“Entra no clima e Pira, Pira, Doido”

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Andrezinho Vibration, um nome não pode ser esquecido quando o tema é ‘reggae roots em São Luís’. O cara está há 10 anos, sempre com a fiel companheira Vibration Sound, em bares da cidade. A “neguinha”, como conceitua André, tem uma legião de adeptos e muitas histórias para contar ao longo de uma década. Numa conversa informal e virtual com o jornalista Pedro Sobrinho, André desabafa sobre a cena do reggae em São Luís e fala sobre equilíbrio e inovação para que o trabalho com a noite e o reggae tenha vida longa.

Blog: Qual a avaliação que você faz de 10 anos comandando uma radiola especializada em divulgar o reggae ?

Andrezinho Vibration: Primeiro gostaria de frisar que nesses 10 anos de trabalho nunca tive uma estrutura de radiola, os famosos paredões que simbolizam de fato o reggae maranhense. A Vibration Sound é sinônimo de discotecagem e não de radiola de reggae. Esse é o meu principal diferencial nesses dez anos, quando comecei tocando em P.A. e fiquei. Uma década é um caminho longo e a única coisa que eu faço na minha vida é me dedicar ao reggae. O resultado que eu tive foi concretizar um movimento na capital do reggae, um movimento dedicado ao Roots contemporâneo e principalmente o reggae nacional, a prioridade. O “roots”, que antes colecionadores e empresários do setor anunciavam como música antiga, velha, etc… continua sim sendo produzido. Com bons exemplos: Soja, Groundation…

Blog: Como surgiu a inspiração para o jargão: “Entra no Clima e Pira Pira Doido”?

Andrezinho Vibration: Eu não tinha muito contato com o microfone. Foi em uma das noites no Tombo da Ladeira..então tinha um cara que toda hora chegava até mim e dizia: fala alguma coisa. Aí eu envergonhado afim só de botar som respondia: daqui a pouco, daqui a pouco. Cara isso era a noite toda esse cara me perturbando para falar alguma coisa…aí pra ele se tocar eu falei no microfone: ENTRA NO CLIMA E PIRA PIRA DOIDO. Cara, ele me olhou e veio até mim de novo… “fala de novo isso aí”. Aí, ficou cara, pegou mesmo. Desde esse dia nunca mais vi esse cara que me ajudou a criar esse jargão. Agora quando estou discotecando, essa experiência pra mim é quase uma “ atuação” espiritual rsrsrsrsrsrs. É quando estou botando som é que surgem essas frases de acordo com o comportamento do público, tenho outras como “Quem não tem par dança com a sombra”, o público se diverte com isso.

Blog: Na sua opinião São Luís é realmente a Jamaica Brasileira ou capital brasileira do reggae ?

Andrezinho Vibration: Acho que já foi. Hoje São Luís vive dois momentos no reggae: O eletrônico com músicas produzidas por cantores que não conseguem falar nem inglês e cantam desafinadamente, mas tem espaço porque são produtos das próprias radiolas de reggae. Considerando que é a única maneira delas permanecerem com “exclusividade” usando “falsos” cantores, sem se importar que lá fora esse produto é chamado de “Rebrega”. E por outro lado temos o reggae nacional e roots comtemporâneo, movimento que engloba mais um público de classe média e média alta que pesquisa reggae, que tem a internet como aliado desse movimento, curte show das bandas locais, que escuta reggae produzido de qualidade. Com relação a Jamaica brasileira não está apenas no âmbito da música. No trade turístico isso deveria ser um atrativo. Mas você visita alguns clubes de reggae e o que encontra? Péssima receptividade e a própria informação dos nativos: aha…reggae aqui é sinônimo de violência. Acho complicado, mas acredito que a Jamaica Brasileira tem tudo pra voltar o que era. Agora, falta união da classe regueira. Falta interesse de todos.

Blog: A impressão é de que você caminha na contramão de quem faz o reggae de radiola popular. Como é a sua relação com este segmento do gênero em São Luís ?

Andrezinho Vibration: Vejo a radiola de reggae apenas como símbolo do reggae maranhense. Acho que se perdeu muito depois da morte de Antonio José, um DJ ícone das radiolas e se perdeu mais com a falta de interesse de se buscar novos trabalhos. Acho que essa de economizar com as importações de discos, no ínicio da década de 90, e promover alguém sem gabarito para cantar em cima de batidas eletrônicas piorou muito o nosso movimento. Aí mesmo que as nossas bandas se apagaram deixaram de ser mais audaciosas e muitas ficaram na mesmice. Fico estarrecido ainda com a qualidade dos programas de reggae nas emissoras de rádios e televisão. Falta informação sobre músicas, cantores…na verdade eu não vou falar o que vc já sabe né…são programas direcionados para promoção individual e não coletivo…. A minha relação com o segmento é de respeito e como estamos falando de meios que chegam de fato a ‘massa’, eu acredito um dia quem sabe numa mudança: o povo do reggae merece sim ouvir música de qualidade.

Blog: Você e a Vibration Sound funcionam como porta-voz das bandas de reggae em São Luís. Como você enxerga a cena de bandas locais ?

Andrezinho Vibration: Engraçado que quando comecei a divulgar o reggae maranhense no meu som, eu não tinha nem os discos. Tocando em MD eu gravava os shows ao vivo nas minhas festas e colocava as músicas da galera nas noites da Vibration. É tanta coisa pra criticar…temos poucas bandas, poucos espaços ainda para divulgá-las, poucos trabalhos produzidos. Infelizmente o cenário maranhense que deveria ser o mais forte é o mais fraco. Perdemos para cidades como Natal e Belo Horizonte. O mais grave é com relação ao empresariado que não aproveita o estilo de reggae que só é feito aqui, um groove único. Mesmo assim admiro muito as bandas daqui por tentarem a sobreviver na “Jamaica Brasileira” que tanto se fala lá fora.

Blog: Dez anos de militância na noite não representam dez dias. O que fazer para se manter o trabalho em evidência?

Andrezinho Vibration: Eu tenho lutado muito para manter o meu trabalho equilibrado. Nessa década de aniversário refleti muito sobre o tipo de discotecagem que faço e tenho planos para inovar. Também estou me reservando mais. Firmei contrato de fidelidade com o Bar do Nelson e ficarei tocando apenas uma vez na semana. Mas também estou elaborando projetos independentes sempre visando o intercâmbio com cantores de outros estados. Esse é o meu principal objetivo para manter a Vibration Sound em evidência. E tem outra coisa, minha meta também é sair do Maranhão mais vezes.

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