada pelas vertentes negras do jazz, blues, soul. Cláudio Infante é o baterista predileto para sua musicalidade ?

TARYN – Sem dúvida é meu predileto, pois é a “tampa da minha panela” rsrsrs, o encaixe perfeito…nos identificamos musicalmente demais, nossas influências musicais. Eu o admiro desde criança como músico e sei que ele aprecia o que vem da minha interpretação também. Um casamento completo e real.

PEDRO SOBRINHO – Em uma entrevista ao “Estadão”, Zeca Baleiro disse que ficou chapado ao ouvi-la. Comentou, ainda, que a sensação foi parecida com a que teve ao ouvir o primeiro disco de Cássia Eller. De onde vem sua voz ?

TARYN – Vem da alma mesmo, boto tudo pra fora quando interpreto, fico feliz quando dessa forma, eu toco as pessoas..

PEDRO SOBRINHO – Fale da experiência de tocar no Rock In Rio de 2011 ?

TARYN – A realização de um sonho de infância. Foi lá que lancei meu cd “Negro Blue” e não poderia ter sido em uma ocasião melhor. Repetirei esta maravilhosa experiência agora, na próxima edição do Rock In Rio em setembro, onde prestarei a minha homenagem aos Beatles, ao lado de uma big band.

PEDRO SOBRINHO – A crítica diz que você é a “Joss Stone Brasileira”. A comparação ajuda ou incomoda ?

TARYN – Quando nos comparam a artistas admiráveis como essa moça “prodígio” – e com uma tremenda alma soul é um elogio pra mim…Ainda mais por sermos brancas de alma negra, entendo a comparação e agradeço ao Tárik de Souza !!!

PEDRO SOBRINHO – Você é realmente uma cantora que encanta pela qualidade vocal, presença de palco e pela interação com o público. Tem discos na praça: ‘Bluezz’ e ‘Negro Blue’. Enfim, não tem mais o que provar. Não há um ressentimento pelo fato do Brasil não ter descoberto a Taryn ?

TARYN – Faço o que amo, canto o que quero independente da moda, me visto como quero, e sou de uma veia musical não tão explorada pela mídia ( me refiro às rádios e gravadoras brasileiras). Portanto, sei o preço disso também ( se estamos falando de massas). Sinceramente sinto que fui descoberta sim, ao longo destes 15 anos e sou agradecida por isso. Todas as pessoas que curtem Blues e Jazz e frequentam estes festivais de norte ao sul no país conhecem o meu trabalho, meu nome e tradição, sabem de onde eu vim e tudo que tenho desenvolvido ao longo desta década…E muitos que também não são dessa grande tribo também, pois tenho a honra de trabalhar também com empresas grandiosas de comunicação e entretenimento como a Rede Globo e Disney, onde anualmente estou participando de seus programas, novelas, produções e filmes.

PEDRO SOBRINHO – Um recado para os jazzófilos e bluseiros fãs da Taryn Spzilmman em São Luís ?

TARYN – Aguardo vocês com grande expectativa e com o carinho de sempre , ainda mais neste show comemorativo, tão especial da Big band mais famosa do Brasil ! Amo vocês !

Foto: Fafá Lago

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Akomabu reverencia Mundinha Araújo

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Maria Raimunda Araújo ou Mundinha Araújo, irmã dos músicos Tony, Nato e Sávio Araújo, de um clã enorme de artistas, será homenageada pelo bloco afro Akomabu no Carnaval da capital maranhense, em 2013. Aos 70 anos, festejados em 8 de janeiro deste ano, a jornalista, ativista e pesquisadora maranhense foi uma das fundadoras do Centro de Cultura Negra do Maranhão (CCN), em 1979. Desde então, vem desenvolvendo pesquisa sobre a resistência do negro escravo no Maranhão. Coordenou o “Mapeamento Cultural dos Povoados de Alcântara (1985-1987), e foi diretora do Arquivo Público do Maranhão (APEM), de 1991-2002.

mundinhaaraujoPublicou os seguintes livros: “Breve Memória das Comunidades de Alcântara , “A Invasão do Quilombo Limoeiro”, “Insurreição dos Escravos do Viana”. Foi organizadora da obra “Documentos para a História da Balaiada”, e recentemente publicou “Em Busca de Dom Cosme Bento das Chagas – Negro Cosme: tutor e Imperador da Liberdade” (2008). Toda essas obras se constituem em um valioso banco de dados, cujas informações têm contribuído para a construção do negro do Maranhão.

