Esse Cara

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Ainda em clima de férias, resolvi tirar o sábado, 14,  para curtir à noite, animada por shows de estilos diferentes e convidativos. Era o reggae de John Holt e Gregory Isaacs, no Centro Histórico, o Skank, na Lagoa, e Caetano Veloso. com seu “Zii e Zie”, traduzindo “tios e tias”, no Multicenter Sebrae.

Optei em degustar a música de Caetano. Um cenário simples, mas ambientado por uma asa delta, pirotecnia de luzes e slides. Tudo numa combinação perfeita para o ‘setlist’ escolhido pelo artista baiano, mundado e transgressor. O show que estreou turnê nacional por Brasília começa com Caetano cantando “A Voz do Morto”, um samba que fez no início da carreira, na década de 60, para Araci de Almeida cantar em homenagem a Paulinho da Viola. Um resgate histórico saboroso. E cá com meus botões questionei. Como é que pode um samba de mais de 40 anos ser cantado de uma maneira tão pós-tudo como se tivesse sido ontem ? Felizmente, pode, principalmente, quando o assunto é Caetano e o seu eterno jeito camaleônico e a sua necessidade de reinventar.  Assim fez o artista em mais um disco,  numa concepção dividida com a moçada da banda Cê (Pedro Sá, Ricardo Dias Gomes e Marcelo Callado).

O trio, aliado a Caetano, experimentou em estúdio e no palco colocando em cada faixa camadas de rock´n´roll à musicalidade brasileira, onde o foco é o samba e a quebra de paradigmas, que para ser bom tem que vir da raiz.  E o show de Caetano seguiu intercalando músicas antigas com as do CD “Zii e Zie”. Entre as boas destaco a interpretação de “Lapa”, um verdadeiro transamba-clip musicovisual do histórico e sempre boêmio bairro carioca, tão cantado por Noel Rosa e também Chico Buarque, além de “Odeio”, do penúltimo trabalho “Cê”.

Entre as velhas e boas canções destaque para “Trem das Cores” e “Irene” rearranjadas, mas não perderam a majestade. A viagem ao túnel do tempo continuou arrasadora em “Objeto Não Identificado” e “Betânia”, a quem dedicou a memória do teatrólogo e criador Augusto Boal, que dirigiu a todos os baianos, inclusive a ele mesmo, no “Arena Canta Bahia”. Ele aproveitou e fez uma pausa para reverenciar São Luís, como uma das capitais mais bonitas do Brasil. Disse que os elogios foram feitos em rodas de amigos, que concordaram com a sua colocação. Quanto comentário não soou mentiroso, ou demagógico. Foi verdade pura feita a uma bela mulher que precisa ser tratada com mais carinho por quem diz que a ama.

Mas, retomando o show “Zii e “Zie”, Caetano foi espetacular e ousado com a poetação de “Eu Sou Neguinha”. Foi a música em que pensou estar se despedindo do público e mostrou no palco, que além de músico é um ator. Aplausos e o pedido do bis. Ele retorna cantando “Força Estranha”, reverenciando Roberto Carlos e aqueles que foram ao show em busca dos “hits”, ou as “babas” do artista.  Caetano fechou em grande estilo homenageando o baiano Neguinho do Samba, pai do samba-reggae, que morreu recentemente,  “avisando a todos” que é um artista único.

2 comentários para "Esse Cara"


  1. Eduardo Júlio

    Ótimo registro Pedrinho. Caetano continua se reinventando. Já tinha gostado do show anterior, mas esse foi um pouco mais climático, com os timbres atmosféricos da guitarra de Pedro Sá, aquela asa delta e as belas imagens na parede. É necessário ressaltar que Pedro Sá é o melhor guitarrista do país na atualidade. Aliás, a banda toda é excelente. Quem foi à procura daquelas velhas babas, de fato, deve ter saído decepcionado.

    Abraços

  2. francisco

    Concordo com você. Os músicos (novos) deram uma pitadinha de rock e vigor às canções de Caetano. O show, pra mim, é melhor que o disco. Destaco o arranjo da execelente “Perdeu”, tocada tendo ao fundo cenário cinza e triste. Das antigas, destaco a insuperável “não identificado”. De triste, o fato de o cantor optar por tantas músicas novas e deixar de fora os hits de sempre.

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