A Indústria da Vaidade e a Felicidade Artificial

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Assistindo ao Jornal da GloboNews, no início da manhã desta sexta-feira (12/9), é mostrada uma matéria em que a Indústria dos Cosméticos no Brasil não depende de inflação, recessão, ou qualquer tipo de crise econômica para faturar. E lá me veio a cabeça a máxima de que a “vaidade ainda é o pecado predileto de muita gente”. E me veio a reflexão sobre o filósofo grego Sócrates. Indagado ao observar com profunda admiração sobre as coisas que punha os olhos, ele teria respondido que, na verdade examinava quantas coisas supérfluas existiam, e que, portanto, eram prescindíveis à sua felicidade.

Enfim, a Indústria da Beleza vem ditando em ritmo frenético o que é necessário para ser aceito nos espaços em que ela é fundamental. Mas o que seria o “belo”? Será que o belo é o mesmo que está retratado nos “outdoors” e nos manequins de grifes famosas? Para nós ocidentais chafurdados no capitalismo, os encantos de um Shopping Center faz todo o sentido, todas aquelas vitrines bem montadas nos seduzem e acabam nos obrigando a viver numa espécie de comunhão religiosa com o superficial. Parece-me que nossa felicidade vem embrulhada num papel colorido de presente. Às vezes, nem percebemos que somos indivíduos, seres “para si” existentes, pois nos equiparamos àquilo que nos gera uma provisória sensação de bem estar.

Em 1931 Giovanne Reale disse: “Dê-me televisão e hambúrguer e não me venha com sermões sobre liberdade e responsabilidade. Com esse mesmo sentido, e parafraseando Nietzsche, Reale afirma que “a raiz de todos os males que atinge ao homem de hoje se encontra no exatamente Niilismo, ou seja, estamos inseridos num universo sem sentido.

Todos nós conhecemos a história de Narciso, um jovem de extrema beleza, mas intoleravelmente soberbo. Adorado de si mesmo e desprezando a todos ao seu redor, levava a vida no serrado de um bosque fechado, em companhia de um grupo de amigos para quem ele era tudo. Assim vivendo, chegou certo dia, por mero acaso, à beira de uma fonte cristalina e debruçou-se. Ao enxergar nas águas sua própria imagem, perdeu-se numa contemplação e depois numa admiração tão extasiada de si mesmo que não pode afastar-se do reflexo que mirava e ali ficou paralisado, até que a consciência o abandonou. Foi então transformado numa flor que traz seu nome, a qual desabrocha no começo da primavera. É a flor sagrada das divindades infernais.

Pobre Narciso, cujo o culto a si mesmo o fez perder sua condição de existência, consumido pelo inebriado delírio de sua imagem. Não devemos nunca esquecer, também, que isto é apenas um detalhe quase sem relevância frente ao seu sinistro fim.

A atual conjuntura do mundo, notoriamente marcado pela evolução científica, vem cada vez mais descobrindo meios de proporcionar prazer com a “felicidade artificial”. Sabe-se que a ciência tem um papel importantíssimo no retardamento da velhice, das doenças. Claro que isso não é ruim! É maravilhoso, desde que este objetivo não nos torne escravos de tais progressos. O homem é um ser temporal, finito. E quando não aceitamos esta condição, ou seja, quando ele faz de todo seu tempo um eterno retocar de maquiagem de suas rugas e cabelos brancos, de uma busca infinita pela beleza externa ditada pelos “outdoors’, pode acabar como Narciso: inútil e imprestável.

2 comentários para "A Indústria da Vaidade e a Felicidade Artificial"


  1. Tamara Santos

    Professor, que texto maravilhoso. Me motivou a fazer uma reflexão sobre o belo, a vida e o capitalismo. Parabéns pelo senso critico. Admiro! Abraços.

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