Mídia em Xeque…

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gagaAo ver a foto de Lady Gaga vestindo um bíquini fio-dental e empunhando duas metralhadoras na nova edição da revista americana Rolling Stone, lançada nesta segunda-feira, me fez pensar e refletir sobre o figurino da artista mais bem-sucedida do pop atual. Em entrevista à revista, Lady Gaga mostrou-se nada modesta. “Tem dias que acordo me sentindo apenas uma garota insegura de 24 anos. Então digo para mim mesma: ‘vadia, você é a Lady Gaga, levante-se e siga em frente'”.

Parei, pensei e resolvi escrever. Realmente no palco contemporâneo, o espetáculo em cartaz é a vida. Os ingressos na bilheteria dão direito a entrar na intimidade dos atores, formar celebridades e idealizar heróis, mas a plateia não está satisfeita e quer ela mesma encenar o espetáculo. E na esquizofrenia de ser ao mesmo tempo personagem e espectadora, ela (plateia) tenta ler o letreiro em néon que anuncia o título da obra: realidade.

Para o professor, jornalista e crítico norte-americanoNeal Gabler, a tendência de converter a realidade em encenação é justificável, já que ‘a cultura produz quase todos os dias dados de fazer inveja a qualquer romancista.’ E a vida é o veículo.

Na novela da vida real, os personagens somos nós, como conclui a doutora em Comunicação, Ivana Bentes, ao analisar os reality shows  “Big Brother” e a “Casa dos Artistas”. Lá estão a empresária paulista, o artista plástico, a designer, o cabeleireiro, o dançarino de axé, a modelo, a socialite, o rapper irado, os marombeiros com visual estilizado de menino de rua, cara de mau e gorro enterrado na cabeça.

A música e o músico não fogem à regra. Tem o bêbado, o chato, o bizarro, o cult, o kitch, o prolixo, o senso comum, o exibido, o polêmico, o a nível de, o que se acha. Enfim, é uma categoria trabalhista que gosta mesmo é de tirar onda e ganhar dinheiro.

E a mídia se posiciona nesse contexto produzindo celebridades para poder realimentar-se delas a cada instante em um movimento cíclico e ininterrupto. Até os telejornais são pautados pelo biográfico e acabam competindo com os filmes, novelas e outras formas de entretenimento. E mesmo quando há assassinatos ou graves acidentes, o assunto principal é sempre a celebridade ou o candidato ao estrelato, que, inclusive, pode ser o próprio assassino ou um outro delinqüente qualquer.

A espetacularização da vida toma o lugar das tradicionais formas de entretenimento. Cada momento da biografia de um indivíduo é superdimensionado, transformado em capítulo e consumido como um filme. Não quero aqui questionar o valor artístico da Lady Gaga. Quem sou eu. O que incomoda é a apelação. O querer chamar atenção sem filtrar e usar o bom senso no que pode representar uma foto, ou um simples comentário, de quem forma opinião com a música que faz e tem uma legião de fãs em fase de formação, ou seja, ‘teenagers”.

No filme “O Náufrago”, o principal problema do personagem interpretado por Tom Hanks não era a fome ou o frio, mas a solidão. Para enfrentá-la, ele desenha dois olhos, um nariz e uma boca em uma bola de vôlei e a batiza com o nome de Sr. Wilson. Humanizada, a bola passa a ser a única companhia do personagem, mas ele a perde e entra em desespero. Alguma semelhança com uma “estória da vida real” ?

Será que em determinadas situações esse eu espetacularizado das celebridades, principalmente os (as) excêntricos(as), o(a) rebelde sem causa não incomoda a elas mesmas ? Eu ainda prefiro a vaidade, o chamar atenção dos jovens com irreverência, criticidade e por uma causa nobre. Isto é sinônimo de produtividade com coerência, lucidez e felicidade.

Sinto dor no coração quando percebo que a espetacularização da vida toma o lugar das tradicionais formas de entretenimento. Atenção jornalistas, escritores, produtores, dramaturgos, cineastas, publicitários, outros responsáveis pelo discurso midiático. Estamos em xeque. Se a vida é um show e a mídia é o palco, (nós) os roteiristas do espetáculo corremos o risco de nos tornar os bobos da corte.

Foto: G1 – A imagem foi clicada pelo fotógrafo Terry Richardson, conhecido por outros trabalhos ousados.

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