DJs cariocas perdem espaço na noite do Rio

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Os DJs do Rio reclamam que o mercado na cidade maravilhosa está cada vez menor, por conta da “importação” de disc-jóqueis de outros Estados e até do exterior, bem como pela proliferação de amadores cariocas que aceitam cachês baixos para comandar o som em festas e em boates.

– Hoje, nós, que somos profissionais, temos uma concorrência desleal com os DJs de ocasião, protesta Goody, 19 anos de pista e especializado em hip hop e black music. Como na maioria das vezes são amigos dos promoters (divulgadores), cobram cachês irrisórios. Tem muita gente querendo ser DJ para beber de graça e pegar mulher -.

– Não posso contratar um empregado que ganhe mais do que eu -, brinca o promoter Leo Rezende, que recebe porcentagem de acordo com a lotação das casas que promove, entre elas Cristal e Mariuzinn.

Rezende afirma que tudo que vem de fora é novidade e, por isso, gera receita, o que explica altos investimentos de boates como a The Week, que recentemente trouxe o cantor inglês Boy George para dar o som na inauguração de sua filial carioca. O cachê do ex-vocalista do Culture Club não foi revelado, mas nenhum DJ top atravessa o Atlântico por menos de US$ 30 mil.

Dono da boate Baronneti, Rick Amaral conseguiu uma pechincha quando trouxe o badalado holandês Ferry Corsten por US$ 8,5 mil.

– Temos capacidade para pouco mais de 400 pessoas, mesmo colocando um ingresso bem mais caro é difícil pagar os estrangeiros -, diz Amaral.

Ele também não se furta a chamar paulistas como Mario Fischetti, que animou recentemente a noite da Baronneti por um cachê de R$ 4 mil.

A escolha do DJ é feita pelo dono da casa noturna e pelos promoters. Marcelo Arar, que tem a missão de encher as pistas de boates como Nuth, Patio Lounge e The House, diz que o mar não está para peixe.

– O mercado no Rio é ruim. O carioca sai pouco à noite por causa da violência – constata Arar, que diz arregimentar DJs por cachês médios de R$ 250 por sets de duas horas.

– Casas que poderiam ‘bombar’ de terça a domingo, funcionam na prática três vezes por semana.”

No meio da briga entre o mar e o rochedo, estão os chamados DJs residentes, que são contratados fixos das boates e se responsabilizam pelo som quando não há profissionais convidados. Geralmente, têm carteira assinada, cumprem horário e ganham cerca de R$ 1.300 por mês.

– Trabalho das 10h às 18h no marketing da casa e das 18h às 2h faço o som da pista de dança -, conta Carlinhos, residente do Pampa Grill há dez anos. “Está complicado, se o DJ não tem um nome, pode trabalhar até por R$ 50. Se for conhecido, o cachê chega a uns R$ 200.”

A grana é curta para quem tem de estar antenado com as novidades internacionais.

– Para mim, é melhor ficar em casa -, diz o DJ Cuti, na estrada há 18 anos e especializado no gênero house. “Às vezes, pago R$ 70 num disco importado para ter uma música. Então, por esses cachês tão baixos, estaria trabalhando pelo preço de duas músicas.”

No Orkut, comunidades de até 1.500 membros protestam contra os baixos cachês e a falta de um sindicato para a classe.

– Já tentaram formar uma associação para estipular um piso salarial, mas o pessoal é muito desunido -, lembra o DJ Leandro Peeters.

O papa das carrapetas cariocas – embora tenha se consagrado com o funk, considerado no meio um gênero menor – DJ Marlboro, que não revela seu preço, mas pode ganhar até R$ 15 mil para animar um evento por duas horas, acha que muita gente reclama deitada na própria acomodação.

– Protestar é um direito, mas eles devem também tentar inovar, criar algo diferente para se destacar -, diz Marlboro. “Dá para buscar uma remuneração melhor com criatividade. Se estão chamando muita gente de fora, é porque os DJs daqui estão deixando a desejar.

Com a autoridade de quem este ano já esteve em eventos nos EUA, Europa e Japão, quinta-feira parte para Portugal e em novembro estará na Inglaterra, Marlboro dá uma dica.

– Não é bom o DJ ficar numa mesma casa por muito tempo. Quando está bombando, ele deve mudar para uma outra, levando seu público, isso valoriza. Tem que ter um ‘plus’.”

Na crise, há gente inovando em outras áreas. “Para sobreviver, muitos estão partindo para som em casamentos, bodas e aniversários”, conta Leandro Peeters, que só fecha suas contas do mês graças ao estúdio de luz e som que possui há 12 anos.

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