Visionários…

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Quem não se lembra da Bizz, a revista brasileira de música e cultura pop, inspirada em publicações estrangeiras como Rolling Stone, Smash Hits e New Musical Express. Um períódico mensal, que fez a cabeça de muita gente, inclusive a minha. Era fã de carteirinha e leitor assíduo da revista que surgiu em 1985 e encerrou os trabalhos em 2001, retornando as bancas quatro anos depois, para encerrar as suas atividades novamente e definitivamente em 2007, após o surgimento da versão brasileira da Rolling Stone. Entre os editores da Bizz estava o jornalista carioca Pedro Só, que também escrevia de música no Caderno B do Jornal do Brasil.

E por falar em Pedro Só, o texto postado, nesta segunda-feira, 29, no site dos Paralamas do Sucessos, fala da viagem feita pelo jornalista em companhia com os integrantes do grupo pela América do Sul, especialmente no Uruguai e Argentina. O passeio resultou em uma entrevista feita pelo ex-repórter do JB e ex-editor da Bizz, sobre a turnê e o trabalho dos Paralamas. Os trechos da reportagem original de quase vinte anos atrás são recuperados e para falar da experiência nada mais justo do que o próprio Pedro Só, uma cabeça que formou boa parte dos jornalistas de música que hoje tem um pouco mais ou um pouco menos de trinta anos.

Pedro lembra o primeiro show que assistiu dos Paralamas do Sucesso, no Circo Voador, em 1983, quando tinha apenas 16 anos. Disse que o contato dele e toda a sua geração com a banda foi por meio da rádio Fluminense (RJ), a maldita. “Os Paralamas eram uma raridade: não eram identificados com o rock “velho” e “xiita”. Tinham referências contemporâneas e uma atitude muito mais aberta”, elogiou.

Entre as experiências ‘mucho locas’ vividas por ele e Herberth Viana pelas ruas de Buenos Aires, em que muitas delas ficaram em “off” na editoria do Caderno B do ‘Jotinha’, o apelido carinhoso para quem um dia trabalhou no famoso JB.

Pedro Só destacou a conquista dos Paralamas no mercado sul-americano na época. “O Brasil estava sofrendo os efeitos do nefasto plano Collor, enquanto a Argentina e outros países sul-americanos viviam uma época de prosperidade e relativa estabilidade econômica. Com a demanda por shows aqui seriamente abalada, o grupo investiu nos mercado externo e conseguiu se estabelecer no mercado latino americano”, acrescentou.

Um dos aspectos fundamentais colocados por Pedro Só dizem respeito a ruptura no som voltado para o jovem no Brasil no começo dos anos 80, onde rádios, programas de TV, investimento de gravadoras, influenciaram para o preconceito de boa parte dos jovens contra o samba, ritmos nordestinos e a chamada MPB tradicional.

– Mas os Paralamas, assim como eu, tinham crescido sob influência disso. Mesmo fascinados por um mundo novo de referências (principalmente inglesas) do pós-punk, eles souberam usar a riqueza cultural brasileira em seu trabalho. Toda uma garotada que curtia punk e pós-punk, sons góticos e tecnopop, aprendeu com os Paralamas a gostar de Jackson do Pandeiro, a valorizar batucada, Zé Ramalho, os blocos afro da Bahia… Acho que, como jornalista e crítico, por onde eu passei, sempre fiz questão de trazer samba e música brasileira para espaços onde isso não era bem visto. No Jornal do Brasil mesmo, havia resistência da direção: não era bem visto eu entrevistar Luiz Carlos da Vila numa página de música da revista para adolescentes. Naquela época, quase não havia carnaval de rua na zona sul. Ao longo dos anos de trabalho, tive o prazer de ver, a partir da geração do mangue bit, uma pequena revolução na cultura jovem do brasileiro. Que no Rio desembocou no surgimento de Los Hermanos e de toda uma geração de talentos na fronteira da MPB com o rock, além da revitalização do carnaval com blocos heterodoxos como o Monobloco. A contribuição dos Paralamas foi imensa para isso. Como jornalista, acho que fiz minha modesta partezinha, tirando a Bizz de um gueto sectário do rock, e, com alguns textos e escolhas editoriais, influenciando colegas, futuros colegas e músicos e, lógico, muitos jovens – assegura.

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