Em entrevista, com muita autenticidade e personalidade firme, ao jornalista Pedro Sobrinho, Mundinha Araújo relata que o fato de ser uma das precursoras da difusão do Movimento Negro Maranhão veio juntamente com a ditadura miitar de 64 no Brasil e o ativismo do ‘Black Is Beautiful’, norte-americano, em que preto era sinônimo de belo.

Mundinha quebrou paradigmas em São Luís, em uma época, aderindo ao cabelo estilo ‘Black Power’ e roupas com estampas para chamar atenção que o negro tinha valor, independente de sua origem social. Imaginem, uma mulher, negra, com cabelo carapinhado, transitando da rua Grande à praça da Misericórdia, local onde nasceu, com direito a vaias e xingamentos da aristrocracia e plebeus que faziam a história do Centro de São Luís no fim dos anos 70.

Sem se curvar a qualquer tipo de preconceito, Mundinha Araújo foi persistente em construir uma história que será contada pelo bloco afro Akomabu, criado para a beleza do ser negro na Passsarela do Carnaval e da vida. Para Mundinha, essa homenagem estava anunciada. Segundo ela, veio no momento exato deixando-a emocionada, porém não envaidecida. E cita o militante Magno Cruz [in memorian] como o grande criador desse tributo a ser festejado em vida.

Imirante – O bloco afro Akomabu homenageia você em vida com o tema, “Mundinha Araújo: a Guerreira Que Faz História”. Aos 70 anos e mais de 30 anos de militância. Você se sente a guerreira que faz história no Movimento Negro do Maranhão ?

Mundinha Araújo – Eu não me considero guerreira. Sou persistente com o que faço. Sou disciplinada. Sou uma mulher que chega aos 70, cuidando de mim. Não tenho filhos. Moro sozinha. Administro minha casa. Administro minha vida. E consegui até hoje frequentar locais de pesquisas, estudando dessa nossa história, a história do povo negro. O título de guerreira para essa homenagem que o Akomabu presta para mim fica por conta do saudoso Magno Cruz. (rsrsrsrsrsrsrsrsrsrs)

Imirante – Qual a avaliação que você de sua atuação como ativista e precursora do Centro de Cultura Negra do Maranhão (CCN), no sentido de ações efetivas no conscientizar e melhorar a qualidade da população negra do Maranhão, que continua não sendo levada a sério, vivendo em sua maioria em sistema de casta, excluída socialmente. As estatísticas sócio-econômicas estão aí para constatar essa triste realidade…

Mundinha Araújo – O movimento no Maranhão começa lá pelos anos 70 e a nossa maior preocupação era o de conhecer a história do povo brasileiro, especialmente a do negro do índio, e muito ajudaram para construir a história do país. Os índios não se submeteram a escravidão. Já o negro aceitou e veio para o Brasil na condição de escravo. Infelizmente, a história tem sido ingrata com as populações negras até hoje. E o Maranhão se insere nesse contexto. Só com a educação para se reverter essa triste realidade, esse desconforto em que o povo negro ainda vive. Ela é o instrumento fundamental para abrir as cabelas e, a partir daí, se criar oportunidades para todos. Mas, procuro mostrar com as minhas pesquisas e palestras que ao longo da história o povo negro sempre reagiu em busca de uma libertação definitiva.     mundinhabloco

Imirante – Uma cena da novela Lado a Lado, da Rede Globo, me chamou atenção. A personagem Constância, vivida pela atriz Patrícia Pillar, em um diálogo com Lázaro Ramos (Zé Maria), disse que a escravidão tinha acabado. Era coisa do passado. Assim como o mito da democracia racial, esse discurso que a escravidão acabou e os tempos são outros continua. Na sua opinião como o negro deve reagir a esse pensamento da maioria da população brasileira em pleno século XXI ?

Mundinha Araújo – Realmente, os tempos são outros. É preciso que haja, sempre, reação do povo negro percebendo que, nos dias de hoje, racismo é crime. Eu acho difícil que alguém desconheça essa lei que faz com o negro procure uma delegacia quando se sentir vítima de um ato discriminatório por causa da cor. Infelizmente, ainda existem alguns resquícios de escravidão e o problema da democracia não foi resolvido, mas o povo negro também obteve conquistas e já sabe como lutar por seus direitos.

Imirante – Ainda tendo como referência a novela Lado a Lado, um aspecto mostrado na novela é sobre o outro lado do negro, que está sempre assumindo uma posição de vítima usando sempre como argumento o fato de se conviver com o racismo. Por outro lado, o folhetim da Globo mostra o negro preconceituoso, arrogante, ambicioso, com sede de poder, alienador. O que fazer para reverter esses valores de negro que também se posiciona como preconceituoso e opressor ?

