Na pungada da diversão e fé

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Salve, Salve São Pedro. Salve, Salve São Marçal. Salve, Salve, a Cultura Popular do Maranhão, rica, heterogênea e que também conseguiu cativar espaço no Planalto Central. Ainda em festa, o tambor-de-crioula é reverenciado na capital político-administrativa do Brasil devido ao registro de patrimônio tombado pelo IPHAN. A imprensa candanga cita o tambor como um símbolo de luta contra o preconceito, destaca ainda o poder de improviso, o colorido e a sensualidade das coreiras, que na opinião dos especialistas culturais, representa a diversão e a fé. Essa manifestação herdada da mãe África e nascida nas senzalas do século passado no Maranhão, também está representada no Distrito Federal, pelo maranhense, Seu Teodoro Freire, 87 anos.

Ele veio para Brasília em abril de 1961, para a comemoração do primeiro aniversário da nova capital do País. Veio para apresentar o bumba-meu-boi do Maranhão a convite do poeta maranhense Ferreira Gullar, diretor da Fundação Cultural de Brasília, no governo Jânio Quadros. Nunca mais se foi. No Distrito Federal, constituiu família e iniciou o processo de perpetuação de suas raízes em meio ao Planalto Central, dando fôlego as manifestações culturais do Maranhão. Assim nasceu o Boi de Seu Teodoro, em 25 de janeiro de 1963, na cidade satélite de Sobradinho.
Aos poucos, o Centro de Tradições Populares, criado por ele, tornou-se além de ponto de encontro da comunidade maranhense e de admiradores da nossa cultura, cedeu espaço para o bumba-meu-boi e de outras expressões folclóricas maranhenses, como exemplo o tambor-de-crioula.

Mesmo distante mais de 2 mil quilômetros de São Luís – a notícia de que o tambor-de-crioula foi tombado pelo IPHAN como Patrimônio Cultural e Imaterial do Brasil, no último dia 18, foi recebida com festa e esperança pelos integrantes do Centro de Tradições Populares, de Seu Teodoro.

– Será importante divulgar e valorizar o tambor-de-crioula. Ainda há muito preconceito. Muita gente associa a roda de tambor aos terreiros de macumba. Várias vezes chegaram pessoas ao Centro de Tradições Populares, em Sobradinho, perguntando pelo Pai Teodoro. Por isso, o tambor é pouco convidado para apresentações – explicou o maranhense Gilvan do Vale, 27 anos, integrante do boi.

Essa confusão não vem do acaso. Deve-se às origens do tambor-de-crioula nas senzalas e do sincretismo religioso. Ainda hoje, o tambor continua sendo uma forma de diversão, oferenda e de pagamentos de promessas de segmentos populares da sociedade, em reverência a santos católicos, em especial São Benedito (“santo preto” e protetor do tambor-de-crioula) e a diversas entidades cultuadas do candomblé. Em grande parte dos terreiros de Mina, no Maranhão, São Benedito é representado pela figura de Vereketi.

Mas, voltando a falar de Seu Teodoro, originário da Baixada Maranhense, desbravador do Cerrado, homem simples, que não perdeu o contato com o seu povo, as suas raízes culturais. Veio para Brasília construir uma história de vida e contribuir para divulgar e preservar bens culturais que pertencem ao Maranhão e ao Brasil.

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