Mundinha Araújo – Eu não tenho resposta para esse tipo de pergunta. Uma coisa são as ações coletivas. A outra é o indivíduo. Pra muita coisa não tenho resposta, principalmente, para o plano afetivo e subjetivo. Sei que a história constata que entre os povos negros, desde os tempos dos cativeiros, já não havia essa solidariedade de classe. Quem ascendia socialmente, se considerava superior. Isso sempre existiu. O negro que trabalha na Casa Grande é diferente do que trabalha na Senzala. Isso passa pelo processo de educação e aprendizagem da vida.

Imirante – E as redes sociais ? Por que é tão inconsistente a mobilização negra nas redes ? O que fazer para que o discurso de ser negro se estenda das academias, seminários e conferências e se estenda as essas novas mídias sociais, até porque os jovens, independentes de serem negros ou brancos compartilham diariamente dessas redes, que os tornam sem identidade, e, de certa forma, é um grande formador de opinião e interação ?

Mundinha Araújo – Não tenho nenhuma familiaridade com as redes sociais. Eu uso o mínimo de internet. Uso o computador apenas para digitar. Acho que é um problema de minha geração. Não tenho facebook, não tenho nada. Ouço falar. Não dá mais pra mim e não estou preocupada com isso. Os mais jovens estão inseridos nesse mundo. Eu não.

Imirante – Como você vai retribuir essa homenagem prestada pelo Akomabu, primeiro bloco afro do Maranhão, que você ajudou a construir no período em que a palavra de ordem no Globo era: ‘Ser Preto é Ser Bonito” ?

Mundinha Araújo – Essa proposta de homenagem foi apresentada por Magno Cruz e todo o grupo e integrantes do Centro de Cultura Negra (CCN) aceitaram. Muitos diziam que já era tempo. Outros diziam finalmente. Eu penso que eles queriam fazer isso. Eu fico agradecida, mas não envaidecida. E a minha retribuição é a de me colocar sempre à disposição do movimento. O de estar presente assim que for necessário.

Imirante – Várias publicações lançadas, pesquisas, muita militância, 70 anos de vida e homenagem em vida feita pelo bloco afro Akomabu. O que ainda falta para acontecer em sua vida profissional e pessoal ?

Mundinha Araújo – Eu tenho muita coisa para fazer. Eu adoro tanto viver. No ano passado, recebi muitas homenagens nos 400 anos de São Luís. Me perguntava: será que estou perto de morrer ? Estou aqui viva e acelerando as pesquisas. Tenho uma sobre a “Catarina Mina”, que pretendo publicar ainda esse ano. Tem outra sobre o bumba meu boi e uma pesquisa sobe os quilombos do século XIX. Enfim, trabalho todo o tempo, organizando e buscando sempre mais.

Imirante – Você continua cantando ?

Mundinha Araújo – Canto sempre em casa.( rsrsrsrsrs). Me faz bem, assim como dançar. Gosto do contato com os mais jovens. Com essa homenagem os mais jovens querem me conhecer. Gosto muito dessa convivência.

Imirante – No mais novo disco do bloco Akomabu , você canta “Luta de Negro”, de autoria de Paulinho Akomabu.

Mundinha Araújo – Essa música o Paulinho Akomabu fez em 1985. Ele tinha dezesseis anos na época. Eu me emocionei ao ouvir a música e resolvi colocar a voz nela aos meus 70 anos.

Imirante – O que você diria aos jovens brancos sobre a luta contra o racismo ?

Mundinha Araújo –   Independente da cor da pele, o mais importante é poder mostrar que a educação, principalmente, a familiar é fundamental para orientar e abrir uma consciência sobre os princípios dos direitos humanos, em que somos iguais perante à lei e que a questão da cor da pele é apenas um detalhe.

Imirante – Está pronta para enfrentar a maratona do Carnaval com o Akomabu ?

Mundinha Araújo – Se Deus quiser e os Orixás também (rsrsrsrsrsrs). Eu vou acompanhar. É uma energia muito boa que o bloco passa. Eles estão felizes. É como se estivesse cumprindo um dever. Ninguém me deve nada. Eu só fiz o que fui determinada a fazer.

Imirante – Como a voz da experiência sobre a questão do negro e do racismo no Maranhão, você tem algum recado a passar para os que estão à frente do Centro de Cultura Negra – CCN – na atualidade ?

Mundinha Araújo – É não desisti da luta. Tem tanta coisa para ser feita. Eu vou sempre procurar aprender e ensinar. Essa é a minha marca.

Foto: Arquivo/O Estado do Maranhão

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